Longe do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a vocação para o exercício do mau agouro, ainda mais quando se trata do próprio partido. Mas, no ritmo corrente, ele não descarta a hipótese de os tucanos virem a ter uma ingrata surpresa em 2010.
Se não tomarem jeito com urgência, seus correligionários correm o risco de perder a chance de voltar ao Palácio do Planalto e ainda vão deixar para o presidente Luiz Inácio da Silva o título de campeão no balanço de derrotas e vitórias nacionais entre PT e PSDB.
Em embates diretos, o placar registra duas vitórias para cada um. Lula perdeu duas (1994/ 1998), ganhou as duas seguintes (2202/2006) e, dentro de mais 24 meses, ambos os partidos jogarão pelo desempate, valendo a taça do tri.
No jogo de poder a alegoria não tem a menor importância. Inclusive porque, se for para contabilizar perdas e ganhos desde o reinício dos tempos democráticos, Lula estaria no vermelho.
E, como se sabe, está tudo azul para o lado do presidente. Tão azul que seu antecessor, presidente de honra do PSDB e há oito anos dublê de grilo falante e mensageiro de alertas solenemente ignorados pelo partido, anda sinceramente preocupado.
Ainda crê no favoritismo dos tucanos para a eleição presidencial de 2010, mas não menospreza a capacidade do adversário em solapar a dianteira. Muito menos é indiferente à inaptidão de seus aliados para administrar a vantagem, terminando por entregá-la a Lula de bandeja.
Por exemplo, Fernando Henrique já detectou o potencial destrutivo do charivari entre os tucanos por causa da eleição para a Prefeitura de São Paulo. Há tempos ele avisa que, desunido, o partido não sobe de novo a rampa do Planalto. No máximo, chega à beira do abismo e dali ao passo à frente é só uma questão de método.
Não foi ouvido, como de resto seguiu pregando no deserto quando, na quinta-feira, resolveu alertar mais uma vez pedindo que Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab parem com as agressões mútuas.
"Em política, se você não enxerga mais longe, se não vê a estratégica, se olha só o imediato, você perde", disse em tese a propósito do segundo turno da eleição municipal, mas, na prática, alertou seus navegantes sobre os obstáculos que produzem para uma trajetória satisfatória rumo a 2010.
FH, na realidade, não está explodindo em cataporas lilases por causa do resultado local. Se o tucanato ganhar do PT, com o PSDB ou com o DEM, muitíssimo melhor. Se perder, haverá tempo e condimentos para preparar uma limonada.
O susto pode ter o efeito pedagógico de mostrar aos guerreiros como se desviar do caminho do infortúnio e pode também transferir a guerra para o campo do adversário, uma vez que, eleita prefeita, Marta Suplicy pode até não assumir, mas seus aliados em São Paulo já estão a postos para brigar com Dilma Rousseff pela primazia da legenda do PT na eleição presidencial.
Sob um argumento prosaico: capital eleitoral. Na ministra, uma presunção; na prefeita, uma constatação.
A preocupação é com a conduta do PSDB ao fim do certame atual, início do próximo, este sim, fundamental.
A unidade, FH rebate na tecla, é o pré-requisito básico. Por isso, está entre os articuladores da chapa José Serra presidente, Aécio Neves vice. Garantidos a maioria dos votos em São Paulo e Minas Gerais, acredita, o resto do País vai atrás.
Só que não basta juntar os dois governadores dos maiores colégios eleitorais do País. É preciso, na visão de Fernando Henrique, que comecem a falar à sociedade, de preferência de forma a marcar a diferença em relação ao adversário.
Não significa fazer de Lula o Judas. Além de mau negócio eleitoral, o PSDB precisa aprender a falar bem de si antes de se dar ao desfrute de desconstruir a imagem do alheio. Na opinião do ex-presidente, é uma tarefa para ser executada menos com palavras e mais com atitudes.
Cita um exemplo: "As manifestações populares de apreço a Ruth foram produto de uma identificação com a conduta correta, a imagem limpa, o retrato de uma pessoa ética", diz, enquanto o interlocutor torce para que as lágrimas continuem contidas e não atrapalhem o esforço de superação pela viuvez recente.
O segredo, na opinião dele, é atitude contrastante. Qualquer contraponto seria bem visto. Do elitismo ao populismo, que seja. "Melhor uma imagem de elite que imagem nenhuma."
É isso. Fernando Henrique não diz assim, dá a impressão de que, mediante alguma resistência, acabaria assinando embaixo de algum escrito qualificando o PSDB como um partido com cara de nada. Ou de forma mais fina, sem feições definidas.
Na sua análise, a necessária arrumação vai além da forma. Urge alcançar o conteúdo.
Dar uma reduzida na soberba, uma turbinada na indolência e parar de confiar excessivamente na dianteira nas pesquisas: "Isso mostra um quadro atual de vantagem, mas é preciso interpretar as variantes e, sobretudo, não perder de vista que pontos ganhos precisam de cultivo ou se perdem com muita facilidade".
