Entrevista:O Estado inteligente

sábado, maio 12, 2007

Bento XVI no Brasil: a verdade moral da Igreja

Bento XVI
A verdade, nada mais
que a verdade


Mario Sabino

Vincenzo Pinto/AFP


Por mais que fotógrafos e câmeras de televisão tentassem o contrário, em sua busca por uma imagem eloqüente ou tocante, a visita de Bento XVI ao país revelou aos brasileiros que o papa está longe de seu antecessor, João Paulo II, em matéria de carisma. Encurvado pelos 80 anos, com passos rápidos como se quisesse fugir dos olhos que sobre ele se fixavam, titubeante nos momentos de posicionar-se ao lado de autoridades seculares, Bento XVI definitivamente não exerce – nem quer exercer – fascínio pessoal. Basta-lhe a força do cargo. Em seus gestos e palavras, ele também demonstrou não alimentar um ardor místico muito além do mínimo esperado para um papa. É de fé mariana, mas esta não exibe a característica visionária de João Paulo II. Sem a moldura do carisma e desprovido daquele tipo de misticismo tão ao gosto das massas, ao papa restou apresentar a verdade, toda a verdade, nada mais que a verdade da Igreja. E o fez de forma didática, porque seu talento mesmo é o de professor. "Ele pode não ter carisma, mas tem o dom de saber explicar o Evangelho com grande clareza e simplicidade", resumiu o vaticanista Marco Politi à repórter Adriana Dias Lopes (veja entrevista).

Que verdade é essa? A de que as preocupações do catolicismo são, primordialmente, de ordem moral – mais do que nunca, a chave para a leitura e a interpretação do Evangelho. Natural que seja assim. Os grandes embates cristológicos, que movimentaram a história eclesiástica durante séculos, tiveram seu suspiro derradeiro no Concílio Vaticano II, na década de 60, embora vez por outra um teólogo tresloucado da América Latina procure "humanizar" a figura de Cristo, ao transformá-lo num Che Guevara da Judéia. Bem antes disso, na terceira década do século XX, foram sepultadas as esperanças de que o papa recuperasse mesmo que uma lasca do poder temporal outrora exercido na Europa. No terreno ideológico, o triunfo sobre o comunismo ateu foi completo, com a queda do Muro de Berlim, em 1989, e o conseqüente fim da União Soviética. A conservação da moralidade católica tornou-se, desse modo, o único campo de afirmação da Igreja. É também sua trincheira no confronto com o secularismo, o materialismo e o relativismo.

Fotos Eduardo Nicolau/AE, Angela Barbour/Visitadopapa.org.br e Gregorio Borgia/AP
A PRIMEIRA NOITE
Cerca de 10 000 pessoas foram receber Bento XVI em frente ao Mosteiro de São Bento, no centro da capital paulista. No alto, à direita, o papa faz orações na capela do mosteiro, pouco depois de chegar ao país. À direita, detalhe do "anel do pescador", com uma representação de São Pedro

A grita contra os valores defendidos tenazmente pelo Vaticano, como a indissolubilidade do casamento e a condenação do aborto, define-os como anacronismos. E lhes credita também a constante sangria de fiéis experimentada há décadas pela Igreja. Do ponto de vista secular, não há dúvida de que a análise está correta. O catolicismo anda mesmo em descompasso com a modernidade. Mas, em se tratando de religião, é preciso levar em conta a perspectiva... religiosa. Dissecar os princípios da Igreja com instrumentos temporais é o mesmo que vasculhar as estrelas com um microscópio – ou examinar as moléculas com um telescópio. Ou seja, é inadequado, para dizer o mínimo. O que nenhum desses críticos se pergunta é: o que seria da Igreja se ela transigisse no que se refere ao casamento indissolúvel – um dos sacramentos católicos – e ao aborto, para permanecer nos dois pontos mais sensíveis aos contemporâneos? A resposta é que a Igreja teria a sua essência extirpada, visto que, desde os seus primórdios, confere um caráter sagrado tanto ao matrimônio quanto à vida humana – e os padres não têm dúvida de que ela começa na concepção, pois Maria se tornou mãe de Deus logo que a semente de Cristo nela foi implantada pelo Espírito Santo.

