Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Editorial da Folha de S Paulo

NA MESMA TOADA
O Comitê de Política Monetária (Copom) realizou a sua primeira reunião do ano sob um nível de pressão externa que não se verificava havia tempo. As críticas acerca do exagero na administração de juros altos chegaram ao domínio dos economistas ortodoxos e à Fazenda. Talvez esse ambiente hostil tenha instado os diretores do Banco Central a dar nova prova de autonomia.
Esse aspecto da psicologia de grupos poderia explicar por que, diante de sinais abundantes que indicavam a necessidade de acelerar a queda dos juros básicos, o Copom se manteve firme em sua estratégia gradualista. Baixar a Selic em 0,75 ponto percentual, tendo as reuniões do comitê sido reduzidas de 12 para 8 ao ano, é apenas adaptar o corte anterior, de meio ponto, ao novo calendário.
A recuperação da economia no último quarto de 2005, ao que permitem ver os índices já divulgados, foi bem mais modesta do que previu a autoridade monetária. A demanda está mais fraca do que o BC julgava há um mês, o que deveria ter levado a uma correção na política monetária.
O Brasil passa por um ataque especulativo com sinal invertido. Uma grande onda de entrada de capital estrangeiro tem sido favorecida pelos juros altos. A fim de tentar conter a valorização do real, o BC intervém no mercado de divisas. Para comprar os dólares, o país emite dívida nova de curto prazo em reais. E os juros altos do BC a remuneram sobejamente. Com isso, o país deixa de abater o passivo público com mais rapidez.
Um corte maior da Selic diminuiria a atração de capitais externos e baixaria o custo fiscal de intervir no câmbio. Tampouco a preocupação com o cumprimento da meta inflacionária de 2006 pode justificar a atitude de anteontem. As expectativas sobre o IPCA davam condições para que a taxa básica caísse mais.
Esperam-se argumentos convincentes para a decisão do Copom na ata a ser divulgada na semana que vem. Quem sabe o BC enxergue riscos que ninguém mais vê...

Arquivo do blog