Se não tomarem jeito com urgência, seus correligionários correm o risco de perder a chance de voltar ao Palácio do Planalto e ainda vão deixar para o presidente Luiz Inácio da Silva o título de campeão no balanço de derrotas e vitórias nacionais entre PT e PSDB.
Em embates diretos, o placar registra duas vitórias para cada um. Lula perdeu duas (1994/ 1998), ganhou as duas seguintes (2202/2006) e, dentro de mais 24 meses, ambos os partidos jogarão pelo desempate, valendo a taça do tri.
No jogo de poder a alegoria não tem a menor importância. Inclusive porque, se for para contabilizar perdas e ganhos desde o reinício dos tempos democráticos, Lula estaria no vermelho.
E, como se sabe, está tudo azul para o lado do presidente. Tão azul que seu antecessor, presidente de honra do PSDB e há oito anos dublê de grilo falante e mensageiro de alertas solenemente ignorados pelo partido, anda sinceramente preocupado.
Ainda crê no favoritismo dos tucanos para a eleição presidencial de 2010, mas não menospreza a capacidade do adversário em solapar a dianteira. Muito menos é indiferente à inaptidão de seus aliados para administrar a vantagem, terminando por entregá-la a Lula de bandeja.
Por exemplo, Fernando Henrique já detectou o potencial destrutivo do charivari entre os tucanos por causa da eleição para a Prefeitura de São Paulo. Há tempos ele avisa que, desunido, o partido não sobe de novo a rampa do Planalto. No máximo, chega à beira do abismo e dali ao passo à frente é só uma questão de método.
Não foi ouvido, como de resto seguiu pregando no deserto quando, na quinta-feira, resolveu alertar mais uma vez pedindo que Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab parem com as agressões mútuas.
"Em política, se você não enxerga mais longe, se não vê a estratégica, se olha só o imediato, você perde", disse em tese a propósito do segundo turno da eleição municipal, mas, na prática, alertou seus navegantes sobre os obstáculos que produzem para uma trajetória satisfatória rumo a 2010.
FH, na realidade, não está explodindo em cataporas lilases por causa do resultado local. Se o tucanato ganhar do PT, com o PSDB ou com o DEM, muitíssimo melhor. Se perder, haverá tempo e condimentos para preparar uma limonada.
O susto pode ter o efeito pedagógico de mostrar aos guerreiros como se desviar do caminho do infortúnio e pode também transferir a guerra para o campo do adversário, uma vez que, eleita prefeita, Marta Suplicy pode até não assumir, mas seus aliados em São Paulo já estão a postos para brigar com Dilma Rousseff pela primazia da legenda do PT na eleição presidencial.
Sob um argumento prosaico: capital eleitoral. Na ministra, uma presunção; na prefeita, uma constatação.
A preocupação é com a conduta do PSDB ao fim do certame atual, início do próximo, este sim, fundamental.
A unidade, FH rebate na tecla, é o pré-requisito básico. Por isso, está entre os articuladores da chapa José Serra presidente, Aécio Neves vice. Garantidos a maioria dos votos em São Paulo e Minas Gerais, acredita, o resto do País vai atrás.
Só que não basta juntar os dois governadores dos maiores colégios eleitorais do País. É preciso, na visão de Fernando Henrique, que comecem a falar à sociedade, de preferência de forma a marcar a diferença em relação ao adversário.
Não significa fazer de Lula o Judas. Além de mau negócio eleitoral, o PSDB precisa aprender a falar bem de si antes de se dar ao desfrute de desconstruir a imagem do alheio. Na opinião do ex-presidente, é uma tarefa para ser executada menos com palavras e mais com atitudes.
Cita um exemplo: "As manifestações populares de apreço a Ruth foram produto de uma identificação com a conduta correta, a imagem limpa, o retrato de uma pessoa ética", diz, enquanto o interlocutor torce para que as lágrimas continuem contidas e não atrapalhem o esforço de superação pela viuvez recente.
O segredo, na opinião dele, é atitude contrastante. Qualquer contraponto seria bem visto. Do elitismo ao populismo, que seja. "Melhor uma imagem de elite que imagem nenhuma."
É isso. Fernando Henrique não diz assim, dá a impressão de que, mediante alguma resistência, acabaria assinando embaixo de algum escrito qualificando o PSDB como um partido com cara de nada. Ou de forma mais fina, sem feições definidas.
Na sua análise, a necessária arrumação vai além da forma. Urge alcançar o conteúdo.
Dar uma reduzida na soberba, uma turbinada na indolência e parar de confiar excessivamente na dianteira nas pesquisas: "Isso mostra um quadro atual de vantagem, mas é preciso interpretar as variantes e, sobretudo, não perder de vista que pontos ganhos precisam de cultivo ou se perdem com muita facilidade".