A mensagem que Bento XVI trouxe ao país foi serena, mas enfática. Ele não abrirá mão dos princípios morais, o cerne da doutrina católica, para atrair um imenso contingente de ovelhas desgarradas. Prefere um rebanho menor, mas seguidor dos mandamentos da Igreja. Quem apenas se declara católico não lhe interessa. Cite-se outra vez uma fala do então cardeal Joseph Ratzinger, que já expressava a visão do futuro papa: "A Igreja diminuirá de tamanho. Mas dessa provação sairá uma Igreja que terá extraído uma grande força do processo de simplificação que atravessou, da capacidade renovada de olhar para dentro de si. Porque os habitantes de um mundo rigorosamente planificado se sentirão indizivelmente sós. Descobrirão, então, a pequena comunidade de fiéis como algo completamente novo. Como uma esperança que lhes cabe, como uma resposta que sempre procuraram secretamente".

Fotos Victor Caivano/AP e Paulo Whitaker/Reuters

JUVENTUDE EMOCIONADA
A comoção dos fiéis foi grande por onde o papa passou. À esquerda, uma coreografia de noviças e seminaristas durante encontro com jovens no Estádio do Pacaembu, em São Paulo. Lá, Bento XVI reafirmou a importância da família e da preservação da vida

Nesse caminho, não se lançarão anátemas contra quem abandonar a barca de Pedro. Religião condenada por tantos como obscurantista, o catolicismo, ao contrário do islamismo, evoluiu no plano teológico em direção ao livre-arbítrio. Os que permanecerem no seio da Igreja o farão por própria escolha. Ao defender a família como célula-mãe da sociedade, Bento XVI afirmou: "A Igreja quer apenas indicar os valores morais de cada situação e formar os cidadãos para que possam decidir consciente e livremente". A opção por poucos e bons não significa, evidentemente, que a perda de fiéis tenha deixado de ser fonte de preocupação. Na sua avaliação, contudo, no que diz respeito ao Brasil e à America Latina, ela se deve menos ao rigor moral do catolicismo do que a décadas de equívocos no trabalho de catequese. Esse, aliás, será um dos temas da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, inaugurada pelo papa em Aparecida.

Mauricio Lima/AFP
ENCONTRO COM O PRESIDENTE
Bento XVI deu seu recado ao presidente, em encontro no Palácio dos Bandeirantes: o papa manifestou sua vontade de ver o acordo diplomático entre a Igreja e o Brasil assinado até o fim de seu pontificado. Abaixo, recebe presentes de adolescentes que se apresentaram para ele no Pacaembu
Paulo Liebert/AE

A clareza de Bento XVI deixou muitos comentaristas atônitos. Foi-se ouvir até prostitutas sobre o que o papa ensinou. Todas são filhas de Deus, é certo, mas a opinião delas é dispensável nessas questões. Em um tom ainda mais patético houve quem pretendesse dar lições de sobrevivência a uma instituição com mais de 2.000 anos de existência. A Igreja não precisa dos conselhos dos neófitos. Foi suficientemente humilde para reconhecer uma série de pecados e, assim, restringi-los aos livros de história. Foi suficientemente grande para superar as limitações intelectuais – e morais – de dezenas de papas. Um deles, Pio X (1903-1914), promulgou uma encíclica, intitulada Pascendi, que, de tão iracunda em relação aos tempos modernos, passou à posteridade como o "cemitério da inteligência católica". Ao contrário do que se acredita, a Igreja sempre mostrou ser uma instituição capaz de se adaptar às circunstâncias, sem jamais abrir mão de seus preceitos básicos. Bento XVI, goste-se ou não, é a encarnação dessa verdade.

