29/9/2008 |
A crise financeira que varre o mundo não deixará o Brasil incólume. O esforço de autoridades em tentar dizer o contrário é um desserviço ao país. As declarações causam uma sensação de segurança que não se reflete na realidade. Basta ver a seqüência de fatos que desmentiu os anúncios oficiais dos últimos dias. E o país, que poderia ser mobilizado para se preparar para um novo cenário, é instado a permanecer inerte. Durante a recente viagem a Nova York, para discursar na abertura da 63ª Assembléia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Lula afirmou: “Não há sinais de que a crise financeira global chegou ao Brasil”. Em outro momento, chegou a brincar, ao ser questionado sobre os desdobramentos da instabilidade, sugerindo que os jornalistas dirigissem a pergunta “a (George W.) Bush”. Além de servir de inspiração a chargistas de jornais, a declaração não teve maior conseqüência para melhorar as proteções à economia brasileira. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, seguiu a mesma toada. Durante viagem aos Estados Unidos para tomar pulso da intensidade da crise, disse que a escassez de crédito verificada em alguns mercados mundiais era em dólar e, portanto, não afetaria o real. Precipitado o otimismo de Lula e Meirelles. Poucos dias depois o BC teve que começar a agir. A redução do compulsório para os bancos e empresas de leasing permitiu que R$ 13 bilhões continuassem no mercado financeiro nacional. A medida se fez necessária para aumentar a liquidez, que dava claros sinais de secar. Ou seja, faltava dinheiro para ser emprestado entre os bancos ou, se existia, estava proibitivamente caro. Portanto, a escassez de recursos chegou sim ao país. Na sexta-feira, empresas brasileiras de grande porte e atuação intensa no comércio internacional anunciaram perdas de centenas de milhões de reais em aplicações financeiras em títulos vinculados ao mercado norte-americano. À parte a discussão sobre a opção pelo risco, o fato é que perderam capital que poderia se tornar, no momento adequado, investimento produtivo, com geração de emprego e renda. Há, ainda, a sombra da redução da atividade econômica pelo planeta, como indica a desaceleração nos Estados Unidos, Japão e Europa. Além disso, na pujante China crescem indicadores de uma brusca acomodação. São mercados importantes para as exportações brasileiras — se caírem, cairão as vendas nacionais. Brandidos como escudo contra a crise, os US$ 207 bilhões de reservas são necessários, mas não suficientes para blindar o país. Tanto que os economistas já recalculam, para baixo, a expectativa de crescimento do PIB em 2009, que poderia descer de 5,5% este ano para menos de 3%. |
Entrevista:O Estado inteligente
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segunda-feira, setembro 29, 2008
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