Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Folha de S.Paulo - ELIANE CANTANHÊDE: Rápido no gatilho - 25/02/2005

BRASÍLIA - A primeira providência do novo presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), foi cumprir uma promessa de campanha: reuniu a Mesa e, juntos, decidiram rapidinho, sem delongas, aumentar o salário dos deputados (e deles próprios) de R$ 12,8 mil para R$ 21,5 mil. Ato contínuo, corre celeremente a lista de assinaturas entre os próprios deputados para transformar a matéria em urgente e aprová-la já na próxima semana, como quer Severino. Você achava que urgente era cuidar de indiozinho morrendo de fome em Mato Grosso, de freira, de sindicalistas e de ambientalista assassinados a tiros no Pará e no Rio, de sem-teto apanhando da polícia em Goiânia. Ledo engano, meu caro ou minha cara. Urgência mesmo é salário de deputado. E não só de federal, porque a medida tem efeito cascata. Aumentam-se os salários dos 513 deputados federais em Brasília e, automaticamente, muda o teto salarial dos cerca de 1.060 estaduais e de 51.750 vereadores de todo o país. Uma festa na família parlamentar. Se você preferir, pode chamar de orgia. Não pára por aí, porque o aumento de salários não vem sozinho. Vem acompanhado de aumentos também das verbas de gabinete -que, aliás, acabam de subir uma bolada não faz muito. Para ser precisa, em 2003. Se você está indignado, imagine como deve estar se sentindo o funcionário público, que engole goela abaixo a reforma da Previdência e até a contribuição de inativo. Os mesmos parlamentares que aumentam seus próprios salários são aqueles que garfaram as aposentadorias dos funcionários. Isso é igual a quê? Bem, nem tudo está perdido. Ninguém pode discordar, nem parlamentar, nem funcionário, nem aposentado: o Severino é homem de palavra. Prometeu, cumpriu. O "baixo clero" se lixa para a opinião pública. Ou seja, para você.

De Inocêncio Oliveira, anunciando uma auditoria nas contas da Câmara: "A hora é de austeridade". A gente bem que podia passar sem essa.

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