Aécio já assume que está no páreo com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Até outubro, ele acreditava na reeleição de Lula como um fato quase consumado, ficava lá e cá quando se tratava de fazer oposição e tratava a história de candidatura mais como um elogio pessoal, não uma realidade próxima.
As eleições municipais e episódios políticos subseqüentes mudaram as convicções de Aécio.“O cenário esperado para 2010 veio antes, vai acontecer em 2006”. Qual seja, a disputa com possibilidade real de vitória para a oposição.
Por isso mesmo, o governador de Minas alerta: o PSDB deve tomar muito cuidado para não errar no processo e na escolha do candidato. “Precisamos entrar preparados para ganhar, não apenas para competir”.
Apesar de enxergar luz ao longe para o tucanato, ele discorda dos mais afoitos quanto à premência da apresentação à opinião pública de um rosto capaz de encarnar o contraponto ao presidente Lula.
Além de não considerar urgente o lançamento de nomes, Aécio aconselha à oposição prudência no cumprimento da agenda eleitoral. “Pior que não ter um candidato agora é errar o nome e a hora da escolha”.
Na opinião de Aécio Neves, o nome do jogo no momento é “desconstrução”. Mostrar que o Governo não tem gerência, “está à deriva”, é incapaz de tomar medidas eficientes e de levar adiante um projeto eficaz para o Brasil.
Para ele, 2005 é o momento da imposição do desgaste ao adversário; a hora do lançamento da candidatura o governador localiza em alguma data entre o fim deste e o início do ano que vem.
Note bem o leitor que as assertividades às quais o sinuoso governador recentemente aderiu limitam-se à hipótese de vir a ser candidato e à oposição aberta ao Governo. Entre suas decisões não está o ataque direto à figura de Luiz Inácio da Silva, como pregam vários de seus correligionários, Fernando Henrique, inclusive.
Aécio vai preservar a relação. Acha que é perfeitamente possível fazer o discurso político com marcação cerrada nas deficiências do Governo e na comparação com “as eficiências” da gestão FH, sem a necessidade de pesar a mão no confronto com o presidente Lula.
“Não acho correto copiar a forma do PT de fazer oposição, soa artificial e desagrada ao nosso eleitorado”.
Argumenta, por exemplo, que o PSDB pode mostrar ao eleitorado um “time” de estrelas – modestamente, governadores incluídos – enquanto que o PT só tem Lula para exibir.
“Além disso, o conteúdo da campanha será inteiramente diferente do de 2002. Lá, disputamos contra uma esperança, os problemas do Governo eram comparados com uma utopia prometida. Agora, não: é proposta contra proposta, comparação de realidades objetivas e, nesse campo, seja pelo Governo de Fernando Henrique ou pelas atuais administrações do PSDB, nós ganhamos”.
Excesso de otimismo? Não, senso de oportunidade. “O Governo começou a se fragilizar quando deu menos atenção à produção de resultados do que à necessidade de empregar os amigos derrotados. Aí perdeu-se e nunca mais se encontrou”.
Fácil, Aécio não chega a dizer que as coisas serão. Apenas vão ser menos difíceis que o esperado.
Sim, mas da mesma forma que mudou para melhor do ponto de vista da oposição, o cenário pode voltar a favorecer o governo, pois não?
Possível é, mas na concepção do governador de Minas, muito pouco provável. “Da metade para o fim, a possibilidade de as coisas darem errado para os governos é sempre maior”.
A começar, na visão de Aécio, pelo desconforto dos aliados que precisam garantir suas sobrevivências políticas e afinam o faro para volver ao lado onde esteja mais bem delineada a expectativa do poder.
“Em matéria de fidelidade, a base do Governo é frágil e fluida”, diz, ponderando porém ser ainda muito cedo para a oposição sonhar com a adesão de determinado tipo de político cuja peculiaridade é sugar governos até o fim.
E, no fim, uma lembrança: a política não se resume a PT e PSDB. Há, por exemplo, o candidato Anthony Garotinho, do PMDB. Estariam os tucanos nutrindo a ilusão de que ele vá desistir, ou arquitetando contra ele armadilhas de percurso?
“De jeito nenhum, ainda mais que Garotinho tira votos é do Governo, não da oposição”. Mas, antes de tratar de candidatos outros, o governador prefere esperar setembro chegar.
É quando vence o prazo, um ano antes da eleição, das filiações partidárias. Até lá, tudo pode e, na opinião de Aécio Neves, muita coisa vai acontecer.
Tasso presidente
O governador mineiro considera a troca de comando no PSDB, prevista para outubro, como um marco para o lançamento da candidatura presidencial.
Antes disso, nem pensar.
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