A proposta unânime do Conselho de Ética pela cassação do 'nobre par' Roberto Jefferson (PTB-RJ) ao plenário da Câmara; a aprovação também unânime do relatório das CPIs dos Correios e do 'mensalão' mandando este e mais 17 deputados para idêntico cadafalso; e a decisão da CCJ negando ao presidente Severino Cavalcanti (PP-PE) a prerrogativa de retardar o trâmite desses processos são excelentes indícios. Pois mostram que, apesar de ainda ser difusa e não se ter concretizado em manifestações de rua, como na deposição de Collor, a indignação popular contra a decomposição moral do PT e do governo é o melhor instrumento para evitar a tendência à impunidade negociada.
Nada disso é definitivo, convém reconhecer. Expostos à eventualidade da execração popular nas urnas, os membros do Conselho de Ética não tinham qualquer interesse em absolver Jefferson. Mas seu destino será julgado no plenário e em voto secreto, o que pode influir em benefício do colega acusado, uma vez que, não se expondo ao julgamento do eleitorado, o parlamentar pode se sentir tentado a confirmar a tradição corporativista.
Da mesma forma, por mais admirável que seja o relatório conjunto das duas CPIs, seu teor, que demonstra sobretudo respeito à lógica dos fatos e à inteligência do público, não pode ser considerado uma expressão do pensamento da maioria dos congressistas. Como escreveu o ex-deputado João Mellão Neto em artigo neste jornal, na sexta-feira, ainda remanesce um contingente numeroso e influente que reza por uma cartilha cujos principais mandamentos são: 'Quem o povo elegeu, ninguém, no mundo, tem legitimidade para cassar' e 'colega não julga colega! Deputado não cassa deputado!' Esse contingente, antigamente alcunhado de 'baixo clero', é tão influente e tão numeroso na Câmara que fez de um de seus mais notórios representantes o atual presidente da Mesa diretora. Severino Cavalcanti, como descreveu,com precisão, seu ex-colega Mellão, 'é teimoso como um jegue. Só age a seu talante, de acordo com as suas certezas mais íntimas. E estas representam o que há de mais atrasado na política brasileira'. É verdade e não faltam provas disso no noticiário: ao saber que a Comissão de Constituição e Justiça, respondendo a sua consulta, o impedia de 'assar a pizza' como queria, confirmando que o plenário deve votar qualquer representação para perda de mandato, um outro qualquer poderia ter desistido. Não Severino! Sacando da manga nova carta do jogo do 'abafa', o presidente da Câmara decretou um recesso branco, adiando a votação em plenário da cassação do presidente afastado do PTB e, por conseguinte, adiando mais uma vez a discussão pelo Conselho de Ética das representações contra os outros 17 acusados, entre os quais o ex-todo-poderoso chefe da Casa Civil José Dirceu. A pretexto do feriado da Independência e de sua viagem a Nova York para representar o Brasil na ONU, Severino marcou o julgamento de Jefferson para 21 de setembro. E postergou tudo o mais.
Mesmo sofrendo reveses ao tentar ir além das sandálias de presidente da Câmara, Severino não deu o braço a torcer para as evidências de que sua escolha para o cargo, um circunstancial protesto do colegiado contra a infeliz escolha do candidato do PT, não lhe dá os poderes para impor suas idéias de vanguardista do atraso.
Quando foi repreendido por Fernando Gabeira por ter pregado o abrandamento das penas dos deputados acusados, mandou o colega recolher-se 'à sua insignificância'. Como lembrou Dora Kramer em sua coluna no Estado, ele 'não percebeu que Gabeira não falava sozinho, muito menos externava posição tão insignificante assim'. Sua orelha seria puxada de novo ao ser recebido em constrangedor silêncio quando protocolarmente condecorado pelo presidente Lula com a Ordem do Rio Branco.
Sua militância pelo 'abafa' não está dando resultados práticos além do desgaste de uma biografia que já não era um modelo a imitar. Mas todo cuidado é pouco. Desistir ele não vai.
Entrevista:O Estado inteligente
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