O pacote de socorro à Grécia ficou em US$ 146 bilhões, em três anos,
quase quatro vezes maior do que inicialmente calculado. Mas as dúvidas
que ficaram são tantas que em vez do alívio desejado continua trazendo
apreensão.
Prova disso é que, depois do anúncio oficial, os preços do euro
continuaram ladeira abaixo (veja gráfico). Só ontem perdeu 0,76% em
relação ao dólar, a menor cotação em mais de um ano.
A primeira dúvida: o povo grego aguenta o tranco que vem aí? Redução
de salários e aposentadorias, aumento de impostos, recessão e
provavelmente dolorosas reformas internas. Ou é isso aí ou é a
catástrofe, como ousou anunciar o primeiro-ministro da Grécia, George
Papandreou. Além disso, haverá notória perda de soberania. O FMI e os
demais países da área do euro passarão a determinar o que o governo
grego pode ou não pode fazer.
Dúvida número 2: trata-se, em grande parte, de solução do problema
grego com aumento do problema dos vizinhos. Um bom número de países da
área terá de aumentar sua dívida no mercado para dar cobertura ao
rombo de Atenas. Em boa medida, é o roto cuidando do rasgado.
Imagine-se Portugal, Irlanda, Itália e Espanha, que notoriamente não
vão bem das pernas, tendo que buscar recursos nos bancos para socorrer
a Grécia que já não consegue crédito bancário.
Outra dúvida consiste em saber como será neutralizado o chamado risco
moral. Fica definido que, em última análise, administrar
irresponsavelmente as finanças públicas não é tão grave porque o
socorro sempre acabará chegando. Quando um sócio deixa a austeridade
pra lá, são tantos os problemas que atingem a moeda comum que o mais
barato continua sendo socorrer quem pintou e bordou. A União Europeia
terá de ver se, com resgates assim, não está desestimulando a desejada
austeridade e a vida espartana.
Haverá para todos? Se a Grécia, que é um nanico econômico dentro da
área do euro (detém apenas 2,6% do PIB do bloco), está precisando de
US$ 146 bilhões, de quanto não precisarão Irlanda, Espanha e Itália,
se também vierem a ter de passar o chapéu?
Finalmente, a questão de fundo. Ficou claro que o euro tem pés de
barro e precisa de sustentação para não desmoronar. Falta uma
autoridade central com mandato para garantir unidade fiscal, de
maneira a impedir administrações irresponsáveis das finanças públicas
em cada país.
O retorno às moedas nacionais é impraticável. Elas voltariam
fortemente desvalorizadas, o que, por si só, implicaria aumento do
endividamento e a impossibilidade de contar com socorro dos demais
países do euro. E, enquanto essa fragilidade não for superada, não há
como pensar em fazer do euro uma moeda internacional de reserva de
valor.
Isso parece anunciar que não há volta à situação anterior. No entanto,
o euro está exigindo alguma forma de união política, que uniformize as
políticas macroeconômicas e imponha o cumprimento das regras do jogo
entre os membros da área. Mas, afinal, qual seria o preço?
Obviamente seria perda ainda maior de soberania. Mas, a rigor, não é o
que está acontecendo agora? Não está a Grécia perdendo soberania por
não ter cumprido regras primárias do jogo e mantido a disciplina
fiscal?
CONFIRA
Encolheu
Este é o mais baixo saldo comercial em 1º trimestre desde 2002. No
período, as exportações cresceram 25,0% e as importações, 41,8%. São
números consistentes com o aumento do consumo interno (de 10% ao ano).
Manufaturados
Os manufaturados vêm perdendo participação nas exportações. No 1º
trimestre de 2009 eram de 45,0% e, neste ano, de 42,5%. Três são as
causas: redução da demanda externa; redução do excedente exportável
por causa do maior consumo interno; e a queda do dólar.