O Globo |
18/9/2008 |
As pesquisas eleitorais, que aqui nos Estados Unidos são realizadas às dezenas e praticamente todos os dias, geralmente por telefone, poderiam ser questionadas pelos padrões brasileiros, muito mais rigorosos, mas na verdade servem para indicar a tendência do eleitorado, mesmo que a margem de erro seja quase sempre maior que três pontos percentuais. Em uma eleição apertada como essa, em que as variações são mínimas, elas servem para medir a temperatura da campanha, mais do que para apontar um presumível vencedor. É assim que ontem havia pesquisa mostrando Obama novamente na frente, com dois pontos percentuais sobre McCain, como havia outras mostrando o republicano na frente, também dentro da margem de erro. A conclusão é que não se pode dizer hoje quem vencerá a eleição, que promete ser tão apertada quanto a de 2000. A eleição presidencial deste ano tem ingredientes únicos, que dão à campanha um toque dramático que há muito não se via. É a primeira vez que um candidato negro tem chances reais de chegar à Presidência da República, e a disputa eleitoral se dá em meio a uma crise econômica sem precedentes. Por isso, mais que as qualidades pessoais de cada candidato, está em disputa a capacidade de inspirar confiança no eleitorado assustado com o futuro. Os "swing states", isto é, os estados que não são historicamente republicanos ou democratas e que podem mudar de voto a cada eleição, são, nesse clima de equilíbrio, os definidores da eleição. Como no sistema eleitoral americano o candidato que vence no voto popular leva todos os votos dos delegados correspondentes àquele estado, já há indicações de que McCain lidera no voto popular, mas Obama tem mais delegados, justamente o contrário do que aconteceu na eleição polêmica de 2000, quando George W. Bush venceu com menos votos populares que Al Gore. Há uma característica interessante na atual campanha: a maioria do eleitorado prefere o Partido Democrata, provavelmente repudiando os oito anos de governo republicano que levou o país à bancarrota econômica e à guerra. Mas, o candidato republicano McCain conseguiu superar essa rejeição partidária, e surge como o preferido dos eleitores em diversos pontos, como o mais bem preparado para lidar com a crise econômica ou política externa, e o melhor "comandante-em-chefe" para o momento do país. No início da campanha, o sentimento de que os democratas seriam a solução para o país estava combinado com a empolgação pelo que representava de novo a candidatura de Barack Obama. Hoje, esse sentimento ainda existe, mas está bastante desgastado, enquanto McCain está conseguindo, mesmo à custa de uma campanha que pode ser considerada agressiva e muitas vezes distorce a verdade, distanciar-se do Partido Republicano e se colocar como um agente de mudanças mais confiável do que Obama. Desde que se dispôs a assumir o papel de ser o candidato da mudança em Washington e agora em Wall Street, mesmo que esse papel não corresponda a seu histórico político, McCain tem conseguido apaziguar um eleitor que quer mudança, mas teme a inexperiência de Obama. Ou, por outra leitura, teme eleger um presidente negro. Ou acha que é muita novidade junta, o primeiro presidente afro-descendente e ainda por cima inexperiente. O candidato democrata está trabalhando firme nos estados que podem mudar seus votos para reverter um quadro que, no momento, o favorece mais devido ao seu partido do que a seus predicados - ao contrário do que acontecia meses atrás. Os quatro grandes estados considerados estratégicos para uma vitória são os alvos das duas campanhas. Ohio e Flórida, onde Bush venceu em 2004, e Pensilvânia e Michigan, onde venceu o candidato democrata John Kerry, são exemplos típicos de estados que têm que ser mantidos pelas duas candidaturas. Perder em um deles pode significar a derrota final. Exemplos de estados importantes e a mudança de votos nos últimas eleições: New Hampshire (Bush em 2000, Kerry em 2004 e até o momento Obama); Colorado (Bush em 2000 e 2004 e até o momento Obama); Novo México (empate em 2000, Bush em 2004 e até o momento Obama); Ohio (Bush venceu por menos de 1% e hoje há pesquisas mostrando Obama liderando por dois pontos e outras colocando McCain à frente por 3 pontos); Flórida, onde Bush venceu em 2004 e hoje o jogo está literalmente empatado, como em 2000, quando a eleição foi decidida pela recontagem de votos lá. Em alguns estados, quando os candidatos "nanicos" são incluídos, a disputa apertada pode mudar o vencedor. O independente Ralph Nader, o libertário Bob Barr e a candidata verde Cynthia McKinney, juntos, têm um total de 7% dos votos em Indiana, 6% em Ohio e 5% na Carolina do Norte. Pelas contas da CNN, Obama teria hoje 233 delegados e McCain teria 189, enquanto 116 votos ainda estariam em disputa. Já o site Politico.com dá um resultado mais apertado, com Obama tendo 153 delegados e McCain, 139. Incluindo os votos indecisos, Obama acabaria sendo eleito com 273 votos, apenas três a mais do que o necessário, e McCain teria 265 delegados, cinco a menos. A não ser que algum tropeço mude o ritmo da campanha, ou que alguma revelação faça os eleitores desacreditarem de um dos candidatos favoritos, os debates que começam na sexta-feira, dia 26, poderão definir a posição dos eleitores. |
Entrevista:O Estado inteligente
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