Martin Bernetti/AFP
CANONIZAÇÃO DE FREI GALVÃO
A missa que elevou frei Galvão à condição de primeiro santo 100% brasileiro foi realizada no Campo de Marte. No fim de semana, antes de ir embora, o papa inauguraria, em Aparecida, a V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe

PAPAS DO DIÁLOGO

A partir da segunda metade do século XIX, diante de um mundo em transformação acelerada, quatro pontífices se destacaram por abrir canais de comunicação com a modernidade

LEÃO XIII (1878-1903)
Autor da encíclica Rerum Novarum, promulgada em 1891, o primeiro documento da Igreja a respeito da situação da classe operária. Nela, o papa abordou questões até então fora do âmbito das preocupações do Vaticano, como a obrigação dos patrões de oferecer boas condições de trabalho, o salário justo e o direito à organização sindical. Com essa encíclica, nasceu o pensamento social católico, que se contraporia ao marxismo e serviria de base ideológica aos partidos democrata-cristãos europeus.

BENTO XV (1914-1922)
Acabou com as perseguições aos religiosos "modernistas", promovidas por seu antecessor, Pio X. Em 1917, surpreendeu o mundo com uma condenação enfática da I Guerra Mundial, à qual chamou de "carnificina inútil" – até então, nenhum papa jamais tivera semelhante atitude em relação a conflitos entre nações. Bento XV chancelou, ainda, a participação de católicos em eleições nacionais, como candidatos ou votantes, sepultando, assim, a oposição da Igreja aos nascentes estados laicos. Por fim, deu início a uma ação missionária que não mais se confundia com o colonialismo.

JOÃO XXIII (1958-1963)
Um dos papas mais amados da história do catolicismo, fazia visitas pastorais regulares a bairros populares de Roma, penitenciárias e hospitais – numa "opção preferencial pelos pobres" sem proselitismo. Em 1959, convocou o Concílio Vaticano II, destinado a "tirar a poeira do Trono de Pedro". Ecumenismo, diálogo com outras religiões, colegialidade nas decisões da Igreja – todos esses temas, que permanecem em pauta, começaram a ser discutidos no concílio cujo final João XXIII não veria.
Foi o papa que abriu o diálogo com o mundo comunista.

PAULO VI (1963-1978)
Deu prosseguimento ao Concílio Vaticano II, concluído em 1965, e implementou algumas das decisões do encontro. Entre elas, reformou a Cúria Romana, o aparato burocrático encastelado no Vaticano, procurando diminuir seu raio de alcance. Na direção inversa, buscou fortalecer os episcopados nacionais, embora sem lhes conferir poderes deliberativos. Paulo VI aboliu os símbolos que remontavam ao poder temporal dos papas, modernizou algumas instalações do Vaticano e permitiu a abertura de uma galeria de arte moderna em seus domínios (iniciativas de grande efeito simbólico). Também estabeleceu relações diplomáticas com países muçulmanos.

UM ACORDO INOFENSIVO

Durante a visita de Bento XVI, noticiou-se que o Vaticano e o governo brasileiro estariam negociando secretamente um acordo que feriria a laicidade do estado brasileiro. Entre outras coisas, a Igreja Católica estaria pedindo ao governo que o ensino de religião se tornasse obrigatório nas escolas públicas e que fossem criados mecanismos para dificultar a ampliação da prática do aborto no país. Foi dito, ainda, que a Igreja queria um meio de evitar processos na Justiça brasileira, sobretudo na área trabalhista. O Brasil e o estado do Vaticano estão mesmo negociando desde o ano passado um acordo que reúne e atualiza toda a legislação de interesse comum entre os dois estados. Mas não há quase nada ali que corresponda a certa versão divulgada por parte da imprensa. Na proposta enviada ao Brasil pelo Vaticano em novembro de 2006, havia, de fato, o pedido de que o ensino religioso se tornasse obrigatório. Em resposta, encaminhada a Roma em março passado, o governo brasileiro disse que não adotaria a medida. Ponto final.

