PARIS - Talvez chegue ao Brasil, talvez não, mas, como fiquei com mil perguntas na cabeça e nenhuma resposta, transfiro minhas inquietações ao leitor a propósito da decisão da Prefeitura de Milão de distribuir um "kit" para detectar o uso de drogas a pais de jovens entre 13 e 16 anos de idade.
Serão inicialmente 4.000 pais a serem alcançados, mas o objetivo é cobrir toda a cidade com os "kits", que permitem teste instantâneo da urina para saber se o/a garoto/a usa ou não drogas.
Imagino que essa dúvida esteja na cabeça de 11 de cada 10 pais/ mães hoje em dia. Eu não tenho mais filhos nessa faixa etária, mas os netos estão nela, o que dá na mesma (ou pior, porque netos parecem mais indefesos do que os filhos eram na mesma idade).
Primeira dúvida: é correto os pais fiscalizarem os filhos dessa maneira? No site do jornal espanhol "El País", que publicou ontem a notícia, uma das reações de leitor a ela foi contundente: "Fazer essa prova é reconhecer o fracasso como pai e educador".
À primeira vista, parece uma reação sensata. Mas é possível ao pai/ mãe educar os filhos de tal maneira que eles não se sintam tentados pelas drogas em um mundo em que o papel dos pais sofre avassaladora concorrência de outros "educadores/deseducadores"?
Mas a dúvida principal é de outra natureza: imagino que, para fazer o teste, seja indispensável a concordância do jovem, já que não parece cientificamente viável "roubar" urina para fazer o exame à revelia.
Se é para pedir autorização para o teste, não seria melhor perguntar ao menino/menina se ele/ela está usando drogas?
A menos que se tenha chegado a um ponto em que esse tipo de diálogo esteja interditado entre pais e filhos. Se for assim, tenho a impressão de que o uso de drogas acaba sendo um problema comparativamente menor, não?
crossi@uol.com.br