O Estado de S. Paulo - 11/05/2010 |
As bolsas estão de vento em popa. Saltam como macacos num coqueiro. A de Madri atingiu os 14,43%. Paris registrou alta de 9,66%. Atenas, detonadora da crise, está eufórica. O euro se recuperou, e é cotado a US$ 1,30. O Dow Jones, da Bolsa de Nova York, ganhou 3,9%. Domingo ainda, a Europa sufocava. Ontem, voltou a respirar a plenos pulmões. Relaxada, mais rechonchuda e corada. O fundo de 750 bilhões que os ministros europeus das Finanças anunciaram às três e meia da manhã, depois de uma noite de muito palavreado, disputas e apartes, apagou o incêndio que estava prestes a calcinar a zona do euro, a União Europeia (UE) e uma parte do mundo. Aleluia! Devemos, então, concluir que o pior já passou? Com certeza não. É preciso observar, em primeiro lugar, que a Europa perdeu dois meses em discussões e que ela só se mexeu quando viu o abismo no qual estava a ponto de se lançar. E vale lembrar também que o presidente americano, Barack Obama, precisou usar o seu telefone, ontem, para "dar um empurrão". Mas, enfim, o objetivo foi alcançada: um imenso volume de dólares está pronto para ser utilizado. O que tranquiliza a Europa (a Europa inteira e não apenas a Grécia, cujo caso já foi tratado nos dias anteriores). Essa calma será durável? Há riscos. Primeiro, o anúncio da criação desse fundo colossal para apoiar os europeus em má situação, confirma indiretamente que outros países europeus poderão em breve ficar "no olho do furacão" (Portugal, Espanha, talvez a Irlanda e mesmo a França). Essa confirmação interessa aos especuladores. Eles podem preparar seus facões para trucidar as próximas vítimas. (No caso dos especuladores, nesta segunda feira mesmo, ainda puderam embolsar alguns pequenos lingotes pois, se apostaram na alta das bolsas, a euforia dos mercados os terá levado ao paraíso). Uma segunda questão: esses 750 bilhões, dos quais 500 bilhões serão fornecidos pela própria zona do euro, onde serão obtidos? Como sempre, por meio de empréstimos. Uma total incoerência. Sufoco. A Europa, e especialmente os países da zona do euro, estão sufocados porque estão excessivamente endividados. Ora, o remédio consiste em aumentar a dívida, por meio de empréstimos. Claramente, há um buraco e, para fechá-lo, é preciso cavar um outro. O que comove, apesar de tudo, é que a Europa, de repente, reencontrou os reflexos que parecia ter perdido: a solidariedade e a unidade. Enquanto há dois meses cada capital só se preocupava com seus problemas, e as reações eram contraditórias, eis que bruscamente, a aproximação do caos total estreitou maravilhosamente os laços entre os 27 membros. Com algumas exceções. Primeiramente a Inglaterra. Que se recusou a participar do salvamento do euro. É compreensível. O país está em crise. O primeiro-ministro Gordon Brown não poderia se comprometer em nome do próximo "premiê". Mas, além desses pretextos, os velhos reflexos isolacionistas de Londres influíram muito. E serão ainda mais fortes se David Cameron, um eurocético convencido, assumir a função de primeiro- ministro, como se espera. Ora, a Inglaterra, na Europa, não é um pequeno país. E outro peso-pesado? A Alemanha. Seguramente, depois de domingo, a chanceler Angela Merkel grita de alegria: a Grécia foi salva, o euro também. E de fato, a chanceler alemã, junto como presidente francês, Nicolas Sarkozy, teve um papel fundamental na aprovação desse plano de apoio de 750 bilhões. Contudo, não devemos esquecer que, há um mês, Merkel recusava-se a apoiar a Grécia, um país do "Clube Med", que não é sério e prefere mais fazer a sesta do que equilibrar seu orçamento. Por que Angela Merkel agia assim contra a Grécia, contra a Europa? Porque sabia que enfrentaria uma prova interna difícil: no Estado da Renânia do Norte Westfalia houve eleições no domingo e o seu partido, União Democrática do Centro CDU, pelas iniciais em inglês) foi vencido, o que lhe tira a maioria na Câmara Alta. Esse comprometimento da chanceler com a Europa não foi estranho a esse revés eleitoral. Ou seja, os alemães enviaram a ela um aviso: a Europa, sim, mas não se esqueça da Alemanha. E avaliamos o quanto a Europa sai enfraquecida desses dois meses de drama grego. Um dos maiores países do continente, a Inglaterra, pende para os eurocéticos. E a Alemanha que, junto com a França, foi fundadora da União Europeia, guarda distância de Paris e modera seus entusiasmos europeus. Vale acrescentar que nos limitamos a tentar tapar os buracos abertos no casco do navio Europa. Jogamos algunas baldes d"água para apagar o incêndio das suas máquinas. Mas nada foi planejado para repensar esse velho barco desintegrado, mudar as velas de lugar, dar a ele um verdadeiro leme e restabelecer a disciplina da sua tripulação. Conclusão : a Europa foi salva neste fim de semana. Mas de que maneira e por quanto tempo? / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO GILLES LAPOUGE É CORRESPONDENTE EM PARIS |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, maio 11, 2010
Alívio. Até quando? GILLES LAPOUGE
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