Entrevista:O Estado inteligente

sábado, junho 02, 2007

Luz para Todos virou Dinheiro para Alguns

Esse programa é um choque

Suspeitas de fraudes e incompetência roubam o brilho
do Luz para Todos, que prometia tirar o campo do escuro


José Edward e Leonardo Coutinho

Roberto Setton
Problema técnico: na casa da família Ferreira, no norte de Minas, a luz só chegou até a porta. Dentro, eles ainda usam candeeiros

O Luz para Todos – versão em alta voltagem do Luz no Campo do governo FHC – foi um dos carros-chefe da campanha à reeleicão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lançado em 2004, o programa surgiu com uma meta ambiciosa: tirar da escuridão 12 milhões de brasileiros que vivem no campo e não têm acesso a energia elétrica. Há duas semanas, a Operação Navalha, desencadeada pela Polícia Federal, mostrou o lado sombrio do programa. O ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau demitiu-se por causa da denúncia de que teria acobertado fraudes em obras do Luz para Todos encomendadas pela Companhia Energética do Piauí (Cepisa) à empreiteira Gautama – aquela gatunagem de Zuleido Veras. A Polícia Federal acusa Rondeau de ter recebido uma propina de 100.000 reais em troca do favor. O coordenador nacional do Luz para Todos, José Ribamar Santana, acusado de ser conivente com essas irregularidades, também caiu.

Tal como o ministro Rondeau, Santana é maranhense e devia seu cargo ao apadrinhamento do senador José Sarney. Rondeau e Santana nomearam Luiz Adriel Neto, outro membro do grupo de Sarney, para a coordenação do Luz para Todos no Maranhão. O dado curioso é que, meses antes de assumir esse posto, Adriel Neto e toda a diretoria da Cepisa haviam sido demitidos pela antecessora de Rondeau, a atual ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Motivo: má gestão e desvio de dinheiro. Com esse histórico, não é surpresa que, também no Maranhão, o programa esteja submerso em denúncias. Controlada pelo UBS Pactual e pela GP Investimentos, a Companhia Energética do Maranhão (Cemar) é suspeita de lançar mão de notas frias para comprovar que encaminhara ao Luz para Todos os recursos dados pelo governo.

José Cruz/ABR
Problema ético: suspeita de propina derrubou Rondeau


O programa federal se tornou objeto de cobiça porque dispõe de muito dinheiro e pouca fiscalização. Até 2008, o governo deve destinar 9 bilhões de reais ao Luz para Todos. Três bilhões e trezentos mil reais já foram liberados. Com esse dinheiro, deveria ter sido feito 1,2 milhão de ligações. Mas ninguém sabe se elas de fato foram realizadas. No município de São Francisco, no norte de Minas Gerais, por exemplo, a energia só chegou até a porta da casa da família de João dos Santos Ferreira. Dentro, a luz ainda é de candeeiros. Um dos objetivos do Luz para Todos era propiciar que as populações rurais usassem a eletricidade para estabelecer pequenos negócios e, desse modo, aumentar sua renda. As empresas elétricas, no entanto, vêm instalando transformadores suficientes apenas para ligar lâmpadas e eletrodomésticos. Em certas localidades, as casas receberam painéis de energia solar com capacidade para acender uma TV durante poucas horas por dia e três lâmpadas, no máximo. Geladeira e chuveiro elétrico, nem pensar. O Luz para Todos é um choque – de realidade.

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