Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

With a song in my heart. Com Bill Evans ao piano.

By ArchIvo


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  • Publicadoem: Mon, Feb 14 2005 8:52 AM

Jornal O Globo - Arnaldo Bloch Condozélia

By ArchIvo

Arnaldo Bloch



arnaldo@oglobo.com.br


Condozélia

O“jogo dos sósias” é muito divertido. Seguinte: cada vez que você topar com um sujeito que é a cara de outro (de preferência gente célebre ou personagem histórico), procure mais semelhanças entre os dois, além do rosto. Podem ser semelhanças reais ou estapafúrdias. Vale homem parecido com mulher e vice-versa. E vale também brincar com as diferenças, com aquilo que é diametralmente oposto, e bate de frente com a semelhança.

Só como sugestão para quem quiser praticar, aí vão, de bandeja, algumas duplas clássicas: Tom Jobim = Luíza Erundina; Fernando Gabeira= Costanza Pascolatto; Carlos Heitor Cony = Martin Heidegger; Sérgio Sant'Anna = Arnaldo Antunes; e até um trio: José Saramago = Alberto Dines = Zuenir Ventura.

Lembrei-me do jogo dos sósias no dia em que percebi que a mulher da vez, a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, é os cornos de Zélia Cardoso de Mello no período trágico em que foi a czarina da economia brasileira, sob reinado de Fernando Collor de Mello.

Agência O Globo
Vamos começar pelas semelhanças ainda no terreno da aparência. Olhe as fotos e note o buraco entre os dentes, a “porteirinha”, o “mata-burros”, que elas compartilham, que os franceses e alguns afeitos a exotismo acham um charme, e pelo qual (buraquinho) Bernardo Cabral, Chico Anysio e Fernando Sabino (que, Deus o tenha, comparou-a a Madame Bovary) eram vidrados. O gosto por penteados altos e armados, os tailleurs, a fragilidade e pequeneza fazem delas quase gêmeas, não fosse o abismo entre a palidez espectral de Zélia e a afro-americanidade de Leezza.
Agência O Globo
No terreno dos fatos: ambas tiveram atuação destacada e de liderança no cenário político dos seus respectivos países. Ambas tornaram-se braços-direitos da autoridade maior das respectivas nações. E, em ambos os casos, as tais autoridades, Collor e Bush, fizeram caquinha e levaram seus países a situações de calamidade pública, embora em terrenos diferentes.
Nesta esfera, uma diferença fundamental é que Collor foi posto para fora, enquanto Bush foi posto, de novo, para dentro, mas, neste quesito, tudo é circunstancial: Condoleezza acaba de assumir a sua nova e maiúscula, se não masculina, posição. Merece um ano de carência para ver se ajuda a levar o patrão ao impeachment.

Vamos agora analisar os cérebros dessas duas mulheres magras e de peso. Condoleezza, apesar do trocadalho, não é lesa. E Zélia está longe de ser burra, como mostrou ao enganar dezenas de milhões de brasileiros como peça-chave no esquema collorido . Eu, quando a vi na televisão, com aquela cara de ET, anunciando o confisco da minha poupança, vivenciei o mesmo medo que sentira dos olhos arregalados de Collor. Putz! O Brasil era mesmo muito naifto (mistura de neófito com naïf, de autoria de Sidney Garambone, copyright Panelinha) pra entubar essa gangue do barulho!

Voltemos ao jogo dos sósias. Zélia e Leezza têm ares assim altivos, embora Zélia, filha da USP, seja mais nariz em pé que Leezza, produto de Stanford e de mais umas dez universidades.

De Condoleezza sabemos também que toca piano com cacoete de concertista (Chirac, em aparente cantada, convidou-a a tocar com a sinfônica), e pensou em seguir carreira antes de se dedicar à política. E Zélia?... bom, Zélia, singular como só ela, ama Chico Buarque, Caetano e Beatles, e é pé-de-bolero.

Vamos examinar a aura de nossas heroínas. Não são confiáveis. São? Acho que não. Há algo profundamente autoritário e violento por trás de tanta leveza, da aparente serenidade. Algo de que Bernardo Cabral e Chico (o Anysio, não o Buarque) devem ter gostado. Algo com que talvez Bush sonhe à noite, algo que um dia vá estourar no Salão Oval da Casa Branca, deixando Monica Lewinski corada de vergonha.

Se bem que corre um boato por aí de que Leezza não é muito chegada ao pólo hetero. Mas sempre é possível que Bush esteja à procura de um perfil alternativo para aplacar as suas destemperanças e aprender a ser multilateral num mundo tão deficitário do seu rude afeto.

Ih, caramba... as semelhanças não param! Alguém aí sabe onde Zélia mora? Bingo! Nos Estados Unidos! Aahahahahaha! Leva uma vida reservada em Nova York, onde pode ser confundida com qualquer pessoa normal desde que o pedestre não seja brasileiro e, sobretudo, que não tenha sido espoliado por ela.

Quem sabe Zélia e Leezza se encontram qualquer dia desses pra bater pernas em Manhattan?

  • Publicadoem: Mon, Feb 14 2005 8:48 AM

Folha de S.Paulo - Luiz Carlos Bresser-Pereira: Paz, afinal? - 14/02/2005

By ArchIvo

Paz, afinal?

LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA

Depois de uma longa queda, nas últimas duas semanas o dólar vem subindo em relação ao euro. Talvez essa seja uma tendência passageira e o dólar volte a cair, punindo a política fiscal irresponsável dos Estados Unidos nos últimos quatro anos. Embora a relação dólar-euro esteja hoje provavelmente próxima de sua posição de equilíbrio, a maioria dos economistas esperava um overshooting, ou seja, que a queda do dólar fosse além do ponto de equilíbrio, para depois se reequilibrar. Isso ainda poderá acontecer. Em qualquer das duas hipóteses, porém, o que parece claro é que a recente revalorização do dólar reflete uma clara distensão da política internacional, depois da posse do presidente George W. Bush em seu segundo mandato.
O discurso de posse, embora procurando justificar o imenso equívoco que representou a invasão do Iraque, foi afinal um discurso pacífico, ao invés de belicoso. Os Estados Unidos buscam transformar a democracia em um instrumento de dominação, sem perceber que a democracia é um bem desejado pelos povos, como demonstrou o povo do Iraque nas eleições ali realizadas. Mas a política de impor a democracia com a força das armas teve conseqüências desastrosas para os próprios Estados Unidos -e o reconhecimento desse fato parece transparecer nas ações do governo americano nestas últimas semanas.
A visita à Europa da nova secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, e seu discurso e declarações na França são bem uma indicação da mudança de política. Ela, que se alinhava entre os falcões no primeiro governo de George W. Bush, parece agora a chefe das pombas. Afirmou que o objetivo da política internacional americana continua sendo o de tornar a democracia vitoriosa no resto do mundo e pediu a colaboração da Europa nesse nobre intento. Mas deixou transparecer que o recurso à guerra vai ser colocado de lado, pelo menos por enquanto. Para difundir a democracia, o governo republicano preferiria estratégias como a propaganda e o apoio a grupos democráticos de oposição.
Por outro lado, no Oriente Médio, a grande notícia é a retomada das negociações de paz entre Israel e Palestina. E tudo indica que também nesse ponto a política americana gira em direção a uma linha mais razoável. Desde o fim da Guerra Fria, não faz sentido para os próprios Estados Unidos o apoio incondicional de seu governo a Israel. O que interessa é a paz na região; é a constituição de dois Estados que se respeitem mutuamente. Clinton compreendeu bem esse fato e fez o melhor dos seus esforços nesse sentido. Bush, no começo do seu governo, parecia dar continuidade a essa política, mas, obcecado por sua guerra ao Iraque, esqueceu-a. Agora, parece que retoma o caminho da racionalidade.
Nós sabemos que a política americana de espalhar a democracia é retórica. E que há um claro elemento imperialista nela. O que interessa aos Estados Unidos é manter um quadro internacional que lhes seja favorável. Se em um determinado país o regime autoritário for o mais favorável, não terá dúvida em apoiá-lo, como continua a fazê-lo em um grande número de ditaduras em todo o mundo. De qualquer forma, porém, apoiar a democracia por meios pacíficos é muito melhor do que procurar impô-la pela guerra.
Já escrevi nesta coluna que os EUA são um falso império, porque no século 21 não existe espaço para a imposição da vontade de um país pela força. Os Estados Unidos são, sem dúvida, o poder hegemônico, dotado do maior poder de pressão e de persuasão, mas, em um mundo em que a guerra não é aceitável a não ser em condições muito especiais, estão longe de possuir um poder incontrastável. Devem obedecer às regras do sistema global que se constituiu no mundo durante o século 20 e que se tornou dominante com o colapso da União Soviética.
O sistema global não é apenas econômico e tecnológico, não consiste apenas na globalização, mas é também um sistema jurídico e político em que os países têm pesos diferentes, mas devem agir de forma multilateral. O presidente Clinton sabia disso muito bem, jogava de acordo com as regras do jogo com rara competência. Por isso foi capaz de defender tão bem os interesses de seu país, em certos casos, com grave prejuízo para nós, como foi o caso da estratégia que pregou para os países em desenvolvimento de que deveríamos crescer recorrendo à poupança externa. Mas em qualquer hipótese ela cooperava assim para a segurança de todo o mundo.
No lado inverso, o presidente Bush revelou-se, nos primeiros quatro anos, um governante incompetente, incapaz de defender os reais interesses do seu país e a segurança do mundo. Com a invasão do Iraque, destruiu a aliança atlântica e perdeu a confiança de grande parte dos cidadãos no exterior. Com sua política fiscal e tributária populista, deu origem a um déficit público enorme que está pondo em risco a economia mundial.
Será que as últimas ações, inclusive sua promessa de reduzir o déficit público substancialmente nos próximos anos, indicam uma nova direção? Será que, afinal, não ousará invadir o Irã?
Como os mercados mundiais, estou otimista em relação a isso. Os Estados Unidos são um grande país, que normalmente sabe agir de acordo com seus interesses. Tanto a política internacional americana desses últimos quatro anos como a econômica não atenderam aos seus interesses. Se Bush foi reeleito, é porque o candidato democrático não tinha uma alternativa clara de saída do Iraque a oferecer a um povo que reagiu à agressão do 11 de Setembro de forma emocional e desproporcionada. Agora, porém, os americanos precisam encontrar um meio de sair dessa enrascada em que se meteram e, para isso, deverão voltar a buscar a paz e o entendimento entre as nações. E os demais países poderão voltar a cuidar de seus próprios interesses econômicos e a competir entre si nesse campo, ao mesmo tempo em que colaboram em outros, como é próprio do sistema global, ao invés de se preocuparem com a guerra.

  • Publicadoem: Mon, Feb 14 2005 8:38 AM

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