A demanda sobre aborto jamais constou das negociações. "Isso é um exagero tremendo", diz um diplomata do Itamaraty com acesso às negociações. Ao contrário do que se disse, não havia nada a ser assinado entre o papa e Lula na semana passada. A contraproposta de acordo ainda está sendo analisada em Roma. Sabe-se que a Igreja gostaria de consolidar as isenções fiscais de que goza no país e de transferir ao governo a responsabilidade pela preservação do patrimônio arquitetônico e artístico de suas catedrais. O Vaticano reivindica também a livre entrada de missionários em reservas indígenas e ecológicas. Nenhuma das partes, no entanto, divulga oficialmente detalhes do que está sendo costurado. Pelo simples motivo de que a discrição durante as negociações é uma praxe diplomática. Os termos são divulgados somente quando as partes chegam a um consenso. Não existe a possibilidade de que alguma das cláusulas entre em vigor em sigilo. Inclusive porque, no lado brasileiro, o Congresso Nacional precisa aprovar tudo o que é acordado.

Otávio Cabral

O MINISTRO E O ABORTO

Andre Dusek/AE
Temporão: muito espaço nos jornais às vésperas da chegada do papa


Levantar a polêmica da legalização do aborto às vésperas da visita do papa ao Brasil rendeu ao ministro da Saúde, José Gomes Temporão, muito espaço nos jornais. Mas esse, obviamente, não era o momento oportuno para recolocar o assunto em discussão (a menos, é claro, que a intenção fosse atrair os holofotes). Em meados de abril, quando se esperava que Temporão falasse sobre a epidemia de dengue, ele resolveu defender a realização de um plebiscito sobre a descriminalização do aborto – o que levou, como era de esperar, a que uma parte do clero radicalizasse, chamando a sua pasta de "ministério da morte". No dia da chegada do papa, ele partiu para o bate-boca com a cúpula da Igreja Católica no Brasil. Temporão qualificou de "descabido" o apoio de Bento XVI aos bispos mexicanos que sugeriram excomungar os políticos que votaram pela descriminalização do aborto na Cidade do México, no mês passado. "É um tema que deve ser tratado com delicadeza. Não tenho percebido isso em alguns setores da Igreja, que fizeram declarações muito agressivas e distantes dos ensinamentos de Jesus", disse o ministro, mostrando uma insuspeita vocação para teólogo. Habitualmente moderado nas palavras, o cardeal dom Geraldo Majella reagiu com uma crítica dura ao programa de educação sexual do governo: "Favorecer uma educação que estimula a precocidade da criança, do adolescente, como no caso da camisinha, será que é educativo? Isso é induzir todos à promiscuidade".

Há pelo menos quarenta anos, a descriminalização do aborto está em pauta no Congresso. Atualmente, uma dezena de projetos de lei sobre o assunto tramita pelo Senado e pela Câmara. No Brasil, o procedimento é permitido em duas situações: quando a mulher foi vítima de estupro ou quando ela corre risco de morte. Essas exceções estão previstas no Código Penal desde 1940. Mas foi apenas na década de 80 que os primeiros abortos autorizados por lei começaram a ser realizados na rede pública de saúde. No ano passado, 2 000 intervenções desse tipo foram feitas no país. O número de abortos clandestinos, no mesmo período, chegou a 1,5 milhão.

Para além da questão ético-religiosa, a grande questão que não se coloca é se o Sistema Único de Saúde (SUS) teria condições de absorver uma demanda tão grande caso o aborto fosse legalizado em qualquer situação. Para a maior parte dos especialistas no assunto, a resposta é "não". O número de leitos é insuficiente para arcar com essas pacientes. Há ainda que levar em conta que, como não se trata de um procedimento de emergência, a mulher está sujeita a uma lista de espera. A laqueadura, por exemplo, pode ser feita na rede pública desde 1997, mas raríssimos são os hospitais capazes de atender a paciente sem que ela tenha de entrar numa fila. Em média, a demora é de seis meses – tempo que, no caso de uma gravidez, inviabiliza o aborto. Uma alternativa seria a criação de clínicas específicas para a realização do procedimento, como acontece nos Estados Unidos. Mas custa caro. Para diminuir em pouco tempo a mortalidade causada por abortos clandestinos, há uma alternativa mais eficaz do que discutir com a Igreja. Basta melhorar a distribuição de métodos contraceptivos – hoje muito ineficiente – e investir num amplo serviço de planejamento familiar. Isso evitaria metade dos abortos clandestinos realizados no Brasil.

