Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, fevereiro 06, 2007

A DESORIENTAÇÃO TUCANA por Denis Rosenfield

Os tucanos estão francamente desorientados, não sabendo se posicionar frente ao governo petista. Na eleição para a Presidência da Câmara dos Deputados, o partido esboçou um suicídio político, no apoio explicitado a Arlindo Chinaglia no primeiro turno, que deu lugar imediatamente depois a um recuo, que resultou na candidatura independente de Gustavo Fruet. Ato seguinte, no entanto, os votos do PSDB, no segundo turno, foram decisivos para a vitória do candidato petista, consoante, portanto, com a posição defendida antes do lançamento de sua própria candidatura. Enquanto partido oposicionista, o PSDB não sinaliza para nenhuma direção precisa, oscilando entre as orientações dadas por seus diferentes caciques.

Um apoio explícito ao PT, como o esboçado pelo deputado Juthay Magalhães, da Bahia, correspondia a uma renúncia a ser oposição, como se o partido não estivesse bem nessa vestimenta. Se os eleitores brasileiros colocaram o partido na oposição, é também para que exerçam a função que lhes foi reservada. Simplesmente abdicar de sua função equivale a se desestruturar enquanto alternativa de poder. Não se trata aqui de algo ocasional, mas de uma outra manifestação de posições partidárias, sobretudo considerando-se a atitude do próprio presidente do partido, senador Tasso Jereissati, que chegou a declarar que votaria em Ciro Gomes para presidente da república em 2010, em nome dos interesses regionais. Se o próprio presidente do partido opta por um outro partido, é porque a desorientação é geral. Nada mais deveria surpreender.

E, no entanto, surpreende que um mesmo comportamento desestruturador do ponto de vista partidário se repita na votação para a Presidência da Câmara dos Deputados. Foi amplamente noticiado – e não desmentido – que os interesses regionais dos governadores de São Paulo e de Minas Gerais foram decisivos para o apoio ao PT. Ou ainda, teria ocorrido uma negociação para cargos menores da Mesa Diretora da Câmara. Se um partido começa a negociar questões menores e se centra em problemas regionais, ele perde precisamente a sua função nacional, que é conferida à sua representação parlamentar, à qual cabe exercer o seu papel propriamente político de oposição. Se os interesses regionais primam sobre os nacionais, o partido tende a se tornar um conglomerado de seções estaduais. O paroxismo dessa situação se encontra no PMDB, que se tornou uma federação de partidos regionais, cada um preocupado exclusivamente com os seus próprios interesses e cargos. Se o PSDB não corrigir a sua rota, ele seguirá pelo mesmo caminho.

Não podemos esquecer que governadores, por definição, têm interesses administrativos relativos às suas próprias funções regionais. Independentemente de que tenham nomes de realce nacional, a sua forma de fazer política está limitada precisamente por esse enquadramento regional. São as negociações por verbas com o governo federal, os convênios existentes em várias áreas, ou ainda, as negociações partidárias nas Assembléias Legislativas. Se essa agenda prima sobre a nacional, o partido perde o seu foco e fica à deriva em relação aos grandes problemas do país. As hesitações tucanas se devem, em boa medida, a essa imprecisão, isto é, à confusão de posições.

Há, porém, ainda uma questão de fundo, de ordem programática, já verbalizada pelo Ex-presidente Fernando Henrique, de que o PSDB precisaria de uma refundação, que lhe esclarecesse as idéias e lhe conferisse um outro guia para suas ações. Tanto o partido quanto alguns setores do PT se reivindicam de uma mesma agenda social-democrata. Os petistas não querem pronunciar esse nome, pois isto lhes acarretaria um problema de identidade com repercussões inclusive eleitorais. Na prática, contudo, eles não somente adotaram idéias tucanas como mantiveram a política macroeconômica e mesmo social do governo anterior. Os petistas foram hábeis, pois roubaram a agenda tucana e não pararam de criticar a herança maldita. Os tucanos ficaram atordoados e não souberam como reagir. Entregaram a eleição para a recondução de Lula e, agora, chegaram a ensaiar um apoio ao PT, que terminou ocorrendo ao abrigo do segredo da urna eletrônica. Há uma afinidade ideológica ente ambos partidos que encontra sérias dificuldades no plano propriamente político.

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