O GLOBO
O silêncio é o túmulo do intelectual. Mesmo assim, intelectuais brasileiros reverenciam o calar. Porque não estão à altura da crise do pensamento, nem explicam a realidade brasileira, nem sugerem rumos novos para o país. O imediato é o túmulo do estadista. Mesmo assim, políticos brasileiros se consomem no dia-a-dia. Porque não estão à altura da crise social e política, não conseguem orientar os destinos da nação.
Intelectuais e políticos brasileiros de hoje não estamos à altura da crise. Ela se agrava com a reduzida competência dos nossos líderes intelectuais e políticos. Ante o silêncio das idéias, e perdidos na rotina das CPIs, não entendemos, nem formulamos, nem conduzimos.
As massas brasileiras entenderam em 2002 que o Brasil precisava de um choque que redirecionasse o rumo da nossa História. Ousaram eleger um presidente radicalmente diferente dos dirigentes do passado. Optaram por um presidente vindo das camadas mais pobres, sem curso superior, líder de operários. Foi uma ruptura arriscada e corajosa da parte de eleitores que estavam à altura da crise de um país economicamente estagnado, endividado interna e externamente, com cidades degradadas, renda concentrada, metade da população na miséria, e uma educação vergonhosamente atrasada e desigual. O povo entendeu e arriscou. Havia que arriscar uma alternativa.
Não soubemos aproveitar a chance.
No campo das idéias, o governo Lula tem sido um período estéril. Os intelectuais silenciaram. Nenhuma formulação nova explicou a crise, nem formulou caminhos. Na economia, os juros altos e o superávit fiscal impedem o crescimento, mas não surgiu proposta para mudar esse quadro com seriedade e competência. No quadro social, os tristes indicadores foram enfrentados com políticas assistenciais imediatistas, sem qualquer impacto transformador.
No lado da política, o governo se concentrou na meta da reeleição e a oposição na tentativa de abalar a credibilidade do governo, contra a reeleição. Não houve, em quase três anos, qualquer embate político de cunho ideológico, de indicação de rumo, de discordâncias conceituais. O governo se perdeu no dia-a-dia de uma administração sem sonhos, enquanto a oposição se dedicava a denunciar os equívocos do governo. E agora, governo e oposição se embrenham nas disputas das CPIs, como um duelo entre camicases, no convés do país.
Sem altura para enfrentar as exigências da criação de idéias e da orientação da realidade, os dirigentes brasileiros comemoram os avanços ocorridos entre um tempo e outro, sem perceber que avançamos menos do que o resto do mundo. Por falta de imaginação e competência, concorremos conosco, ano após ano, sem perceber que estamos ficando para trás em quase todos os indicadores civilizatórios. A economia cresce a taxas menores do que no exterior, a educação básica evolui mais lentamente do que nos demais países de nosso porte, a desigualdade se amplia na comparação interna e com outros países, a violência explode.
A massa crítica de pensadores e o conjunto de políticos parecem perdidos, sem entenderem o que acontece ao redor nem para onde levar o Brasil com segurança. Enquanto isso as massas, que arriscaram a eleição de um presidente que romperia com o passado, vêem frustradas o país patinar na mesma crise, como um eterno ciclo de tragédias.
A geração dirigente não percebe o esgotamento do ciclo histórico dos tempos imperiais e escravocratas. Não vê que o desenvolvimento econômico custou demais em termos de recursos financeiros e desarticulação social, e não foi capaz de completar a república democrática que se esperava.
Entretanto, há uma ânsia por alternativas, um desejo de não regredirmos depois da coragem popular de eleger Lula. Uma imensa vontade de não deixar a esperança morrer. O povo esteve à altura da crise do momento, os dirigentes parecem não estar.
Entrevista:O Estado inteligente
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