Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, setembro 20, 2005

LUÍS NASSIF O submarino nuclear

folha de s paulo
 Depois do adiamento da licitação do FX -caças de guerra pela FAB-, o novo tema das Forças Armadas, agora, é a licitação para a compra de submarinos, e aí, mais uma vez, entrelaçam-se as questões de defesa e de absorção de tecnologia.
O desafio da licitação é que deverá permitir ao país absorver a tecnologia da construção de casco para futuros submarinos com propulsão nuclear. Assim como na FAB, há uma divisão na Marinha. Há um pequeno grupo, realista, que reconhece resultados do programa nuclear paralelo -que permitiu ao país o controle do processo de enriquecimento de urânio- , mas acha que a Marinha não tirou proveito nenhum. Em vez de busca de soluções a longo prazo, dizem eles, vamos resolver o problema de hoje. É um grupo minoritário, mas com poder de articulação.
De outro lado, estão os defensores da absorção tecnológica. Desde os anos 70, a Marinha desenvolveu um programa nuclear paralelo que rendeu enormes avanços tecnológicos ao país -mas muita dor de cabeça à própria Marinha.
Dos anos 70 aos 90, em valores históricos investiu mais de US$ 1 bilhão para desenvolver combustível nuclear e reator nuclear pequeno, que cabe em um submarino. Faltava resolver o problema do casco do submarino.
Em 1983, a Marinha comprou da Alemanha tecnologia para a construção de submarinos da série Tupi, pequenos, de 1.500 toneladas de deslocamento dentro da água. Foram construídos quatro submarinos. No quinto da série, resolveu ganhar coragem e modificá-lo tecnologicamente. Nasceu a série Ticuna, com um casco mais longo, peso e dimensões diferentes, mas, ainda assim, um submarino convencional.
Com a nova licitação, pretende-se agora a tecnologia para a construção de um submarino intermediário SM10. Seriam fabricados um ou dois com a tecnologia comprada. Depois de assimilada a tecnologia, seria lançado um maior, movido a um pequeno reator nuclear produzido em Aramar.
Em vez do processo licitátorio complicado da FAB, a Marinha optou por definir o que queria e convidar dois consórcios, o alemão HDW e o francês Armaris (joint venture da Direção de Construções Navais -Arsenal de Marinha da França- e da Tales).
A grande vantagem do submarino nuclear é poder permanecer submerso por tempo indefinido. Na sua proposta, os alemães não ofereceram a tecnologia de um submarino nuclear -que eles não dominam até por razões políticas. Mas ofereceram um convencional com uma peça de nome AIP, que permite iniciar o processo de hidrólise, separando oxigênio e hidrogênio e permitindo 30 dias debaixo da água.
O submarino alemão tem a vantagem do preço. O modelo atual é o U-214. Para baratear, foi oferecido o modelo U-209 melhorado, a um custo de US$ 240 milhões. Já os franceses oferecem um submarino convencional, mas derivado do nuclear, a um custo de US$ 360 milhões. Mas permitirá absorção de tecnologia para o submarino nuclear.
A razão para a França oferecer tecnologia para um futuro competidor é a necessidade de escala para sobreviver.

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