BRASÍLIA - Além de se considerar líder no continente, o Brasil está atuando como uma espécie de babá da Venezuela, do Uruguai, do Paraguai e agora também da Bolívia. Recebeu a incumbência dos Estados Unidos e trata de exercê-la com zelo.
Só não funciona bem com a Argentina, porque, como a gente bem sabe, argentino é fogo. Chávez é traquino e dá trabalho, mas obedece na hora certa. Já Kirchner não se submete.
Evo Morales é a mais recente novidade na lista de "esquerdistas" que assumem o poder na América do Sul, que vive de ciclos: o populista, o militar, o "democratizante" descompromissado com o rigor da economia, o neoliberal privatizante e, agora, a esquerda. Tudo sempre devidamente regado a fortes doses de corrupção e algumas palhaçadas.
Guardadas as proporções, Morales se elegeu com a expectativa de mudança que cercava Lula, manteve os trajes típicos das suas origens indígenas e desfilou por países como China e África do Sul, mas tomando o cuidado de visitar a casa do embaixador americano em La Paz.
Por enquanto, gestos. Mas Evo Morales continua sendo a grande e nova incógnita num continente muito peculiar e que já convive com Lula, Kirchner, Hugo Chávez, Tabaré Vázquez e deve eleger a socialista Michelle Bachelet no Chile no próximo domingo. Todos são populares e têm legitimidade, mas, evidentemente, preocupam os EUA, que, ato contínuo, empurram o abacaxi para o Brasil, já que Lula quer ser líder e se mostrou tão dentro dos moldes.
Hoje, Morales em Brasília. No dia 19, Chávez e Kirchner. No dia 26, Fórum Social Mundial em... Caracas. São momentos únicos para se tentar entender esse neo-esquerdismo.
No Brasil, o grande teste interno, desde Itamar e passando por FHC, é contrabalançar avanço social estruturante e populismo assistencialista. Nos demais, o risco da nova onda cucaracha é descobrir que "esquerdismo" virou sinônimo de populismo. Deste, sim, o continente está cheio.
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