30/9/2008 |
Os mercados financeiros de todo o mundo foram surpreendidos ontem à tarde por uma notícia vinda de Washington, no campo político: reunidos para votar o pacote de US$700 bilhões para resgate de títulos micados que já emperram o sistema de crédito em escala mundial, negociado no fim de semana pelo governo Bush com líderes dos partidos Republicano e Democrata - inclusive com os candidatos que vão disputar as eleições presidenciais em novembro -, os deputados federais americanos resolveram rejeitá-lo por 228 a 205 votos. Inclusive com o reforço de 133 republicanos, que, assim, atiraram no pé do próprio governo, muito por causa da letal coincidência de um presidente impopular, fraco, em final de mandato, com uma crise de extrema gravidade. A reação inicial foi de total perplexidade, e, diante do vazio que se formou com a rejeição do pacote, os mercados vieram abaixo: Wall Street fechou com menos 777,6 pontos no índice Dow Jones, ou 7%, a maior queda da História em números absolutos, em um único dia; a Bovespa retrocedeu 9,3%, tendo chegado a cair 13,2%, e assim por diante. Não se previa algo diferente para a reabertura dos mercados asiáticos, ainda ontem à noite. Em face do desenrolar da campanha presidencial, os congressistas americanos estariam refletindo o descontentamento dos seus eleitores com o uso de recursos públicos para socorrer instituições que se tornaram vulneráveis porque assumiram riscos demasiados? É provável que parte da explicação para a rejeição do pacote seja esta. No entanto, como se trata de uma situação realmente grave, algo terá de ser feito no curtíssimo prazo para se estancar a crise de confiança que abala as estruturas do sistema financeiro americano, entrelaçadas com as da chamada economia real, e com o exterior. Até que tais estruturas se recomponham, a economia mundial terá de conviver com um ambiente de restrições ao crédito porque as fontes de financiamento estarão envolvidas com a solução de seus próprios problemas. Assim, setores mais dependentes do crédito precisarão reformular seus planos de negócios no curto prazo, enquanto aguardam uma normalização dos fluxos de capitais. O Brasil, como qualquer outra nação do planeta, não está imune aos efeitos de uma crise nessas dimensões, e os mercados financeiros aqui têm refletido isso. Mas há atenuantes: as empresas brasileiras estão bem capitalizadas e a maior parte de seus compromissos financeiros é em reais, com raras exceções. O panorama no setor público poderia ser melhor não fossem os gastos em custeio. Mas as contas estão sob controle, superávits primários têm sido acumulados, e há reservas externas (hoje, superiores a US$200 bilhões), o que levou as agências classificadores de risco a promoverem o país para o conceito de grau de investimento. Desse modo, o real não é mais um alvo fácil de ataques especulativos. Do câmbio já não se esperam desequilíbrios capazes de detonar uma crise interna como as que ocorreram anos atrás. Para que a economia brasileira consiga de fato atravessar sem maiores arranhões este período de instabilidade é importante que neste momento não se abra qualquer flanco. Nesse sentido, para os meses que se seguem é fundamental que as contas públicas se mantenham equilibradas, o que significa que o superávit primário deve permanecer acima de 5% do Produto Interno Bruto (do lado das despesas, os gastos correntes precisam ser contidos para não se prejudicar os investimentos). O presidente Lula tem dado declarações otimistas sobre o comportamento da economia brasileira na crise. Não se poderia esperar outra coisa. Mas é preciso haver em Brasília consciência efetiva da gravidade do problema. |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, setembro 30, 2008
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