Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, janeiro 24, 2006

Clóvis Rossi - Política e tempo




Folha de S. Paulo
24/1/2006

ZURIQUE - Um dos fenômenos mo dernos mais fortes é a imensa aceleração dos tempos na política. A distância entre o céu e o inferno (ou vice-versa) para os dirigentes políticos já não se mede em décadas, mas em anos e, muitas vezes, em meses.
O caso do presidente Lula é bastante indicativo: em três ou quatro meses de crise, no ano passado, passou de aposta certa para um segundo mandato, já no primeiro turno, à incerteza até sobre a recandidatura.
Mas o Brasil e a América Latina em geral, país e região jovens e naturalmente estouvados, não são o melhor exemplo. Até na Europa, pronta e acabada, os sinais são poderosos. O exemplo mais recente é o da eleição presidencial de domingo em Portugal. Os socialistas haviam vencido o pleito legislativo em fevereiro (o mais importante no parlamentarismo). Onze meses depois, seu candidato, o histórico Mário Soares, amarga um humilhante terceiro lugar com magérrimos 14,34% dos votos.
Para quem foi presidente por dez anos, primeiro-ministro por dois anos e meio e um dos principais responsáveis por levar Portugal à integração com a Europa, é uma imensa humilhação. Ainda mais quando se sabe que, na sua tentativa anterior, Soares reelegera-se presidente com esmagadores 70% dos votos (1991).
O fato de os políticos e a própria política não estarem sendo capazes de dar respostas à aceleração do tempo contribui poderosamente para o desprestígio dela, fenômeno intenso no Brasil do presente, mas igualmente forte na Europa, do que Portugal também dá prova: o conservador Aníbal Cavaco Silva elegeu-se presidente com 2,7 milhões de votos, mas os que nem sequer compareceram às urnas foram muitíssimos mais (3,3 milhões).
Tudo somado, é inescapável concluir que tomar por consolidados os cenários eleitorais para 2006 hoje presentes é, no mínimo, correr o risco de um baita erro.

@ - crossi@uol.com.br

Arquivo do blog