Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, março 07, 2007

Clóvis Rossi - A esperança e o desertoClóvis Rossi - A esperança e o deserto



Folha de S. Paulo
7/3/2007

SÃO PAULO - George Walker Bush x Hugo Chávez é uma falsa questão se se pretende discutir quem fala mais aos corações e mentes latino-americanas. A resposta é simples: nenhum dos dois.
Marta Lagos, a chilena que comanda o "Latinobarómetro", o melhor metro para medir o humor da sub-região, já citou pesquisas que mostram que ambos têm teor de aceitação muito abaixo do medíocre: dos 72% que dizem conhecer Bush, 29% avaliam-no positivamente. No caso de Chávez, 66% o conhecem, mas só 26% o aprovam.
Mude-se a pergunta e mudará também dramaticamente a resposta: o que atrai mais, o "socialismo do século 21" de Chávez ou o capitalismo de sempre dos EUA?
É só saber quantos bolivianos, peruanos, brasileiros etc. emigraram para a Venezuela desde a posse de Chávez, se é que houve algum. Ao passo que, para os Estados Unidos, a fila é imensa, de todas as cores e sotaques que formam a América Latina (e não só ela, aliás).
Ame-se ou odeie-se o modelo norte-americano, o fato é que, para os latino-americanos, os Estados Unidos continuam sendo vistos como a terra das oportunidades, cada vez mais. Mesmo para muitos brasileiros, apesar de o Brasil ter sido, em outra era, o eldorado para italianos, japoneses, espanhóis, libaneses e tantos mais.
Outra pesquisa é ilustrativa a respeito: no Uruguai, Bush tem apenas 12% de aprovação, mas 59% dos uruguaios querem um acordo de livre comércio com os EUA, inclusive a maioria dos simpatizantes da Frente Ampla, a coalizão esquerdista que governa o país. Traduzindo para o popular: gritemos "abajo los gringos", mas agarremo-nos ao portentoso mercado da única superpotência.
A questão não é, pois, Bush ou Chávez, mas pôr no horizonte latino-americano a esperança ou continuar atravessando o deserto de oportunidades.


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