Entrevista:O Estado inteligente

sábado, setembro 10, 2005

EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO CORRUPÇÃO GENERALIZADA

 Não existe corrupção de pouca gravidade. O delito cometido por quem cobra propina e autoriza de forma ilegal o prolongamento de uma licitação não é menor do que aquele perpetrado por quem se beneficia das vultosas somas do esquema do "mensalão".
O suposto "mensalinho" recebido pelo presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), contudo, é emblemático da estatura das ilicitudes praticadas no âmbito do Congresso Nacional. O caso reforça a impressão de que, em graus e qualidades diversos, a corrupção tornou-se endêmica, contaminando todos os estratos do Legislativo -para não mencionar o Executivo, cuja situação não parece mais animadora.
O deputado Severino Cavalcanti, como se sabe, não foi eleito em razão de suas qualidades, mas de seus defeitos. Foram sua inclinação corporativa e sua prática fisiológica nas questões de varejo da Câmara que garantiram os votos por ele obtidos em sua eleição. Mas, quando se tem em conta que mais da metade dos deputados considerou um político com essa trajetória capaz de liderar a Câmara, não há como não enxergar uma nódoa anti-republicana a se espraiar pela Casa.
Com o aumento dos subsídios, vantagens e benefícios concedidos nos últimos anos, os vencimentos mensais de um parlamentar podem somar mais de R$ 80 mil, se aí se incluem verbas de gabinete e outras benesses. Não são infreqüentes casos de comissões cobradas sobre o salário de funcionários, assim como de distribuição abusiva de passagens aéreas e uso indevido de carros e apartamentos funcionais.
Não há dúvida de que esse quadro de descompromisso moral e desprezo pelo espírito público coloca em risco a relação entre a sociedade e seus representantes. É a própria instituição política que se vê ameaçada. A descrença em relação aos parlamentares, que já era notável, só tende a aumentar. Ou são tomadas medidas para punir exemplarmente os envolvidos em irregularidades e prevenir a continuidade desses descalabros, ou o Brasil poderá mergulhar numa crise ainda mais grave.

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