Entrevista:O Estado inteligente

domingo, maio 02, 2010

É pegar ou largar Celso Ming

O Estado de S. Paulo - 02/05/2010



O aperto dos juros decidido quarta-feira pelo Copom está levantando as críticas tribais que sempre se fazem, sejam quais forem a decisão tomada e a dosagem adotada.


O Banco Central pode estar errado uma, duas ou mais vezes. Mas não pode estar sempre. Mal ou bem, cumpre a função de administrar o sistema de metas de inflação, que é, no Brasil, o critério adotado para definição da política monetária (política de juros).

No regime de câmbio flutuante e de relativa liberdade de fluxo de capitais não se conhece sistema melhor. É mais eficiente e mais moderno do que o sistema de controle dos agregados monetários anteriormente adotado.

Qualquer política de controle inflacionário lida com um fator muito delicado, que é o da expectativa de inflação. Se os marcadores de preços não estão convencidos de que a autoridade controla o volume de moeda na economia e se, ao mesmo tempo, não confiam no trabalho do banco central, a inflação tende a descarrilar. Essa é tarefa em que o banco central não pode vacilar.

No Brasil, é o governo federal, por meio do Conselho Monetário Nacional, que decide qual a inflação a ser tolerada no ano. E o Banco Central é a instituição que cuida de ajustar a economia (o que implica definir o tamanho dos juros) de maneira a garantir a meta estabelecida.

É regra de jogo que exige de toda economia uma atitude radical. É pegar ou largar. Como avisa o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, o sistema de metas é ou não é. Não há sistema parcial de metas, como não há meia gravidez. Às vezes, aparece gente que pede certa flexibilização que, na prática, consiste em aceitar uma inflaçãozinha a mais, como se esse extra não tivesse nenhuma consequência sobre a arrumação.

Num primeiro momento, pode não ter. No entanto, o jogo mais importante se passa na cabeça dos formadores de preço. Se eles se convencem de que o Banco Central está afrouxando, lá vem remarcação em cima de remarcação e a inflação tende a levantar voo. Se, ao contrário, veem que o Banco Central mantém o controle, sabem que serão punidos com encalhe de mercadoria se ousarem remarcar demais.

Isso não significa que o sistema de metas não dê lugar a manejos diferenciados. Há três maneiras de conduzi-lo. A primeira é a do Fed (o banco central americano) que trabalha com uma meta de inflação de 2% ao ano. No entanto, o ponto de referência não é propriamente a inflação cheia, mas o núcleo dela (core inflation). Ou seja, da inflação cheia expurgam-se as variações mais ou menos aleatórias de preços que não têm relação com o volume de dinheiro na economia, mas se devem a fatores diversos (choque de oferta, alta de commodities, clima adverso, etc.).

A segunda maneira de trabalhar é a que estabelece a meta de inflação no período móvel de 12 meses, que não tem a ver com o ano-calendário. É como funciona no Reino Unido cujo banco central persegue a meta em determinado prazo e depois trata de mantê-la. Eventuais desvios são corrigidos ao longo do curso.

A terceira modalidade é a do Brasil, em que a meta deve ser atingida dentro do ano-calendário. Como nem sempre é possível segurar a inflação na mosca do alvo, a meta anual comporta desvios tanto para cima como para baixo, que, aqui, são de 2 pontos porcentuais.

Enquanto não aparecer cão melhor, é preciso caçar inflação com esse aí. Goste-se dele ou não.

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