A renúncia do deputado Valdemar Costa Neto, presidente do PL, antecipando-se aos parlamentares que têm idênticos motivos para fazer o mesmo, a fim de fugir da cassação que os impediria de disputar o próximo pleito, acaba de vez com a empulhadora confusão que o PT quis criar entre mensalão e caixa 2. A distinção, no fundo, é bizantina: o essencial é que o partido do presidente Lula comprava políticos por atacado para que fizessem o que conviesse ao Planalto. O destino que os subornados deram ao dinheiro – pagar dívidas de campanha, guardá-lo para financiar a seguinte, depositá-lo em paraísos fiscais ou usá-lo para acender charutos – é absolutamente irrelevante. No mínimo R$ 10,8 milhões foram parar nas mãos do chefe da legenda cujo presidente de honra é o vice José Alencar. Costa Neto teve a gentileza de avisá-lo no sábado da decisão da renúncia. Ao que se diz, Alencar ficou perplexo. Diz-se também que ele comentou com amigos: "A coisa está ruim. Está tudo esquisito. Até a vaca está estranhando o bezerro." A rigor, apenas a primeira das três afirmações é incontestável. A situação não é esquisita nem estranha: é acachapante. O esquema de corrupção organizado pela cúpula do PT excede qualquer coisa do gênero já vista na história nacional. Com uma agravante: do PL e partidos do gênero não se esperava outra coisa; do PT esperava-se que, no governo, acabaria "com tudo isso que está aí". Hoje vemos que em matéria de corrupção o que "estava aí" era um bando de amadores perto do PT. Não só pela dinheirama envolvida – que membros da CPI dos Correios asseguram estar longe de se limitar aos R$ 55,8 milhões declarados pela funcionária Simone Vasconcelos, da SMPB de Marcos Valério, à Polícia Federal. Nem só pela soberba com que se comportaram os condutores da megamaracutaia, incapazes de imaginar, por exemplo, que o flagrante de um jabaculê de meros R$ 3 mil a um funcionário de terceiro escalão de uma estatal poderia implodir o seu negócio. O que distingue o PT daqueles a quem superou é o despudor de sustentar até a 25ª hora a farsa da sua imagem imaculada, enquanto o seu líder máximo quer fazer crer que nenhum brasileiro é mais honesto do que ele Além disso, e com a provável anuência de Lula, a tropa de choque do partido no Congresso ainda insiste no que a cada dia mais se parece com uma tentativa de conseguir a quadratura do círculo: impedir que as investigações da CPI dos Correios cheguem às últimas conseqüências. Essas manobras contrastam com a convicção dos principais responsáveis pelo inquérito de que não há a menor condição de travar o seu percurso antes do ponto final. O presidente, pelo menos antes do depoimento do ex-ministro José Dirceu ao Conselho de Ética da Câmara, continuava a pisar nas palavras, distraído. Pouco depois da renúncia do político com quem Dirceu e o então tesoureiro petista Delúbio Soares negociaram a adesão do PL a sua candidatura, Lula disse que não irá "negociar com o capeta" pela reeleição. Numa audiência a aposentados, declarou – aparentemente sem se dar conta do tamanho da autocrítica – que não será candidato em 2006, se for para fazer "um governo igual ou pior" do que este. Praticamente reduziu as malfeitorias da recém-removida direção petista a um problema contábil, ao comentar que "Delúbio enterrou o PT", por fazê-lo assumir dívidas de R$ 65 milhões. E tornou a falar mal do ex-presidente Fernando Henrique – uma obsessão merecedora de uma psicoterapia. Lula está claramente confiante em que, aconteça o que acontecer com os seus companheiros – a renúncia de cinco dos quais era dada ontem como iminente – e com os deputados da base aliada, onde se esperam renúncias e cassações em números inéditos, nada o atingirá. "Podem vasculhar que não chegam ao meu governo", afirmou aos aposentados, para completar, mais preciso, "não chegam a mim". É de desejar que, nesse ponto ao menos, ele saiba o que está dizendo. No entanto, o que aparentemente ele não consegue assimilar é a questão das limitações da tática que adotou de confrontar a crise não se concentrando em fazer um governo melhor, mas falando sem parar. A sua oratória ainda ressoa na base da pirâmide social, mas a sua autoridade se esfarinha. Para quem não era tido como líder pelos políticos não-petistas nem no auge de sua popularidade, o definhamento da figura presidencial é um mau presságio.
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quarta-feira, agosto 03, 2005
Editorial de O Estado de S Paulo A primeira renúncia
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