Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, janeiro 04, 2006

IGOR GIELOW Pega, mata e come

FOLHA
 BRASÍLIA - Um dos aspectos mais fascinantes da falta de "notícias" em Brasília, estiagem típica de períodos como o começo do ano, é a possibilidade de jogar luz em cantos obscuros da administração pública que geralmente passam ao largo do foco das CPIs, crises e assemelhados.
De repente, como esta Folha revelou ontem, a gente descobre que está em curso uma "revolução" na "área de inteligência". Coisa de louco. As informações prestadas pelo novo chefe da arapongagem, Márcio Buzanelli, são de relevância ímpar.
Descobri, por exemplo, que o novo símbolo da Abin, o carcará, é uma "ave nacionalista". Pensei nos pobres pardais. Agentes imperialistas, com certeza, já que são bichos apátridas, estão espalhados por todo canto. De cara, me solidarizo com os pardais. Todo nacionalismo é suspeito.
Outros aspectos da "revolução": cartilhas estimulando crianças a virarem alcagüetes, regras de comportamento para espiões que fazem lembrar o saudoso Maxwell Smart, da série "Agente 86". Isso sem contar a entronização do glorioso "Polyborus plancus" como símbolo e a criação de hino, bandeira etc. Coisa dos anos 70, de dar medo.
Vai mal a Abin. O antecessor de Buzanelli, Mauro Marcelo, tinha hábitos pitorescos, como posar fantasiado de Sherlock Holmes. Divulgava seus "feitos", acreditando que isso popularizaria a Abin. Caiu após falar sobre o que não devia (a CPI).
Agora temos o diretor do carcará. Que pretende exatamente a mesma coisa, dar publicidade a um trabalho que deveria mesmo era ter transparência, o que é algo bem diferente. Não por acaso, de tempos em tempos agentes e ex-agentes estão envolvidos em escândalos de todos os tipos.
Até aqui, porém, Buzanelli e Marcelo lograram apenas o mesmo sucesso: adicionaram graça ao bestiário folclórico do governo Lula. De quebra, escancaram a falta de direcionamento e o atraso de uma área que é importante para qualquer país, mesmo o Brasil. E não se trata de nacionalismo, emplumado ou não.

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