A Previ, uma potência de mais de R$ 100 bilhões, cinco vezes o patrimônio do Banco do Brasil, preparase para um tempo novo. Terá que respeitar a determinação de só aplicar 50% em renda variável, mas, mesmo vendendo ativos, permanece com 60%.
Os juros caindo farão com que os administradores procurem novos ativos. Uma providência incomum já foi tomada: diminuiu a contribuição dos seus associados e do mantenedor. O Banco do Brasil reduziu seu aporte em R$ 260 milhões no ano passado.
O maior fundo de pensão do país já esteve envolvido em muita polêmica. O presidente Sérgio Rosa acha que há um preconceito contra fundos de estatais no Brasil: os problemas seriam debitados a eles, mas os avanços não lhes são creditados: — A imprensa elogia a Vale do Rio Doce sem registrar que a Previ tem a presidência do Conselho de Administração da empresa.
Por outro lado, é capaz de registrar que eu, como presidente do conselho, ganho não sei quantos mil reais, quando, na verdade, estou limitado por normas do fundo a receber apenas uma parte da remuneração.
Sérgio Rosa diz que se fala muito da indicação política dos representantes dos fundos nas empresas, e nunca se comenta a melhoria da governança nessas companhias das quais os fundos participam. Só a Previ está em mais de 100, e a visão da direção do fundo é que seus representantes podem ser indutores de melhores práticas sociais e ambientais.
— Estamos contratando uma consultoria para formularmos princípios socioambientais — contou Rosa.
É bem verdade que esses princípios só são efetivos se penetrarem completamente a instituição, mudando atitudes, valores, decisões.
Não basta contratar uma consultoria, que isso não é produto que se compre; a mudança tem que acontecer dentro da instituição.
Durante muito tempo, a Previ foi criticada por receber aportes milionários do mantenedor, o Banco do Brasil.
Rosa diz que as críticas foram injustas e que, pelo contrário, o fundo foi afetado por ter sido obrigado a parcerias e a investimentos que não faria e, que até hoje, não são lucrativos.
Um fato realmente pouco comum acaba de acontecer: a redução em 40% da contribuição dos participantes.
O maior deles é o próprio banco, cuja contribuição caiu de R$ 560 milhões para R$ 300 milhões. É conseqüência da rentabilidade do fundo. Há perspectivas de novas reduções.
O presidente da Previ apresenta, com orgulho, os números da saúde do fundo, o maior do Brasil e o 59odo mundo: a rentabilidade no ano passado foi de 34,8%.
Este é o quarto ano consecutivo de superávit, cerca de R$ 34 bilhões acumulados.
Em dezembro de 2002, o patrimônio do fundo era de R$ 43,6 milhões; agora é de R$ 105 bilhões. Está tentando cumprir a meta de ter só 50% em renda variável, mas tem sido difícil. Eles participaram da oferta pública vendendo ações do Banco do Brasil, entre outros ativos, em 2006, mas a própria valorização da bolsa e a seletividade das ações que têm tornam difícil o cumprimento do limite.
— Cerca de 40% das empresas em que investimos em renda variável são in vestment grade, como a Vale, e há as outras ações que devem se valorizar ainda mais diante da expectativa de que o próprio país seja investment grade. A Embraer já é a terceira maior empresa de aviação do mundo, só perdendo para a Airbus e a Boeing. Passou a Bombardier e tem uma linha nova de produtos excelentes.
Com a Selic em queda e a diminuição da relação dívida/ PIB, os administradores dos fundos têm que procurar novos investimentos.
— O caminho é apostar em bons projetos de private equities — acredita. Ele admite que não tem visto nada no mercado de crédito de carbono, que pensa estar pouco desenvolvido.
No futuro, será cada vez mais difícil manter a alta rentabilidade; o tempo dos juros altos está, felizmente, chegando ao fim; as ações já subiram muito, ainda que a convicção de Rosa seja que boas escolhas e a perspectiva da elevação do rating do Brasil manterão essas participações em alta. De qualquer maneira, até 2012, a Previ terá que se enquadrar no limite de 50% dos seus ativos em ações.
Mas a conversa dele tem outra queixa. Acha que os fundos participaram intensamente da construção de novos princípios de governança, que estão incentivando novas práticas corporativas e agora passarão a trabalhar por novos valores ambientais e sociais, e também não são reconhecidos por isso.
Ele acredita que sempre foram vistos como parte de negócios pouco transparentes e sugadores de recursos do Tesouro. Rosa garante que a Previ nunca foi.
Neste ponto, divirjo inteiramente.
A Previ não é agora, mas foi, no passado, receptora de recursos em volumes extravagantes feitos pelo Banco do Brasil. Discutir esse passado é cansativo e fiz aqui inúmeras colunas a respeito desse árido tema. Mas ele nega. Entregou, inclusive, um papel em que sustenta que a Previ “nunca precisou de aportes adicionais do BB e desobrigou o BB das obrigações de complementar integralmente as aposentadorias”.
Quem acompanha a economia brasileira há três décadas, como eu, sabe das inúmeras vezes em que houve aportes, complementações, e do tempo em que as contribuições da mantenedora eram, em muitas ocasiões, maiores que as dos participantes.
Mas não é isso que está em questão agora. Registro a queixa de Sérgio Rosa e suas afirmações. Quanto ao presente e ao futuro, parecem mesmo cheios de chances de atuações positivas do poderoso instrumento de poupança e investimento em que a Previ se transformou. E a torcida é para que continue a fazer bons negócios e exerça seu papel multiplicador de novas práticas nas empresas brasileiras.
Entrevista:O Estado inteligente
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