Entrevista:O Estado inteligente

domingo, maio 13, 2007

DANUZA LEÃO

Só elas


Não contar a ninguém, a não ser a sua mãe, pois só ela vai ficar feliz com seus sucessos. É por isso que mãe é mãe

MUITAS VEZES se está numa reunião e ela não anima; a bebida rola, a comida é maravilhosa, a música perfeita, as pessoas certas, mas a química não funciona e fica todo mundo olhando o relógio com ar de quem tem que acordar cedo no dia seguinte.
Mas existe uma solução -a única, aliás- para salvar uma festa: eleger alguém ausente e começar a falar de sua vida; mal, naturalmente. Quanto mais bonita for a pessoa em questão, quanto mais sucesso fizer, quanto mais rica for, melhor. É indescritível o interesse que esse assunto desperta: saber que o outro -aquele que todos sempre invejaram- está na pior traz um prazer que só um analista poderia explicar.
Se perdeu o jatinho, a ilha e o apartamento em Nova York, isso já rende uma hora e meia de assunto, e sempre haverá alguém para contar algum detalhe tenebroso que até aquele momento ninguém sabia.
Nessas horas vale aumentar, inventar, dizer que soube de fonte limpíssima que até a faxineira entrou na Justiça do Trabalho, pois há meses não recebia o salário -e, a partir daí, o nível só faz baixar.
A humanidade adora saber que o outro está passando por uma fase difícil, de suas intimidades, doenças, infelicidades. A popularidade dos atores vai lá para cima quando um deles é preso por porte de drogas, até porque isso faz aumentar a venda das revistas especializadas. Como faz bem saber que os ricos e famosos são gente como todo mundo.
Como sempre pode acontecer alguma coisa de ruim, é bom ir logo pensando em como se comportar.
Para ter a simpatia das pessoas, nunca diga que tudo está bem, queixe-se de tudo; passe a se vestir mal, emagreça -se engordar, melhor ainda- de tanto sofrer, fique feia, envelheça e torne-se -ou pelo menos dê essa impressão- uma pessoa amarga, infeliz e derrotada pela vida.
E seja muito humilde; diga que se as coisas estão como estão é porque foi a vontade de Deus; mostre-se resignada e lembre-se de dizer que existem pessoas em situação muito pior que a sua, que não têm nem uma casa para morar.
Quanto mais infeliz você se mostrar, melhor, pois poucos suportam as pessoas fortes, que seguram o tranco quando ele chega; para alguns, gente assim é quase uma afronta. Ah, você acha que estou exagerando? Pois tente contar sobre aquela sua amiga que morava num conjugado e que está fazendo sucesso na Itália como modelo, com milionários morrendo de paixão por ela; o mínimo que vão dizer é que é tudo mentira, que foi ela quem mandou espalhar.
A humanidade, já viu. Então aprenda: se estiver com a vida que pediu a Deus -bonita, feliz nos amores, bem de dinheiro-, não conte a ninguém, pois essas são coisas difíceis de perdoar. E fuja das festas, dos fotógrafos, do sucesso, da notoriedade; viva intensamente seus momentos de felicidade sem que ninguém saiba, até porque ela não costuma ser eterna.
Mas, para isso, é preciso se trancar e não contar a ninguém, a não ser a sua mãe, pois só ela vai ficar feliz com seus sucessos.
A ela, e só a ela, dá para falar até do dinheiro que conseguiu juntar, onde ele foi investido, e o total de suas aplicações.
É por isso que mãe é mãe, mas os filhos reclamam, e com razão: a gente bem que podia telefonar menos, não?

P.S. Para não dizerem que eu implico, d. Marisa está muito bem, e na chegada do Papa parecia 15 anos mais nova. Um quase milagre, eu diria.

danuza.leao@uol.com.br

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