Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Editorial da Folha de S Paulo

PARTIDO E REPARTIDO

O fim do bipartidarismo, o encerramento do ciclo militar, o malogro do Plano Cruzado e o advento do PSDB marcam o processo de descaracterização do PMDB. Nesse percurso, a federação cuja idéia unificadora era derrotar o regime de 1964 se reduziu a um aglomerado de líderes regionais. Sua linha de ação comum caiu ao mínimo denominador de negociar apoio em troca de cargo e verba.
Perto dos 22 governadores e dos 260 deputados federais que elegeu no espectro do Cruzado (1986), o PMDB hoje é bem mais modesto. Foram 74 os peemedebistas eleitos para a Câmara federal em 2002; cinco conquistaram governos estaduais. A sigla ainda teria força considerável caso atuasse como uma única máquina partidária, o que a liderança fragmentada e a indefinição ideológica e programática impedem.
Nenhum dos grupos que cobiçam o PMDB para o pleito presidencial de outubro nutre a ilusão de trazer o partido inteiro para sua base. Desejam o tempo de propaganda gratuita a que a aliança ou a candidatura própria dariam direito e, subsidiariamente, o aumento da capilaridade da campanha com arranjos regionais.
Três consórcios disputam os ativos remanescentes do PMDB. Os tucanos, qualquer que seja o candidato; o petismo governista; e o grupo do ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho, circunstancialmente abrigado na legenda de Ulysses Guimarães.
Um incipiente movimento "autonomista", liderado pelo governador gaúcho, Germano Rigotto, insinua-se como quarta força. Resta saber se, ganhando adeptos, vai se manter na raia da candidatura própria ou servir ao interesse de quem deseja derrotar Garotinho apenas para negociar a adesão a outra chapa mais à frente.
O ex-governador do Rio parece hoje favorito para vencer a prévia do partido, marcada para março. Mas nada garante que a direção da legenda respeite o resultado da consulta. Prisioneiro de seu estigma, o PMDB continuará aberto a negociações.

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