Folha de S. Paulo |
6/3/2007 |
SÃO PAULO - O jornal espanhol "El País" puxou para a capa de ontem a notícia de que cinco pessoas, entre 17 e 30 anos, foram assassinadas a tiros em uma escola pública do Rio de Janeiro no domingo. Na Folha, não deu capa. Sempre se poderá dizer que foi um cochilo dos editores. Mas tenho a leve impressão de que chacinas desse tipo caíram tanto na rotina que a morte já não comove mais e, por extensão, não consegue cavar seu espaço na vitrine do jornal -que é a capa. Reforça essa sensação o fato de que "O Globo", jornal da cidade em que ocorreu o crime, lhe deu destaque apenas um pouquinho maior do que o de "El País". Contraria a sabedoria convencional do jornalismo que diz que uma pessoa que morra na esquina da minha casa é mais notícia do que cem indianos que morram na Índia. Ocorre que a sabedoria convencional foi atropelada pela escalada de violência no país. Afinal, pessoas morrem em cachos em todas as esquinas das grandes aglomerações urbanas do Brasil, dia sim, outro também. Causa anestesia. Idêntica anestesia se deu em relação a uma das muitas pontas do descalabro social: o dos meninos nas ruas nas cidades. Como disse à Folha o sociólogo Claudio Beato, "você anda no centro de São Paulo e dá vontade de chorar. Isso o que é? É claramente a ausência de rede de proteção para essa garotada. Conseqüentemente, eles acabam se envolvendo com o crime. Falta a sociedade dizer: peraí, criança no meio da rua não pode! Isso acontece na Europa". Também acho que não pode. Por mim, aliás, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil seria sempre baixíssimo, quaisquer que fossem outros indicadores, enquanto houvesse essa massa de crianças de rua desassistidas. O diabo é que elas estão por ali há tanto tempo que as lágrimas da sociedade secaram. O horror já não dá capa. |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, março 06, 2007
Clóvis Rossi - O horror não dá capa
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