Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, janeiro 10, 2006

Luiz Garcia Pânico, por favor

O GLOBO

Acampanha pela ressurreição do Estado da Guanabara — lembram-se dela? — foi bravamente defendida e derrotada de forma quase humilhante: simplesmente deixou de ser assunto.

Não se fala mais nisso — mas nada impede lembrar que, se a solução não era praticamente viável, os problemas que levaram alguns cariocas (e escassos fluminenses) a pensar nela permanecem intactos.

Em praticamente todos os problemas que envolvem Rio e Estado do Rio as autoridades respectivas parecem ter em comum apenas a má vontade. A falta de resultados é a norma; a lentidão parece obrigatória. Onde se joga o lixo? Como administrar de forma inteligente a questão das lagoas? E dos esgotos?

E isso sem voltar a falar no problema da saúde pública. Leva a coisa alguma a troca de acusações sobre má gestão — mas é impossível negar que a maioria das denúncias, de um lado e de outro, parece procedente.

Lagoas, esgotos, a praga das gigogas — a todo momento aparecem problemas que pedem soluções produzidas pela boa vontade, e frustradas pela permanente implicância (expressão que melhor se aplica a relações infantis) de parte a parte. Lembram-se da boa idéia de acabar com os presídios decadentes da Frei Caneca? Desapareceriam as penitenciárias em local obviamente inconveniente e seria dado forte impulso na reurbanização da parte decadente da zona central do município. Foi idéia proposta pelo município, aprovada pelo estado — e morreu na praia, como uma gigoga qualquer.

Os problemas dos depósitos de lixo ou da recuperação das lagoas enfrentam semelhantes obstáculos: como se diz em Londres, ninguém bota azeitona na empada de ninguém.

Nada disso, deve-se insistir, é argumento para que se volte a pregar a separação: essa morreu de morte morrida e teve velório de solteirão solitário.

Só não se falou, até agora, numa solução puramente administrativa: gestão comum, com participação federal ou não, para específicos problemas comuns. Obviamente, seria o caso dos depósitos do lixo municipal e da gestão da água, que nasce estadual e é consumida em grande parte pelo município. Seria necessário, quase certamente, criarem-se administrações mistas, independentes. Não me perguntem como (os juristas, querendo, arrumam solução formal, em geral polissilábica, para tudo).

O leigo oferece apenas um mote: em vez de volta ao passado, fim das confusões no presente e no futuro. Tem de ser depressa, enquanto há tempo, se ainda há, para salvar os Jogos Pan-Americanos. Nesse projeto, vital para o prestígio nacional, quase tudo está atrasado, há muito mais desacordo do que entendimento — e ninguém, em todos os escalões, mostra quaisquer sintomas do sentimento que seria natural e sensato — o pânico.

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