JB
O PT não conhecerá a paz enquanto impedir que se conceda a Celso Daniel o descanso eterno, adiado desde seu assassinato em janeiro de 2002. O PT sofrerá a insônia dos aflitos enquanto evitar o esclarecimento da trama que levou à execução do prefeito.
Por cumplicidade ou omissão, Altos Companheiros se tornaram carrascos também - e estenderam ao partido a maldição de Santo André. O barulho da festa da vitória de Lula tornou inaudíveis, por algum tempo, os ruídos no sótão. Os fantasmas logo voltaram a mover-se. E nunca pareceram tão agressivos quanto agora.
Eles desmataram o caminho que conduziu à descoberta medonha: o dinheiro sujo de Marcos Valério pagou os honorários do advogado contratado pelo PT, em setembro de 2002, para sepultar o caso. O escolhido para a missão foi Aristides Junqueira, ex-procurador-geral da República. Preço do trabalho: R$ 545.000. Mais de meio milhão. O PT não achou caro. O homem da mala já se infiltrara no barco da esperança.
Caberia a Junqueira: ''atuar em medidas judiciais e extrajudiciais necessárias para proteger a boa imagem do partido, em face das ações do Ministério Público de São Paulo, relativamente à comarca de Santo André''.
Partido preocupado com a imagem contrata publicitário. Advogado é coisa de quem se mete em ações criminosas. Celso Daniel já não precisava de defensores. De quais ameaças e culpas o PT planejava proteger-se?
Entrevistado há dias pela revista Veja, o jurista Hélio Bicudo, petista histórico, jogou luzes sobre o estranho comportamento de dirigentes do partido. ''Houve uma intervenção do PT logo depois do crime'', revelou Bicudo.
''A direção queria caracterizar o assassinato como crime comum, do que eu discordo'', disse. ''O que houve foi a eliminação do Celso, ou porque ele não concordava com a corrupção ou porque quis interromper o processo num determinado ponto''. Na semana passada, a Polícia Civil de São Paulo foi instruída para juntar-se aos promotores que nunca cessaram de investigar a história.
O doleiro Toninho da Barcelona se dispôs a revelar detalhes do crime em troca da redução da pena que cumpre. Na quinta-feira, a CPI dos Bingos entrou no caso: decidiu ouvir o que tem a dizer o médico João Francisco Daniel. O irmão do prefeito nunca aceitou a versão do crime comum. Garante ter ouvido de Celso que fora montada em Santo André uma operação destinada a desviar dinheiro para campanhas do PT.
João Francisco afirma que o esquema foi monitorado por José Dirceu. O ex-ministro prometeu processar o acusador. O sonho de João Francisco é a acareação com o homem devolvido à planície.
O PT enfrenta a 25ª hora. A maldição segue seu curso.
Curioso desde o berço, o Cabôco também é um detalhista compulsivo. (Aos 8 anos, ficou famoso entre os colegas de escola por decorar tanto teoremas quanto as medidas da professora.) Na semana passada, enquanto examinava as novidades que vão ampliando o tamanho do Pântano do Planalto, quis saber que fim levou o Land Roover de Sílvio Pereira. O presentaço de R$ 80.000 foi devolvido aos doadores ou entregue ao Fome Zero?
Lula não vê a nuvem
As nuvens que escureceram Brasília na tarde de segunda-feira resumiram os pesadelos de agosto. O céu crepuscular evocava a paralisia dos três Poderes, a barafunda nas CPIs e um governo sem norte. Mas o presidente Lula não viu a nuvem.
Estava no velório de Miguel Arraes em Pernambuco. A tristeza deixou seu rosto quando saiu de perto do caixão. Logo ressurgiu o Lula feliz com o próprio desempenho e "muito machucado" com traidores. "A culpa é de certos companheiros", reincidiu.
Respondeu pelo país o mestrede- obras Jackson Ignácio da Silva, 51 anos, um dos 15 irmãos de Lula. "Uma namorada pode me trair um mês, mas não o tempo todo", disse à Folha de S.Paulo. "Falar que ele não sabia de nada é muita ingenuidade".
