A ssim como a mulher de César tinha não só que ser honesta, mas parecer honesta, a mais alta corte de Justiça - começando por quem a preside - tem não só que ser politicamente isenta, mas parecer politicamente isenta. Indaguemos agora: pelas freqüentes declarações e decisões monocráticas do atual presidente do STF, ministro Nelson Jobim, é a visão de neutralidade política a que se associa à sua imagem perante a opinião pública? Considerando, por outro lado, que os magistrados devem "falar nos autos", não podendo externar opiniões sobre causas judiciais que poderão vir a ser submetidas a seu julgamento - sob pena de fazerem condenável prejulgamento -, será que esse cuidado tem tido quem está à frente do Judiciário brasileiro, por comandar o tribunal de jurisdição mais elevada do País? Manifesto assinado por 60 juízes e desembargadores do Rio Grande do Sul - sob o título Manifesto pela Ética - sugere enfaticamente, ao presidente do STF, que adote uma de duas atitudes: a renúncia a suas pretensões político-eleitorais, pela manifestação pública de desistência de eventuais candidaturas (a Presidência ou Vice-Presidência da República), ou a renúncia ao posto de dirigente do Pretório Excelso. No texto está que o silêncio de Jobim, diante de conjecturas e ilações da mídia sobre sua eventual candidatura, constitui "um escárnio e um acinte à Constituição da República". Além disso, os magistrados gaúchos expressam seu desagrado ante o fato de Jobim, "distanciando-se de sua condição de magistrado", fazer considerações a respeito da "ingovernabilidade" do País, caso ocorra a hipótese - constitucional, é bom lembrar - do impeachment do presidente Lula. É bem verdade que o ministro Jobim tem a estranha característica (recentemente revelada a jornalista colaborador desta casa) de não enviar desmentidos a matérias publicadas, mesmo que as considere infundadas. Isso complica a precisão do entendimento público, a respeito de suas manifestações. Mas decerto isso não se aplicaria a suas decisões judiciais, muitas vezes controvertidas, como aquela em que mandou liberar o empresário Sergio Gomes da Silva, o Sombra, principal acusado de mandante do assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, ou, especialmente, a recente liminar que concedeu, numa terça-feira à noite, no mandado de segurança em favor de seis deputados do PT, suspendendo a tramitação, na Câmara dos Deputados, do processo de cassação de seus mandatos, por quebra de decoro parlamentar. Deixando à parte a controvérsia sobre a legitimidade ou não da suposta interferência de um Poder (Judiciário) em outro (Legislativo), assim como as questões atinentes a interpretação do Regimento Interno das Casas Legislativas, quanto ao direito de defesa prévia dos parlamentares processados por quebra de decoro, estranhou-se a decisão monocrática do presidente do STF, por não tratar-se de período de recesso, nem de férias, por estarem outros ministros do Supremo em Brasília - aos quais poderia ser distribuído o feito - e, sobretudo, por ser muito discutível a urgência daquela decisão. Certamente as ilações quanto à falta de isenção política atingem com mais facilidade um magistrado do Supremo que tem uma intensa atividade política em seu currículo - como deputado federal, constituinte e ministro de Estado - e nunca se preocupou em dissipar especulações sobre seu futuro político-eleitoral. Já se disse, muitas vezes, que ao STF nunca escapou uma certa dimensão política em suas grandes decisões. Mas essa acepção sempre se referiu a interesses gerais do Estado, sem maiores conotações partidárias ou político-eleitorais. É na isenção do poder Judiciário - traço que adquire importância maior, por dedução natural, em sua mais alta instância - que repousa toda a garantia de Direitos dos cidadãos, o que vale dizer, toda a crença social no respeito à lei e a seu cumprimento. No momento em que paire a menor desconfiança quanto à plena isenção (política) do Supremo, comprometida poderá estar, de forma extremamente perigosa, a confiabilidade da sociedade, em relação à própria Justiça.
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Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, setembro 22, 2005
EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO O Supremo é isento
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