O Estado de S. Paulo |
2/2/2007 |
Blocos de ocasião mostram que no Congresso há sempre espaço para piorar O deputado Walter Pinheiro (PT-BA) chegava ontem de manhã à Câmara para tomar posse em seu quarto mandato quando parou um instante na entrada no plenário e comentou para um grupo de pessoas, como se falasse para todo mundo e ninguém: "Começamos mal." Na roda, o governador Eduardo Campos (PSB), de Pernambuco, falava sobre os grandes blocos partidários que se formaram de última hora para disputar os cargos da Mesa, justamente o assunto que provocara a desanimada constatação de Pinheiro, para quem a "blocagem" vai na contramão do fortalecimento dos partidos e do rumo apregoado pelos defensores (os sinceros) da reforma política. A poucos metros ali, Chico Alencar, do PSOL, e Paulo Rubem Santiago, do PT, panfletavam contra os excessos da imunidade parlamentar. Convidados a analisar os primeiros acordes e avaliar se havia risco de o Congresso piorar em relação à legislatura anterior, concordaram de pronto. A contar pelo início despolitizado, há, sim, perigo de ficar pior, "com blocos oportunistas sendo formados não por conta de identidades programáticas ou ideológicas, mas pelas razões fisiológicas de sempre", apontava Chico Alencar. Paulo Rubem oferecia tradução mais popular: "Uma coisa é bloco, a outra é corda de caranguejo onde todos se penduram uns por cima dos outros e de qualquer maneira." A imagem se aplica bem à corrida dos partidos para se juntarem uns com os outros, na tentativa de se fortalecerem e, assim, conseguirem cacife mais poderoso nas negociações dos cargos da Mesa. Realmente, para uma legislatura que se inicia com a responsabilidade de suceder ao período tido como o pior de todos os tempos, não se pode dizer que seja um começo alvissareiro. Na opinião de Alencar, a lógica dos blocos quebra o equilíbrio entre os partidos e, na visão de Pinheiro, simplesmente desrespeita o resultado das urnas. "Os partidos integrantes desses blocos não estavam juntos nas eleições." Muito provavelmente, a maioria deles deixará de estar no dia seguinte à eleição da presidência da Câmara. Então, perguntaria o atento observador, por que se preocupar com um assunto que será logo esquecido? Justamente porque será esquecido, tendo servido apenas como instrumento de caça a vantagens de ocasião. A corporação A eleição de Arlindo Chinaglia para a presidência da Câmara não marca apenas a volta do PT ao comando do Legislativo nem representa só a reafirmação da supremacia da ala "heavy-metal" do petismo. Significa também a vitória do protecionismo à corporação parlamentar. Fica, senão enterrado, brutalmente enfraquecido o projeto de recuperação da confiabilidade da Câmara perante a sociedade. Não se trata de uma ilação, mas de constatação a partir do discurso de Chinaglia feito na tribuna, antes da eleição. Como promessa de campanha de boca-de-urna, assegurou defender os interesses da Casa frente aos ataques, segundo ele "injustos", sofridos pela instituição, responsáveis pela desmoralização do Congresso. Na opinião do novo presidente da Câmara, o problema são as críticas e não os malfeitos. Não é o eleitor que precisa ser defendido do fisiologismo, do corporativismo, do adesismo decorrente de barganhas. É o Parlamento que necessita de proteção contra "carimbos" e aleivosias em geral. Teremos, pois, nessa associação de PT e PMDB, dias difíceis pela frente. Água fria Noite da véspera da votação, o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, contabilizava 38 votos certos para seu candidato à presidência do Senado, José Agripino. Por via das dúvidas, anunciava que iria dormir tarde, porque todo cuidado seria pouco com as traições. Mesmo atento e escaldado, Agripino levou 10 bolas nas costas, pois só teve 28 dos 38 votos prometidos. Sem controle Nem os petistas partidários da candidatura de Chinaglia entenderam o que fazia o líder do PSDB na Câmara, Antonio Carlos Pannunzio, na comemoração pró-petista numa churrascaria à beira do Lago Sul, na noite anterior à eleição. Os tucanos também não sabiam explicar o significado do gesto e dois deles, o presidente e o líder do partido no Senado, Tasso Jereissati e Arthur Virgílio, ficaram de chamar Pannunzio às falas. A utilidade de enquadrar o líder é quase nula, pois as recentes esquisitices do PSDB dizem respeito a interesses ainda não esclarecidos da alta cúpula. Como não é tão simples assim cobrar o que quer que seja de integrantes do estado-maior, a pressão é feita sobre o escalão intermediário, e aí fica parecendo que a preocupação é só salvar as aparências, nada mais. No caso da eleição na Câmara, nem elas foram salvas. De tarde, Tasso e Virgílio iriam exigir que Pannunzio orientasse a bancada a votar em Aldo Rebelo no segundo turno. De noite, o líder declarou que o voto seria livre. Ou não foi advertido ou ignorou a advertência. |
Entrevista:O Estado inteligente
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