Entrevista:O Estado inteligente

domingo, junho 03, 2007

AUGUSTO NUNES SETE DIAS

O pior amigo de Lula

Já com o colo ocupado por um bagre do Rio Madeira e a cabeça tomada pelos chiados da Operação Navalha, o presidente Lula tentou evitar que lhe caísse sobre os ombros uma rede de rádio e televisão esfrangalhada por Hugo Chávez. Com o atrevimento dos autoritários uterinos, o chefe da revolução bolivariana negou-se a renovar a concessão para o funcionamento da RCTV, única emissora de alcance nacional que ainda ousava criticá-lo. O que tinha Lula a dizer sobre essa ultrajante agressão à liberdade de opinião e à democracia?

Recife/AFP

Em novembro, durante a campanha eleitoral na Venezuela, o presidente brasileiro subiu ao palanque de Chávez para pedir à platéia, num portunhol de sertão, que mantivesse o amigo no poder. Na terça-feira, Lula informou que não tem o direito de comentar o que vem fazendo ou deixa de fazer a figura cuja permanência no poder recomendou enfaticamente aos hermanos. "O que tenho a ver com a concessão da Venezuela para uma TV?", desconversou, em tom irritado e mau português, à saída de uma cerimônia no Itamaraty.

"Da mesma forma que eu não quero que eles dêem palpite nas coisas que eu fizer aqui, eu não quero falar dos assuntos deles", impacientou-se. A releitura da frase informa que Lula tem muita admiração por Lula: a cada oito palavras aparece um "eu". E muito apreço por Chávez.

O aparente elogio do princípio da autodeterminação dos povos apenas camufla a reafirmação da amizade. Como seria demais aplaudir uma medida qualificada de "intolerável" pelo ex-presidente José Sarney, Lula optou por endossar a arbitrariedade com o distanciamento cúmplice.

Absorvido pelos preparativos para outra viagem internacional, o presidente esqueceu de combinar a mudança de rota com os aliados da terra. Na quarta-feira, enquanto o Aerolula sobrevoava paragens européias, o Senado pediu a Chávez, formalmente, que permitisse à RCTV seguir vivendo.

"É mais fácil o Brasil voltar a ser colônia de Portugal", debochou na quinta-feira o pior amigo de Lula. "O Senado brasileiro é dominado por partidos de direita e age como papagaio do Congresso dos Estados Unidos". Os ecos do estrondo acordaram em Londres o Primeiro Viajante, que enfim se curvou às evidências. A Venezuela de Chávez fica logo ali. Ultimamente, vive por aqui.

Lula partiu para a frente de batalha com a agilidade de marine americano: solidarizou-se por escrito com o Congresso insultado e prometeu providências. Em combate, exibiu o ânimo beligerante de um guarda do Vaticano. Na manobra mais agressiva, determinou ao Itamaraty que cobrasse do embaixador venezuelano "explicações convincentes" para a briga comprada por Chávez. A briga com o Senado, claro.

De novo por omissão, o presidente avalizou a guerra de extermínio movida por Chávez a quem se recusa a prestar-lhe vassalagem. Se um dia Lula acordar, não haverá na Venezuela nenhuma emissora de TV disposta a noticiar que a democracia brasileira enfim chegou à idade adulta.



Cabôco Perguntadô

Em maio do ano passado, quando a onda terrorista promovida pelo PCC abriu em São Paulo a estação do pesadelo, o Planalto debitou todas as culpas na conta do governador Cláudio Lembo. Por que não pedira socorro à Força Nacional de Segurança?, cobrou o presidente Lula.

Foi o que fez o governador Sérgio Cabral horas depois da posse. O balanço da guerra do Rio informa que as coisas só pioraram. O Cabôco pergunta: o que espera o governo federal para pedir desculpas públicas a Lembo?

Iguais, mas diferentes

Alan Teixeira da Cunha reivindicou uma vaga na cota reservada a negros pela Universidade de Brasília. O pedido foi aprovado pela comissão encarregada de examiná-los. A mesma comissão rejeitou a solicitação encaminhada por Alex Teixeira da Cunha, gêmeo univitelino de Alex. Confundidos até por parentes, não escaparam à tecnologia lambe-lambe da UnB. Depois de examinar a fotografia de cada um, a comissão decidiu que só Alan é negro. Alex é branco.

Isto é o Brasil.


Um tio assim é melhor que mãe

Depois de ouvir a gravação da conversa telefônica grampeada pela Polícia Federal durante a Operação Navalha, o governador Jackson Lago reconheceu a voz de um sobrinho incrustado na máquina administrativa do Maranhão. "Se ele errou, deve ser punido", concedeu.

O Brasil ficaria menos cínico se o tio fosse menos bondoso com o menino. O jovem pilantra continua a freqüentar o palácio. E reuniões domésticas que decidem, além de questões familiares, a melhor porcentagem.


Entre o céu e o inferno

Os sons emitidos por rádios piratas que, na terça-feira, substituíram por seis minutos as comunicações entre salas de controle dos aeroportos de São Paulo e aviões perdidos nos céus causaram estranhas reações a bordo. Alguns passageiros confundiram o berreiro de pregadores evangélicos com o início dos procedimentos para o desembarque no Além. Outros, surpreendidos pela cantoria de Fábio Júnior, acharam que não haviam conseguido a nota mínima no Dia do Juízo Final.



Yolhesman Crisbelles

O campeão da semana é o o tenente-coronel Wilquerson Sandes, comandante da Polícia Militar de Rondonópolis (MT), pela explicação oferecida para o desastroso balanço - um morto e nove feridos - da operação anti-seqüestro da história simulada com balas de verdade.

É que a polícia está treinada para dialogar, não para dar tiros.

Errou: no Brasil, a polícia primeiro atira e depois pergunta. Sandes foi afastado do cargo. Mais tarde será convidado a explicar-se melhor.

03/ 06 / 2007

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