Entrevista:O Estado inteligente

sábado, maio 05, 2007

Os mercenários do MR-8 fazem ameaça

Um perigo chamado MR-8

Terrorista na ditadura, terrorista na democracia,
o grupelho agora incita a morte de jornalista

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A NOTA COVARDE
Edição do dia 27 de abril do panfleto Hora do Povo: na primeira página, o veículo de propaganda do MR-8 ameaça o colunista de VEJA Diogo Mainardi

No último dia 27 de abril, o jornal Hora do Povo, panfleto de propaganda de um grupelho intitulado Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), usou sua primeira página para incitar a morte de um jornalista. O alvo da ameaça foi Diogo Mainardi, colunista de VEJA. O pretexto para o ataque foi um artigo do colunista que fazia referência a Eduardo Leite, o Bacuri, militante da antiga Ação Libertadora Nacional (ALN), assassinado em 1970 quando era prisioneiro das forças de repressão da ditadura militar. O artigo de Mainardi contava que parte da imprensa, na ocasião com estreitas ligações com o regime, soube com antecedência que Bacuri seria assassinado. Mainardi comparava o caso a uma sentença que o punia antes mesmo de ser apresentada sua defesa em uma disputa judicial com Franklin Martins, ministro da Secretaria de Comunicação Social do governo federal (Secom) e ex-militante da organização, da qual se desligou há 25 anos. O juiz Sergio Wajzenberg condenou-o, em primeira instância, a indenizar o ministro em 30.000 reais. A sentença, porém, havia sido antecipada por um jornalista da Folha Online.

O MR-8 e a ALN foram duas das organizações esquerdistas que, sob a bandeira da luta contra o regime militar, promoveram seqüestros, roubos a banco e atos de intimidação. Com a volta da democracia, o MR-8 abandonou as armas mas continuou um terror, desta feita no terreno da fisiologia. Seus integrantes passaram a vender seus serviços sujos de atemorização a quem pagasse mais.

FOI SÓ CHORAR UM POUQUINHO
Anúncio de meia página do governo federal: em março, o jornal havia reclamado da falta de verba oficial

O MR-8, cujo nome faz referência à data da morte de um dos mais frios assassinos da história, o argentino Ernesto "Che" Guevara, está desde 1979 abrigado no PMDB. É uma "corrente" do partido. Nessa condição, chegou a dar ao então presidente José Sarney o título de "comandante da nação". Também já serviu de tropa de choque a políticos de biografia conturbada – para dizer o mínimo -- como os ex-governadores Orestes Quércia e Anthony Garotinho. Sabe-se muito bem em troca de quê. O serviço dos garotos de programa do MR-8 inclui todo tipo de arruaça. Em 1998, na convenção nacional que discutia se o PMDB lançaria candidato próprio à Presidência, o grupelho, contrário à aliança com o tucano Fernando Henrique Cardoso, deu início a uma sessão de socos que resultou na destruição do plenário da Câmara. Hoje, até Quércia prefere, pelo menos em público, manter distância dessa gente: "Eles já me apoiaram, mas agora estão com o Lula. Não tenho nenhuma ligação com esse jornal e acho um absurdo a ameaça a Mainardi", disse o ex-governador paulista.

Em São Paulo, estado em que é mais presente, o grupelho não chega a uma centena de foras-da-lei. Mesmo assim, seu panfleto conta com a generosidade do governo federal. Em março, o Hora do Povo reclamava que já fazia sete meses que o panfleto não recebia anúncio estatal. Não foi preciso chorar muito. Em 2 de maio, a Receita Federal deu-lhe de presente uma propaganda de meia página. A Secom, que cuida das verbas publicitárias, diz que a tiragem superior a 50 000 exemplares do Hora do Povo justifica o anúncio. Curioso critério. Uma publicação de igual circulação que pregasse a violência da mesma forma que o panfleto do MR-8 o faz mereceria um anúncio se fosse, digamos, propagandista do nazismo? Na sua última edição, o jornal publicou nota negando que tivesse a intenção de ameaçar Diogo Mainardi. Mas a tentativa de recuo não convence – a nota que incita a morte do jornalista é bem clara. O colunista de VEJA já entrou com uma representação criminal pedindo a apuração do episódio. Ameaças de morte não são brincadeira. Devem ser sempre levadas a sério.



REPÚDIO À AGRESSÃO

Marcelo Casal Jr./ABR

"Ameaçar um jornalista por discordar de sua opinião é crime de lesa-democracia e um atentado à liberdade de expressão."
Cezar Britto, presidente do Conselho Federal da OAB


"Os jornalistas precisam exercer o seu ofício a salvo de quaisquer pressões ou coações. Isso é um pressuposto da liberdade de imprensa."
Renan Calheiros, presidente do Senado

Dida Sampaio/AE

Marcos D'Paula/AE

"Causa estranheza o silêncio do governo, que até o momento não se manifestou. Parece achar natural que um jornalista receba ameaças públicas."
Arthur Virgílio, senador (PSDB-AM)


"É uma violência contra o estado de direito. Há meios legais para contestar opiniões contrárias sem recorrer às ameaças anunciadas pelo jornal Hora do Povo."
Maurício Azêdo, presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI)

Joedson Alves/AE

Nilton Fukuda/AE

"Numa democracia, todos têm o direito de dar sua opinião e expressá-la, mas dentro da melhor convivência democrática, sem incitamento à violência."
Nelson Sirotsky, presidente da Associação Nacional de Jornais


"Loucura tem limite, até para um jornal que não é nada sério."
José Serra, governador de São Paulo

Niels Andreas/AE


Andre Dusek/AE

"É um fato de extrema gravidade, especialmente quando se sabe que esse jornal recebe publicidade do governo federal."
Rodrigo Maia, deputado federal, presidente do Democratas

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