o globo
País intenso
Uma visão panorâmica do Brasil, com avanços, dilemas e tarefas inevitáveis. Foi o que o Ipea fez no livro "O Estado de uma Nação", que acabou de lançar. É um panorama tão vasto que fica difícil escolher para onde olhar: o Brasil avançou na área fiscal, mas tem pedras no caminho; uma delas, a da previdência. Incluiu mais pobres, mas ainda tem muita exclusão. É mais competitivo, tem produção científica crescente e investe menos em inovação que outros países. Catapultou seu percentual de eleitores e o comparecimento às urnas, mas separa os que podem e os que não podem usufruir alguns direitos. O Brasil vai vivendo assim, entre ganhos e déficits.
O Ipea reuniu um time impressionante, misturando talentos de dentro e de fora da instituição para construir uma visão abrangente do país. Conseguiu. O livro organiza a cabeça de quem o lê de olho em novas escolhas que terão que ser feitas no futuro próximo. O texto não evitou certas polêmicas.
Na área fiscal, propõe mais reformas da previdência. São equívocos, registra o livro, a falta de idade mínima para aposentadoria no setor privado; a idade reduzida (50 para as mulheres e 55 para os homens) da aposentadoria dos professores, que são o contingente mais numeroso entre funcionários públicos, e a diferença de idade de aposentadoria entre homens e mulheres. O texto do Ipea argumenta, contra essa diferença por gênero, o seguinte: as mulheres vivem mais e se aposentam mais cedo, então são hoje parte importante do déficit. A entrada maciça da mulher no mercado de trabalho fará com que, nas próximas décadas, esse problema se agrave; no mundo inteiro, a diferença está caindo. O Ipea tem razão: por razões demográficas, é inevitável discutir esse assunto.
Há outro segmento da população com o qual o Estado deve gastar cada vez mais e merece um capítulo à parte: a juventude. Os que estão chegando à idade adulta devem ser prioridade. A última década foi marcada pelo maior aumento da história no número de jovens. Os que têm entre 15 e 24 anos eram, em 2003, quase 34 milhões de pessoas; 19,5% da população. "Esse grupo etário jamais foi ou será no futuro tão numeroso como é hoje em termos absolutos." Essa é a maior coorte da história do país. Olho neles, portanto. Os riscos que os rondam são os mesmos que ameaçam qualquer juventude, mas alguns indicadores pioraram. Os dados de mortes violentas são trágicos. A perda de cada indivíduo da estatística é dilacerante para quem a sofre; e inaceitável para o país. A taxa de mortalidade de jovens por acidente de trânsito é cinco vezes maior que no restante da população: enquanto os acidentes de trânsito correspondem a 3% dos óbitos no resto da população; eles são 16% dos óbitos nos jovens. Pode-se argumentar que o percentual é grande pela baixa presença de outras causas de morte nessa faixa etária, mas outro dado prova que é mais complexo que isso: as mortes no trânsito de pessoas de 20 a 29 anos são o dobro das que ocorrem entre as de 10 a 19 anos.
A taxa de morte de jovens brasileiros por violência é, no mínimo, quatro vezes maior que nos Estados Unidos, no México, na Argentina, no Chile, só ficando atrás da Colômbia. A morte por violência de rapazes é 12 vezes maior que a de moças. Qualquer que seja a forma de ver essas estatísticas elas são ameaçadoras para o país. As mortes provocadas por agressões são 5% do total dos óbitos na população e 40% entre os óbitos de jovens. O dado divulgado na sexta-feira de que caiu a morte com arma de fogo não diminui a gravidade do problema.
Na escolaridade dos jovens, houve melhora na última década. Nos anos 90, aumentou em quase dois anos a escolaridade média (1,8 ano), bem mais que o 0,5 da década de 80. Mas o indicador de oito anos de estudo da juventude brasileira é menor que os 10 anos dos chilenos. O que o texto do Ipea propõe como prioridade de política para juventude é principalmente educação.
O futuro do Brasil passa também por alguma forma de conciliação entre a exploração econômica e a preservação da Amazônia, cada vez mais ameaçada. A Amazônia sul-americana tem 1/5 de toda a água doce do mundo, 1/3 das florestas tropicais do planeta e apenas 3,5 milésimos da população mundial. De toda essa reserva, 64% estão em território brasileiro. O estudo diz que um dos erros do país é que os benefícios da preservação não entram no cálculo econômico dos agentes que têm o poder de decidir. Em dado trecho, sustenta que o "desenvolvimentismo extremado gerou profundos conflitos" e o "ambientalismo preservacionista não consegue atender às demandas nacionais e globais". Não há esse conflito. É pior, bem mais primitivo. Não há por lá o que se possa chamar de "desenvolvimentismo" nem agora, nem na época do regime militar; o que há é a irracionalidade destrutiva, que nada põe no lugar do que destrói. O Brasil não conhece sua Amazônia. O texto introduz algumas questões, mas mostra o quanto a inteligência brasileira precisa se dedicar para entender melhor esse vasto e ameaçado mistério.
Na Amazônia, mais do que em qualquer outra região, fica claro que o país, que completa esta semana 183 anos de vida independente, tem vantagens tão grandes quanto os riscos que corre. É um país intenso, ainda tentando encontrar seu destino.
Entrevista:O Estado inteligente
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