Entrevista:O Estado inteligente

domingo, janeiro 08, 2006

Questão de escolha Celso Ming

ESTADÃO

O ministro do Desenvolvimento, Luiz Furlan, tem olhado com desconsolo para a balança comercial, onde está registrada a exuberância das exportações.

É uma situação paradoxal. O grande feito da pasta conduzida pelo ministro Furlan está derrubando o dólar, cuja força teria de ser a razão do sucesso do exportador.

Furlan tem repetido que não faz sentido a economia brasileira operar com superávit comercial (exportações menos importações) tão alto, da ordem de US$ 45 bilhões, como o de 2005. Ele não esconde que prefere mais importações.

Outro paradoxo está no fato de que o Brasil, para todos os efeitos um país pobre e endividado, está se transformando em exportador líquido de capitais para países ricos: a formação de reservas pelo Banco Central implica aplicação desses recursos em títulos do Tesouro de países avançados, principalmente dos Estados Unidos. Mas Furlan não parece especialmente preocupado com isso. Está mais interessado em mudar o curso do dólar no câmbio interno.

Se houvesse relativo equilíbrio comercial, não haveria razões para que o real seguisse avançando em relação ao dólar. A questão está em saber como reduzir substancialmente o superávit comercial sem prejudicar o galope das exportações.

Pela Pesquisa Focus, do Banco Central, feita semanalmente entre 100 instituições financeiras, consultorias e empresas, o mercado espera para 2006 um superávit comercial de US$ 37 bilhões, apenas 17% mais baixo do que o previsto para este ano e muito acima das estimativas vigentes em dezembro de 2004 para o final de 2005. Ou seja, o ministro não encontra alívio na sua aflição e a pressão sobre o dólar deve continuar.

Na primeira semana de janeiro, o nível das reservas líquidas do País se aproximou dos US$ 55 bilhões. O comércio exterior segue despejando US$ 180 milhões (em termos líquidos) em moeda estrangeira por dia útil no câmbio interno e não há comprador para tudo isso, a não ser o Banco Central.

Se, ao longo de 2006 , o Banco Central comprar mais US$ 30 bilhões em moeda estrangeira, as reservas líquidas saltarão para US$ 85 bilhões e a situação externa do País parecerá mais sólida do que jamais foi.

Imaginem agora os exportadores o que acontecerá com a classificação da dívida brasileira nas tabelas de risco se a posição das reservas for cada vez mais reforçada. A subida será inevitável e, com ela, melhorará a percepção sobre a qualidade dos fundamentos da economia. Em outras palavras, mais dólares virão para cá para serem digeridos pelo câmbio interno.

Ah, sim! É preciso derrubar os juros para estimular o aumento da produção que, por sua vez, puxará as importações e, assim, o câmbio poderá ser mais facilmente reequilibrado.

Pois os juros começaram a cair e deverão seguir nessa rota. E, no entanto, nada garante que o dólar comece sua reação de maneira a virar o jogo no comércio exterior e no câmbio.

A maneira mais rápida de obter a virada do câmbio seria estimular importações. Se o governo autorizasse um corte ou mesmo a zeragem das alíquotas do PIS-Cofins cobrado sobre os preços dos produtos importados, seria uma injeção de estímulo na economia. O ex-ministro Delfim Netto insiste em sugestões desse tipo. Mas, só em pensar nisso, os dirigentes da Fiesp sentem engulhos: falam em invasão do produto importado, desindustrialização e sucateamento das fábricas nacionais.

Enfim, é questão de escolha. É para deixar as importações como estão? Nesse caso, o real continuará fortalecido.

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