Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, setembro 26, 2008

Dia D Celso Ming

celso.ming@grupoestado.com.br


Por falta de opção, ou de tempo, parece alta a probabilidade de que seja aprovado o pacote salvador do secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson - apesar das incertezas que ainda pairavam sobre um acordo ontem à noite.

É parte do jogo político o argumento de que o céu virá abaixo segunda-feira, na reabertura do mercado financeiro, se até lá o plano não for aprovado. Pode parecer jeito terrorista de convencimento. Mas é isso; trata-se de massada de alto teor explosivo com a qual não se pode brincar.

No que puderem, os congressistas meterão a colher deles no caldeirão, mas isso é tudo o que farão. Algumas propostas recorrentes entre os políticos e, por isso, bastante comentadas, ou são de difícil execução ou pouco significativas do ponto de vista da eficácia pretendida.

Por exemplo, a idéia de que o Tesouro não deva resgatar títulos podres, mas comprar ações de bancos para que eles se capitalizem e, ao mesmo tempo, o contribuinte possa ter um ressarcimento futuro com a intervenção, esbarra em ao menos dois obstáculos. O primeiro é a impossibilidade de saber a que preço subscrever essas ações, supostamente preferenciais (sem direito a voto), para que, lá na frente, quando forem revendidas, proporcionem bom retorno ao contribuinte.

O segundo obstáculo é o de que um montão de títulos a serem resgatados não está em poder de bancos, mas nos fundos ou em carteiras que não emitem ações próprias.

Uma das providências reivindicadas por enxurradas de mensagens aos políticos é a de que os executivos dos bancos, que tanto se refestelaram de benesses para afinal aprontar essa encrenca toda, sejam punidos com cortes dos bônus por desempenho e, até mesmo, de salários. Seria uma bela oportunidade para dizer "bem-feito!". Mas não passaria de vingança com pouco efeito prático, tendo em vista o objetivo mais importante que é sanear a economia.

A provável aprovação do pacote não resolveria tudo. Problemas de fundo continuarão sem solução e o próprio tratamento pode provocar efeitos colaterais.

No seu apelo de quarta-feira na TV, o presidente Bush avisou que a não aprovação do pacote atiraria a economia em uma "dolorosa recessão". Desde logo, é bom ter em conta que, se funcionar, a recompra de títulos podres pelo Tesouro desbloqueará certos canais de crédito, mas não necessariamente evitará a recessão.

As emissões de títulos devem aumentar a dívida americana em ao menos 20%. Além de ter potencial para criar novas desconfianças sobre o desempenho futuro das finanças públicas, esse é um fator que, por si só, tende a puxar os juros de longo prazo para cima e, nessas condições, produzir recessão. De mais a mais, o presidente do Federal Reserve (banco central), Ben Bernanke, avisou que, tão logo se apague o incêndio, vem aí nova temporada de alta do juro, o que também ajudará a frear a produção.

No mais, a economia americana continuará com suas mazelas. Ainda não há remédio para os enormes déficits gêmeos (o orçamentário e o das contas externas); para a doença que leva à grande propensão a não poupar e a consumir; e para a perda de competitividade da indústria.

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