no mínimo
4.01.2006 | O Brasil está prestes a reeleger Lula. Por uma razão simples: a memória nacional é uma geléia geral. O presidente já está dizendo por aí que o caso BB/Visanet/DNA é normalíssimo: a antecipação de recursos pelo Banco do Brasil à agência DNA de Marcos Valério repete uma prática que já existia antes do governo dele. E estamos conversados. Mas, presidente, o senhor justifica o erro só porque ele também foi cometido por outros, como o caixa dois? Não, claro que Lula não justifica o erro. Mas se safa agradecido, por ter cada vez menos que enfrentar as perguntas certas.
Lula inicia 2006 como candidato fortíssimo à reeleição, porque os fatos no Brasil se desmancham no ar. O fato é que pelo menos 10 milhões de reais antecipados pela Visanet à DNA no governo Lula não pagaram serviço de publicidade algum, ou foram justificados com notas fiscais falsas. Mesma quantia que viajou pelas mãos de Valério ao banco BMG e depois foi parar na conta do PT, em datas coincidentes. O Brasil está diante do caso mais escancarado de roubo de dinheiro público pelo partido do presidente da República, que no entanto só responde sobre a ladainha de quem o traiu, quem o esfaqueou pelas costas etc etc.
Para sorte de Lula, não chegará o momento em que os brasileiros pararão de perguntar “se o presidente sabia”, e outras curiosidades sobre a vida sexual dos anjos. Seria interessante se o departamento financeiro de uma empresa desse um desfalque de 10 milhões de reais, e a diretoria da empresa, em nome dos acionistas, passasse meses perguntando candidamente ao chefe do departamento “se ele sabia” do desfalque.
O Brasil aboliu a noção de responsabilidade. Lula era o chefe de Dirceu e de Delúbio, no governo e no partido, e a autoridade máxima sobre o Banco do Brasil. Se era Luiz Gushiken o operador imediato com a diretoria do BB, em especial com o sindicalista Henrique Pizzolato, não interessa. Os detalhes da intermediação que Gushiken fazia em favor de Marcos Valério, e da construção do prestígio formidável deste com o BMG e o Banco Rural, dando ordens de pagamento milionárias por fax para sacadores diversos, e ainda o papel de Dirceu como padrinho desse reinado do publicitário mineiro dentro dos dois bancos, nada disso importa. São os homens de Lula, todos eles. Escolhidos, nomeados, investidos por Lula de responsabilidade para tocar instituições comandadas por Lula.
Os acionistas da empresa não querem saber o nome de cada funcionário envolvido no desfalque de 10 milhões no departamento financeiro. Para isto existe o chefe do departamento. Ele é o responsável. Ele tem de explicar o que aconteceu, e se não explicar, tem de entregar sua cabeça. E se ficar dizendo que “não sabia de nada”, além de ir para o olho da rua, pode acabar indo em cana.
Mas no Brasil está tudo ao contrário. Lula, que deveria ter se desculpado com o país pelo show de pilantragem comandado por seus braços direitos, esquerdos e quase todos os que escolheu para representá-lo, já está dizendo que vai exigir um pedido de desculpas a ele. E o país vai desculpá-lo. Só não desculpou Collor porque, no embalo dos “Anos rebeldes” de Gilberto Braga, botaram-no para correr mais cedo. Se fica um pouco mais, aconteceria o que acabou acontecendo no poder Judiciário: Collor inocentado por falta de provas. Talvez até elegesse o sucessor.
Lula não vai eleger o sucessor. Vai se reeleger. O Brasil inteligente vai ficar nessa cantilena de “quem traiu o presidente”, e o Brasil profundo vai ser convencido aos poucos, no caminho até a eleição, de que não havia provas contra Lula. Onde estão as digitais de Valério na maçaneta do palácio? Onde está o fiapo de barba presidencial na careca de Valério? Estão vendo? Era tudo denuncismo. O presidente foi linchado injustamente. É uma vítima da imprensa golpista.
Não, não é ficção. É uma hipótese muito provável, num país que não sabe aferir responsabilidades. Waldomiro Diniz não foi “um assessor” de José Dirceu, como se costuma classificá-lo. Foi nada menos do que o subchefe da Casa Civil! A segunda autoridade do ministério que fica dentro do Palácio do Planalto, o homem escolhido por Dirceu (e amigo dele de longa data) para negociar os milhões do Orçamento no Congresso. Além de Waldomiro, Dirceu foi também o mentor de gente como Delúbio Soares e Silvinho Pereira. Como já fartamente testemunhado por funcionários e companheiros arrependidos, todos faziam estritamente o que Dirceu mandava. Mesmo assim, o ex-deputado já estava começando a virar o jogo contra a sua cassação, saiu cantando de galo sua inocência e é defendido a toda hora, ostensiva e despudoradamente, pelo presidente Lula (“não há provas contra Dirceu”). Vai acabar canonizado.
Lula não é ladrão e o PT não é uma quadrilha. Existe, aliás, muita gente respeitável lá dentro. Lula também é um brasileiro respeitável. Mas seu projeto de poder gerou, com a cumplicidade da cúpula de seu partido, um dos maiores assaltos políticos (e financeiros) ao Estado nacional. Este é o fato pelo qual o presidente é culpado, e como tal deve responder ao país. A não ser que o país não faça questão dessa resposta.
Entrevista:O Estado inteligente
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