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por Augusto de Franco A disputa de ontem na Câmara emitiu um sinal. Com as oposições que temos, não há nada que se possa fazer para evitar a implantação do projeto estratégico do lulopetismo. Se o PFL tivesse votado em Gustavo Fruet no primeiro turno, ele disputaria com Arlindo no segundo (e não Aldo). Isso não significa que ganharia a eleição, mas ajudaria a consolidar a oposição no Congresso. A pergunta é: por que o PFL não votou em Gustavo? O que esses nossos frentistas liberais andam pensando da vida? O PSDB tem 64 deputados. O PFL 62. O PPS 17. O PV 13. E o PSOL 3. Descontados os votos deste último (que não apoiaria mesmo um tucano), a conta deveria dar 156. Mas Gustavo teve 98 votos. A candidatura de Gustavo foi importantíssima. Mas as vacilações e os continuados erros tucanos (uma sucessão impressionante: os erros acumulados de janeiro de 2003 até agora constituem a folha corrida mais desastrosa da história partidária, pelo menos do ponto de vista da democracia), a demora para tomar a decisão de ter um candidato, a ignorância sobre quem é Arlindo Chinaglia e a incompreensão do papel da oposição neste momento em que vive o Brasil, já haviam configurado um quadro sombrio para a nossa democracia. A cartas já estavam dadas. A sorte já estava lançada. Fruet até que fez demais, dadas as circunstâncias. Façam as contas. A Câmara tem 513 deputados. Lula tem 351 (sem contar os eventuais traidores tucanos, pefelistas, ex-comunistas e verdes - que sempre podem surgir). O que isso significa? Significa que Lula pode aprovar qualquer coisa por mais de 3/5 dos votos (com uma folga de 43 votos). Pode aprovar até o seu terceiro mandato. Quem vai reagir? O Senado? O Senado tem 81 cadeiras. Mas Lula tem 51. Isso dá 63% dos votos (sem contar com as traições a seu favor). Quem vai reagir? Os governadores e prefeitos da oposição? Ora, esses não farão nada que possa atrapalhar o seu currículo de belas realizações administrativas. Quem vai reagir? A sociedade? Se depender dos tucanos e pefelistas, a sociedade será desarmada continuamente para não ter como reagir e nem como resistir. PSDB e PFL não querem que a sociedade faça qualquer coisa que possa atrapalhar seus planos. Querem monopolizar a voz oposicionista para negociar com o governo federal o seu tom, o volume e o timbre dessa voz discordante em troca de espelhinhos e miçangas (ou seja, de oportunidades no varejo para seus líderes: um lugarzinho na mesa da Câmara, um tratamento menos belicoso por parte dos deputados estaduais petistas aos governadores tucanos... e por aí vai). Por isso é forçoso constatar. As oposições partidárias no Brasil foram convertidas - pervertidas, de fato - em forças auxiliares de sustentação da hegemonia neopopulista que está sendo implantada pelo lulopetismo. Ainda que não existam condições, vamos dizer, "estruturais", no Brasil, para a reprodução do neopopulismo ao estilo chavista, evoista ou rafaelista - muito menos para o castrismo ou o orteguismo - não se pode negar que já estão dadas as condições políticas para o neopopulismo ao estilo lulista. Mas o que seria isso? O neopopulismo lulista é a proposta estratégica do lulopetismo: instaurar no Brasil uma hegemonia neopopulista de longa duração (já que não existe populismo – nenhum tipo de populismo – de curta duração). O neopopulismo é um novo tipo de populismo que floresce quando líderes carismáticos e salvacionistas, apoiados por correntes estatistas e corporativistas, se apossam, pela via eleitoral, das instituições da democracia e as corrompem, gerando um ambiente degenerativo que perverte a política, privatiza partidariamente a esfera pública e enfraquece a sociedade civil; trata-se de uma vertente política de caráter autoritário que convive com a democracia mas que exerce sobre ela uma espécie de parasitismo; ou seja, que usa a democracia contra a democracia para enfrear e reverter o processo de democratização da sociedade, assegurando condições para a permanência por longo tempo de um mesmo líder e do seu grupo no poder. Esse projeto de poder – de Lula e do PT, quer dizer, do lulopetismo – não trabalha por fora das instituições e sim por dentro (daí a sua característica de parasitismo da democracia). Enganam-se, portanto, os que acham que vão surpreendê-los mais adiante numa tentativa de golpe de Estado. Sua via principal é a eleitoral. Tudo o que Lula e o PT fizeram tinha (e tem) como objetivo continuar ganhando as eleições, sucessivamente: por um lado, palanquismo-messiânico (do líder que se diz predestinado a salvar os pobres) regado com assistencialismo-clientelista (o neoclientelismo) e, de outro, conquista dos meios institucionais pela privatização partidária da esfera pública e pela alteração da lógica de funcionamento das instituições. Essa é a fórmula do neopopulismo lulista. Em termos políticos não há nada, no Brasil de hoje, capaz de barrá-la. Venho alertando para o perigo desde agosto de 2003. Os nossos pensadores políticos sempre fizeram pouco caso dessas previsões. Não acreditavam em nada disso e continuam não acreditando, apesar de tudo o que aconteceu nos anos de 2004 e 2005. Vão esperar ainda mais para entender o problema e perceber com clareza para onde estamos caminhando? Aí já será tarde. Aliás, já é tarde, muito tarde. O lulopetismo avança com Arlindo, assim como avançaria com Aldo. Mas avança mais com Arlindo. Só alguém muito cretino pode achar que Lula terá dificuldades com Arlindo porque ele representa o PT mais orgânico e combativo. Bobagem. Lula é o chefe do PT. Acordem! Não maltratem tanto a inteligência tipicamente humana. Do ponto de vista político, Arlindo Chinaglia é a pior figura que já assumiu a presidência da Câmara dos Deputados. Pior inclusive do que Severino (não em termos ético-políticos pessoais, mas político-democráticos coletivos). Não será apenas um fiel contínuo dos desejos lulistas (como foi - e seria de novo - Aldo Rebelo). Será um articulador ativíssimo para a recuperação daquela parte da quadrilha petista que foi surpreendida praticando banditismo de Estado e corrupção de Estado. E muito mais do que isso... Entendam, pelo amor de Deus com quem vocês estão lidando. Arlindo não é um aliado: é um operador dessa política lulopetista. |
Entrevista:O Estado inteligente
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domingo, fevereiro 04, 2007
O NEOPOPULISMO LULISTA AVANÇA COM ARLINDO CHINAGLIA
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