Anna Paula Buchalla e Paula Neiva

EM COMPASSO DE ESPERA

Marco Politi

Marco Politi, do jornal La Repubblica, é um dos mais destacados vaticanistas italianos. Durante o pontificado de João Paulo II, cobriu setenta viagens internacionais do papa. Na última sexta-feira, pouco antes de ir à missa de canonização de frei Galvão, em São Paulo, ele falou a VEJA sobre os rumos do pontificado de Bento XVI

O SENHOR ACREDITA QUE UM DOS OBJETIVOS DESTE PAPA É PROMOVER A COLEGIALIDADE NAS DECISÕES DA IGREJA?
Sim. Um exemplo concreto: o papa começou a convocar os cardeais da Cúria Romana e de todo o mundo para discutir as grandes escolhas da Igreja, como a da aproximação com o islamismo. Em outubro de 2005, pela primeira vez no Sínodo dos Bispos, foi criada uma hora de debate livre. Os sínodos poderão se tornar mais deliberativos, o que representa um grande passo. Entrevistei Ratzinger meses antes de se tornar papa. Na ocasião, ele disse que a Igreja não deve ser uma monarquia absoluta. Quer, portanto, uma instituição que siga uma linha doutrinal muito precisa, mas, ao mesmo tempo, busca uma participação maior dos bispos, uma maior colegialidade.

BENTO XVI PARECE SER AINDA MAIS DURO DO QUE SEU ANTECESSOR, JOÃO PAULO II.
O problema, na verdade, é de comunicação. Como vê no mundo contemporâneo uma ameaça ao cristianismo, ele tende a reforçar a identidade da Igreja. Enquanto João Paulo II dizia "a Igreja vem de vocês, a Igreja está ao lado de vocês na vida moderna", Bento XVI diz às massas o seguinte: "Venham à Igreja e sigam no caminho certo." A consequência disso é que os católicos mais distantes da fé se sentem ainda menos estimulados a aproximar-se do papa. Mas Bento XVI fala bem com as multidões. Ele pode não ter carisma, porém tem o dom de saber explicar o Evangelho com grande clareza e simplicidade. O discurso não é de proibições e ameaças explícitas.

O SENHOR CRÊ QUE HAVERÁ SURPRESAS NESTE PONTIFICADO?
Fatos importantes podem ocorrer nos papados de transição, como o de Bento XVI. João XXIII, por exemplo, fez uma revolução durante um pontificado muito curto. Quanto ao atual papa, estamos em compasso de espera. Ele é como um ciclista pronto para partir. Se partirá, é impossível prever.

POR QUE ESCOLHERAM UM PAPA DE TRANSIÇÃO PARA SUCEDER A JOÃO PAULO II?
Houve um grande medo diante do vazio deixado por João Paulo II, dono de uma personalidade forte. Os cardeais, então, escolheram alguém com grande qualidade espiritual, intelectual e teológica, por garantia. Foi uma escolha segura. Não houve uma verdadeira competição eleitoral, como em 1978. O verdadeiro conclave começará só na próxima escolha.

A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO TEM ALGUM PESO HOJE?
Nenhum. Acabou.

Adriana Dias Lopes

O VIGÁRIO DE CRISTO FALA AOS BRASILEIROS

Gregório Borgia/AP

EVANGELIZAÇÃO

"A Igreja Católica – como coloquei na encíclica Deus Caritas Est –, 'transformada pela força do Espírito, é chamada para ser, no mundo, testemunha do amor do Pai, que quer fazer da humanidade uma única família, em seu Filho'. Daí o seu profundo compromisso com a missão evangelizadora, a serviço da causa da paz e da justiça. A decisão, portanto, de realizar uma conferência essencialmente missionária bem reflete a preocupação do episcopado, e não menos a minha, de procurar caminhos adequados para que, em Jesus Cristo, os 'nossos povos tenham vida', como reza o tema da Conferência (Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe)."

DEFESA DA FAMÍLIA

"A Igreja quer apenas indicar os valores morais de cada situação e formar os cidadãos para que possam decidir consciente e livremente. Nesse sentido, não deixará de insistir no empenho que deverá ser dado para assegurar o fortalecimento da família – como célula-mãe da sociedade."

