Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, setembro 02, 2005

ELIANE CANTANHÊDE Vocabulário da crise

FOLHA DE S PAULO

  BRASÍLIA - Nunca uma crise política foi tão didática. Até a mais simples criatura entende os termos usados para ensinar quem pratica corrupção, como e onde.
É difícil entender, de tão abstratos, valores como "2 milhões, 10 milhões, 1 bilhão" de qualquer coisa, seja real, seja dólar. Mas é bem fácil fazer as contas e saber o que significam "30 mil, 50 mil, 400 mil", especialmente se são reais, pagos em parcelas e apelidados de "mensalão".
Depois, somaram-se à crise termos como cueca, mala, dólar, cafetina. Na seqüência, mais uns tantos que não fazem parte da rotina do cidadão comum, mas já estão bem difundidos em botecos, padarias, salas de jantar e escritórios, como caixa dois e Land Rover.
De quebra, o nome de um dos envolvidos é auto-explicativo: Jacinto Lamas, o ex-tesoureiro do PL que buscou não sei quantos milhões nos bancos do esquema Marcos Valério.
Só faltava ao dicionário das CPIs a palavra "assassinato". Não falta mais. João Francisco Daniel, irmão do prefeito de Santo André, Celso Daniel, torturado e morto a tiros num assalto ainda muito nebuloso, disse à CPI dos Bingos que ele foi vítima porque sabia demais. Sabia, por exemplo, de propinas na prefeitura para as campanhas petistas.
Esquenta o vocabulário, mudam os focos. O Conselho de Ética votou por unanimidade a favor da cassação de Roberto Jefferson. As CPIs dos Correios e do Mensalão acusaram formalmente 18 parlamentares passíveis de cassação de mandato. Mas a crise não é mais "do Congresso". É também "do governo".
Dirceu, que foi homem forte do Planalto até outro dia, brinca de pular a fogueira. O assessor petista Rogério Buratti jogou Palocci no fogo com a denúncia de propina na Prefeitura de Ribeirão Preto para o PT. O irmão de Celso Daniel agora empurra Gilberto Carvalho, o mais fiel escudeiro de Lula.
O ministro Thomaz Bastos acha que o dicionário se esgotou e a crise está "no fim". Há controvérsias.

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