primeira leitura |
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Começo a escrever este texto pouco antes das 19h. Até agora, e duvido que vá mudar o tom, a síntese do depoimento de Marcos Valério está na intervenção do senador Wellington Salgado (PMDB-MG). Segundo o preclaro, o que está em curso hoje repete "o mesmo que aconteceu em 1998", referindo-se ao uso de caixa dois na campanha do tucano Eduardo Azeredo. Até agora, a maior parte da sessão foi ocupada para debater caixa dois de campanha. Reiterando sempre que não pretendia defender o PT, o senador Wellington, inocente como as flores, resolveu, no fim das contas, que a responsabilidade pelo que está em curso é, ora vejam!, dos tucanos. É uma piada grotesca. Piada com a qual os tucanos, até agora ao menos, têm colaborado, na medida que não se vê uma intervenção organizada das oposições para denunciar uma impostura. Se o caixa dois é crime, e é, a ele se agrega o valerioduto, que, está claro, vai muito além do uso de verbas de campanha não registradas. Quando menos porque a maior parte do dinheiro foi movimentada em período não eleitoral. Mais ainda: mesmo que todos os recursos fossem destinados ao pagamento de dívidas de campanha, é preciso conhecer a sua origem. Alguém aí acredita que bancos emprestariam mais de R$ 50 milhões sem garantias explícitas de pagamento? Quais eram os fundos que pagariam o empréstimo. Mais: ainda que se tivessem efetivado os empréstimos, o PT pretendia pagá-los como? Mas Marcos Valério está conseguindo, com a ajuda malandra dos petistas e de pessoas "desinteressadas" como senador Salgado, discutir apenas caixa dois. É um espetáculo de hipocrisia, de um lado, e de, perdoem-me, incompetência, do outro. As oposições se prepararam minimamente para este depoimento? Não parece. Valério está ali sentado, já elegeu seus inimigos pessoais — Duda Mendonça e José Dirceu (e não sabemos por quê...) — e está interessado, aí, sim, em melar todo o jogo. Não medi, mas, do começo do depoimento até pouco mais das 19h, debateu-se o empréstimo ao PSDB a maior parte do tempo. Assim, tem-se uma CPI do Mensalão — ou da compra de votos —, e só se fala de caixa dois de campanha, crime que o PT já admitiu ter cometido, desde, é claro, que possa dividir esse pecado com o PSDB, seu principal adversário. Trata-se de uma farsa, de uma pantomima, de uma mistificação grotesca. Mas a falta de coordenação política das oposições ajuda muito na construção da mentira. O que há de articulação política na CPI dos Correios falta na do Mensalão, que caminha de forma absolutamente desordenada. O país está diante do maior sistema de corrupção jamais montado, do qual não escapou uma miserável área do Estado. Ministros, e não apenas deputados, foram flagrados na contabilidade de Marcos Valério, e eles estão lá discutindo o "modelo de 1998". Mais: Valério mesmo diz que os supostos R$ 9 milhões emprestados ao PSDB não foram pagos depois. Pior: os tucanos perderam a eleição em Minas. Hoje em dia, estamos falando, obviamente, de coisas muito diferentes. Escolham uma miserável área da administração que tenha escapado aos tentáculos da "firma". Valério é das pessoas mais espertas que já sentaram naquela cadeira desde que as CPIs se tornaram mais ou menos populares, do governo Collor para cá. Expressa, já escrevi isso e reitero, uma essência arrogante, sempre subserviente nos modos e nas palavras, mas sem esconder que domina um sistema ignorado por todos os seus interlocutores. O resultado é surrealista. As empresas de Valério contraíram empréstimos, que entraram no caixa, e a sua saída, vejam só, era informal. Nem mesmo um recibo existia. Tudo caixa dois de uma campanha que não existia, com garantias oferecidas em bens — no caso do PT — que também não existiam, a serem pagos por uma fonte, o partido, que não gera recursos próprios para fazer frente ao passivo contraído. É claro que Valério, Delúbio e companhia sabem que ninguém acredita nisso. Mas a síntese não lhe é devidamente apresentada ao menos para desmascará-lo. Acreditem, leitores: pior do que o pizzão será se esse caso terminar numa grande, numa monumental confusão. Por falta de clareza não dos investigados, mas dos investigadores. Publicado em 9 de agosto de 2005. |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, agosto 09, 2005
Depoimento patético Por Reinaldo Azevedo
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Um comentário:
Duda Mendonça mentiu descaradamente ao mencionar que abriu a conta no exterior apenas para receber a comissa do PT. Como todos no Brasil são mal informados, esqueceram-se que Dua Mendonça foi assessor de imagem dos Presidentes Menen e Duhalde, da Argentina, e, ademais, do atual Governador do Estado de Córdoba, também na Argentina, Manuel La Sota. Serà que lhe pagaram em reais? No Brasil?
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