"Tende, sobretudo, um grande respeito pela instituição do sacramento do matrimônio. Não poderá haver verdadeira felicidade nos lares se, ao mesmo tempo, não houver fidelidade entre os esposos. O matrimônio é uma instituição de direito natural, que foi elevada por Cristo à dignidade de sacramento; é um grande dom que Deus fez à humanidade. Respeitai-o, venerai-o. Ao mesmo tempo, Deus vos chama a respeitar-vos também no namoro e no noivado, pois a vida conjugal que, por disposição divina, está destinada aos casados é somente fonte de felicidade e de paz na medida em que souberdes fazer da castidade, dentro e fora do matrimônio, um baluarte das vossas esperanças futuras. Repito aqui para todos vós que 'o eros quer nos conduzir para além de nós próprios, para Deus, mas por isso mesmo requer um caminho de ascese, renúncias, purificações e saneamentos'."

JUVENTUDE

"Olhando para vós, jovens aqui presentes, que irradiais alegria e entusiasmo, assumo o olhar de Jesus: um olhar de amor e confiança, na certeza de que vós encontrastes o verdadeiro caminho. Sois jovens da Igreja. Por isso eu vos envio para a grande missão de evangelizar os jovens e as jovens que andam por este mundo errante como ovelhas sem pastor."

"Podeis (jovens) ser protagonistas de uma sociedade nova se procurais pôr em prática uma vivência real inspirada nos valores morais universais, mas também um empenho pessoal de formação humana e espiritual de vital importância. Um homem ou uma mulher despreparados para os desafios reais de uma correta interpretação da vida cristã será presa fácil a todos os assaltos do materialismo e do laicismo, sempre mais atuantes em todos os níveis."

RESPEITO À VIDA

"Sei que a alma do povo brasileiro, bem como de toda a América Latina, conserva valores radicalmente cristãos que jamais serão cancelados. Estou certo de que em Aparecida, durante a conferência do episcopado, será reforçada tal identidade, ao promover o respeito pela vida, desde a sua concepção até o seu natural declínio, como existência própria da natureza humana."

CONSERVAÇÃO DA NATUREZA

"Nunca podemos dizer basta, pois a caridade de Deus é infinita e o Senhor nos pede, ou melhor, nos exige dilatar nossos corações para que neles caibam sempre mais amor, mais bondade, mais preservação e conservação da natureza, da qual todos fazem parte. 'Nossos bosques têm mais vida': não deixeis que se apague esta chama de esperança que o vosso Hino Nacional põe em vossos lábios. A devastação ambiental da Amazônia e as ameaças à dignidade humana de suas populações requerem um maior compromisso nos mais diversos espaços de ação que a sociedade vem solicitando."

PERDA DE FIÉIS

"Essa é nossa preocupação comum na conferência episcopal. Queremos encontrar respostas convincentes, estamos trabalhando nisso já. O sucesso dessas seitas (evangélicas) demonstra que existe uma sede de Deus, por Deus, de religião. As pessoas aceitam que essas seitas se apresentem como capazes de solucionar os problemas cotidianos. Nós, da Igreja Católica, temos de transformar isso num objetivo da conferência, para sermos mais dinâmicos, mais missionários, para responder a essa sede por Deus. E devemos ser conscientes de que as pessoas, principalmente os pobres, querem ter isso mais perto delas. Somos conscientes de que, junto a essa resposta à sede de Deus, devemos ajudá-los a encontrar as condições de vida justa, sejam microeconômicas, nas condições concretíssimas – como fazem as seitas –, sejam macroeconômicas, pensando em todas as exigências da justiça."

POLÍTICA

"Com a mudança da situação política, mudou profundamente também a situação da Teologia da Libertação. E agora é evidente que esses fáceis milenarismos, que prometem revoluções e também, subitamente, condições de uma vida justa, estavam errados. Hoje todos sabem disso. A questão é como a Igreja deve estar presente na luta por reformas necessárias para que se possam ter condições justas de vida. A Igreja não entra na política, respeitamos a laicidade, mas podemos dar condições para a solução dos problemas sociais e políticos."

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