Entrevista:O Estado inteligente

domingo, maio 06, 2007

CLÓVIS ROSSI



Direita, volver

PARIS - É verdade que a eleição francesa de hoje tem um componente esquerda/direita forte, pelo menos no sentido que dá à clivagem o notável pensador italiano Norberto Bobbio (1909/2004). Resumindo e, por isso, talvez simplificando demais, Bobbio dizia que a esquerda se preocupa mais com a igualdade do que com a ordem, e a direita faz o inverso.
Nicolas Sarkozy, o candidato da direita, não teve medo, no debate de quarta-feira, de rejeitar o "igualitarismo", para defender o "mérito". A socialista Ségolène Royal, ao contrário, defende uma República mãe de todos.
O problema é que ela, como a grande maioria das esquerdas no mundo, não diz como financiar o "igualitarismo" em um mundo dominado pelo capitalismo financeiro, que mudou radicalmente as regras do jogo, inclusive as bases de apoio históricas da esquerda. A classe operária, quando existe, já não é referência central.
O fim do comunismo, por sua vez, eliminou dos programas de esquerda o grande diferencial com a direita, que era a estatização dos meios de produção, todos ou alguns. Está fora de questão, exceto em situações muito isoladas e periféricas, como a Venezuela de Hugo Chávez e a Bolívia de Evo Moraes. Tanto que o maior partido de esquerda da América Latina, o PT brasileiro, nem toca no assunto mesmo após quatro anos e quatro meses de governo.
Está havendo uma "direitização do mundo", como diz o colunista de "El País" José Vidal-Beneyto, em uma série de artigos.
Falta à esquerda sair dos escombros do Muro de Berlim, e "renovar seu pensamento", como pede o chefe de Redação do "Monde", Jean-Marie Colombani. Só assim, prossegue, a esquerda reencontraria "sua vocação histórica, a de encarnar o movimento, a mudança e a esperança, o otimismo sobre o futuro".

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