Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

VINICIUS MOTA Independência ou letargia


SÃO PAULO - Durante os quatro anos da gestão Lula, o Brasil se livrou do FMI e derrubou a dívida externa. A ação do governo foi neutra para a obtenção desse resultado. O dilúvio de dólares, propiciado pelo mais exuberante ciclo de crescimento mundial em três décadas, fez todo o serviço.
Políticos, porém, não estão obrigados a seguir a distinção lógica entre o "depois de" e o "por causa de". Na campanha pela reeleição, o "Fora FMI" de outrora (a bravata do calote) ganhou roupa nova -afinal, não só pagamos tudo aos burocratas de Washington como antecipamos a fatura. Pasteurizado, o júbilo nacionalista foi mantido.
O curioso é esse furor autonomista não ter-se repetido em relação aos credores brasileiros do Estado. "Fora bancos" ou "Fora famílias ricas" ou "Fora fundos de pensão" não fizeram parte, ao que consta, dos bordões da campanha petista. Justamente aí a ação do governo pode fazer grande diferença.
Calote neles? Alongamento forçado neles? Nada disso. Além da balbúrdia que um repeteco de Plano Collor produziria, não daria conta da seguinte questão: o Estado continuaria precisando de dinheiro emprestado, pois gasta além do que arrecada. Teria de recorrer às mesmas fontes (bancos, famílias ricas, fundos de pensão), provavelmente a um custo (juros) mais alto.
A saída para a independência financeira do poder público é a de qualquer ente endividado demais -apertar o cinto do gasto e obter saldos no fim do mês para abater a dívida. O governo brasileiro ainda dispõe de uma ferramenta adicional: baixar os juros básicos, que corrigem 40% dos títulos federais.
Diante do emagrecimento do Estado, bancos, famílias ricas e fundos de pensão iriam procurar outra freguesia para investir seus recursos. Em vez de despejá-los no moto-perpétuo da dívida pública, teriam de emprestá-los a quem emprega e produz. Aumentar a participação do salário na economia é uma política de esquerda.

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