Entrevista:O Estado inteligente

sábado, fevereiro 03, 2007

Estudo questiona o uso do hormônio do crescimento

O hormônio da ilusão

Um estudo põe na berlinda o GH, uma das substâncias
mais populares no combate ao envelhecimento


Paula Neiva

Na luta da ciência contra a ação do tempo, os hormônios são as apostas mais recentes. Como o conhecimento sobre o papel dessas substâncias ainda é limitado, não raro se investe em uma delas que, algum tempo depois, se revela inócua, quando não perigosa. O alvo da vez é o GH, sigla em inglês para o hormônio do crescimento, popular sobretudo nas academias de ginástica, graças a seus supostos poderes de aumentar músculos, reduzir gordura e melhorar a disposição. Na última edição da revista médica Annals of Internal Medicine, foi publicado o mais importante estudo de revisão já feito sobre o impacto da reposição de GH na saúde de homens e mulheres. O trabalho, realizado por pesquisadores da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, analisou 31 estudos científicos, considerados os mais significativos sobre o tema, e chegou à seguinte conclusão: o hormônio do crescimento não tem nenhuma serventia para conter o processo de envelhecimento. "Nada justifica sua prescrição com essa finalidade", disse a VEJA o médico Hau Liu, um dos autores do estudo. O uso do hormônio sem critério, em pessoas saudáveis, pode levar a insuficiência cardíaca e diabetes e estimular o crescimento de tumores. Inchaços e dores articulares também são alguns dos efeitos adversos relatados por usuários da substância. "Pessoas saudáveis que apelam para o GH com o intuito de emagrecer ou rejuvenescer acreditam em uma mentira propagada em academias de ginástica e por médicos charlatães", diz o endocrinologista Alfredo Halpern, professor da Universidade de São Paulo e autor de um trabalho sobre o assunto. As injeções são caras – ao redor de 15.000 dólares por ano.

O hormônio do crescimento é responsável, entre outras funções, pelo controle da multiplicação celular, pela distribuição de gordura e pela formação de músculos. Com a idade, a produção de GH tende a diminuir – o que não significa necessariamente que doses extras do hormônio possam deter a ação do tempo sobre o organismo. "O envelhecimento é um processo muito mais complexo do que a simples alteração nos níveis sanguíneos de um hormônio", diz o endocrinologista Freddy Goldberg, de São Paulo. Oficialmente a terapia de reposição de GH é indicada apenas para crianças com baixa estatura por deficiência da substância e para adultos com queda hormonal grave. O uso do hormônio sem supervisão médica pode desequilibrar a química do organismo e desencadear doenças grave

Keith Brofskv/Getty Images

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