Tese de Sayad leva o prêmio
O ex-ministro João Sayad sustentou, em artigo recente, que a verdade é incompatível com a democracia. Deve estar querendo emprego no Planalto. Até agora, levou só a taça da semana graças a um intrigante parágrafo:
''Mesmo que não exista a verdade, existem vários tipos de mentira. Mentira é a expressão distorcida da convicção de verdade de quem fala.''
Falta juízo ao Parlamento
Na CPI dos Correios, o senador Delcídio Amaral e o deputado ACM Neto trocam chistes sobre a disputa em curso na internet: qual deles ficará com a faixa de favorito dos gays? Na CPI do Mensalão, o relator Ibrahim Abi-Ackel pinça velharias no dicionário dos eruditos. ''Vossa Senhoria sentiu-se ilaqueado na sua boa-fé?'', perguntou a um depoente. (Abi-Ackel acha o verbo ''ilaquear'' mais bonito que ''iludir''). A CPI dos Bingos busca seu rumo.
Em países sérios, haveria uma única e abrangente CPI da Corrupção, com sub-relatorias incumbidas de apurar as diferentes questões. Tantas CPIs ao mesmo tempo podem acabar em nada. Nessa hipótese, a vingança popular virá com as eleições de 2006.
À espera do que não virá
A devassa no lamaçal espantou das manchetes dos jornais (e mesmo das páginas internas) os horrores decorrentes da greve dos funcionários da Previdência Social. A paralisação durou mais de 70 dias. Nesse período, o Brasil ampliou o repertório de brutalidades impostas aos humilhados e ofendidos. Milhões de velhos sem dinheiro nem horizonte, deficientes físicos, portadores de todas as doenças esperaram horas, enfileirados, pelo atendimento que não viria.
O JB informou que, dos R$ 136,4 milhões liberados para a Previdência Social pelo Orçamento de 2005, foram gastos só R$ 392,9 mil. Menos de 0,5%. O país está cada vez mais cafajeste.
Coleira diplomática
A embaixadora do Brasil em Moçambique , Leda Lúcia Martins Camargo, vive contemplando seu chihuahua com derramadas demonstrações de afeto. O cão é o melhor amigo de Leda Lúcia, com quem divide até a cama. Bonito, isso.
"Ele foi criado por minha mãe", explica a diplomata. "Sempre estamos juntos, em qualquer lugar". Graças a esse costume, a dupla virou manchete do Zambeze, o principal jornal de Maputo. A notícia no alto da primeira página eterniza a performance da embaixadora num shopping vedado a cachorros, mesmo com coleiras diplomáticas.
Na terceira semana de julho, Leda Lúcia e o pequeno companheiro passeavam pelo Shoprite. Dois agentes de segurança a abordaram, para reiterar a proibição anunciada em placas nas portas. "Não há razões para esse absurdo", indignou-se a diplomata. Meu cachorro é muito mais limpo que Maputo e todos os moçambicanos".
O chihuahua nem latiu. Falou em seu nome, aos gritos, a irada embaixadora . A t é abandonar o campo de batalha, berrou insultos e impropérios. Recolhida ao lar, surpreendeu- se ao ser localizada por um repórter do Za mbeze. Confirmou o incidente, mas jurou inocência.
"A embaixadora alega que os seguranças queriam pontapear o seu cachorro", informa a reportagem (que omite gentilmente o nome do animal). A fantasia foi implodida por testemunhas e um abaixo-assinado dos funcionários da embaixada. Vítimas do mauhumor e das grosserias de Leda Lúcia, eles querem apenas ser tratados como o cachorro.
Como se trata uma cafetina
Ainda bem que crimes contra o idioma não dão cadeia: se dessem, o Congresso lembraria um deserto. Nove em dez parlamentares agridem com fúria e freqüência a gramática e a ortografia. A TV tem exibido ao vivo a procissão de punguistas de esses e erres, atropeladores de acentos e a turma que, como notou Millôr Fernandes, parece achar que a regência foi abolida pela República.
Mas todos aprendem na escolinha da CPI o uso de pronomes de tratamento que já tinham cabelos brancos no tempo de D. João VI. ''Vossa Excelência'' é reservado a senadores e deputados. Os depoentes são ''Vossa Senhoria''. Assim será chamada a testemunha Geane Mary Corner. Merece: é uma senhora cafetina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário