Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, agosto 19, 2005

“Sai daí, Tonho, sai daí” Por Reinaldo Azevedo

PRIMEIRA LEITURA

Ministro Antonio Palocci, parodiando o reformador de ministérios e petismos Roberto Jefferson, atrevo-me a dizer: "Sai daí, Tonho, sai daí antes de tornar ré uma economia que nada tem de inocente, mas que, ao menos, serve de esbirro para Lula chegar ao fim do mandato".

O senhor sabe muito bem, ministro, que a tal estabilidade, hoje, já não depende de um homem; antes é um homem que depende da estabilidade. A única saída do presidente Lula é reforçar os aspectos, digamos, conservadores da macroeconomia. E Murilo Portugal pode fazer isso muito bem. O senhor deveria sair mesmo se inocente.

O ministro conhece muito bem a dinâmica desses casos. Até porque, o senhor há de convir que, desde quando, deputado que era, fazia gestos obscenos para ridicularizar o salário mínimo no governo FHC, foi o petismo que treinou agentes da sociedade para acusar primeiro e provar depois. Como bem reconheceu o deputado Paulo Delgado (PT-SP) no programa Roda Viva, o PT nunca abriu mão dessa prática política. E agora ela pune o petismo como a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar.

Não estou endossando os métodos, não, ministro. Estou apenas fazendo um pouco de história. Assim, resta-me concluir que sua nota criticando o Ministério Público é inócua. Vocês, petistas, criaram mais do que um desvio: criaram um método. Também no que diz respeito às denúncias. O senhor sabe muito bem, ministro Palocci, que a dita estabilidade alcançada, mesmo esta que está aí, medíocre e com prazo, já não depende mais de sua ação pessoal, mas de um conjunto de medidas em curso e do triunfo de algumas teses.

O sistema político, ministro, tem sido muito tolerante com o senhor. Jefferson diz ter advertido Lula do mensalão. Todo mundo acreditou. Diz ter advertido Dirceu. Todo mundo acreditou. Diz tê-lo advertido. Todo mundo fez que não ouviu. Tratava-se e trata ainda, ministro, de tentar preservar a economia da crise. Mas tudo tem um limite.

É preciso reconhecer que, nesta crise, até agora, a verdade costuma ser sempre mais grave do que a denúncia. Veja a realidade à nossa volta, ministro. As primeiras denúncias de Jefferson, perto do que temos, estão ainda mais próximas do convento do que do lupanar.

Ademais, releve as circunstâncias. O presidente do PT, Tarso Genro, está especulando contra o modelo. O próprio presidente Lula recebe em palácio a esquerda que está pedindo mudanças na política econômica. O senhor sabe que, hoje, é muito tarde e muito cedo para mudar. Tarde porque vocês já foram longe demais. Cedo porque, sem um novo eixo de poder, não há mudança possível. Assim, caro ministro, a Fazenda é o único pilar, hoje mais para esbirro, que sustenta Lula no poder. É esta incerteza que leva à especulação. É a certeza de que as investigações não vão parar que deixa todo mundo inseguro.

Assim, que as investigações prossigam, sem, no entanto, alterar o curso da economia. Se Murilo Portugal assumir, o sinal está dado. Peço ainda que considere o que se deu com o seu ex-colega de Ministério José Dirceu. Tivesse feito a coisa certa quando estourou o caso Waldomiro Diniz, talvez vivêssemos hoje outra realidade.

Ministro, "sai daí", para que as escolhas que o senhor fez possam continuar aí.

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