Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, setembro 07, 2005

O PT na base de Severino ELIO GASPARI

o globo

As humilhações impostas aos brasileiros que depositaram esperanças no Partido dos Trabalhadores parecem não ter fim. Lula pediu ao ministro Jaques Wagner que socorra Severino Cavalcanti. Ver o PT na base severina vai além da fantasia do Kama Sutra da corrupção. É algo como imaginar os cristãos defendendo o palácio de Nero, Robespierre namorando Maria Antonieta ou o Papa Leão I convertido ao paganismo de Átila. Caso de estelionato emocional.

É verdade que os companheiros se meteram em relações promíscuas com os partidos da base aliada. Mesmo assim, Roberto Jefferson e Valdemar Costa Neto aliados eram. Severino Cavalcanti era adversário. Ele bateu o candidato petista na disputa pela presidência da Câmara. Se não representou o que a Casa tem de pior, é certo que o que há de pior na Casa preferiu ser representado por ele. O PT e o PMDB foram os dois grandes partidos que não assinaram a carta pedindo o seu afastamento temporário do cargo.

Quando Severino Cavalcanti diz que, "se quiserem me cassar, vai ser um salve-se quem puder", faz uma ameaça, quando deveria fazer promessa. Um "salve-se quem puder" é tudo com o que a patuléia sonha. Ela não tem interesse na salvação dos amigos, concessionários, portadores ou adversários de Severino Cavalcanti. Ele sugere que ao seu lado fiquem aqueles que lhe têm medo. Aninhando-se na bancada severina, o PT confirma a vinheta do chanceler Azeredo da Silveira (1974-1979): "Tem gente que atravessa a rua para escorregar na casca de banana que está na outra calçada."

Primeiro o comissariado impôs aos crentes a vergonha do acobertamento. Começando de cima para baixo, a nação petista já foi obrigada a ouvir o "nosso guia e mentor" (expressões do embaixador Celso Amorim, que ocupa a cadeira do Barão do Rio Branco) dizer que "as pessoas não pensaram direito no que estavam fazendo". "Nosso guia" se sentiu "traído". Por quem? Jamais disse, mas pode se ouvir o companheiro Delúbio dizer na CPI: "Faz parte da minha integridade não delatar ninguém." Há uma integridade siciliana nas vozes da caciquia petista. O senador Aloizio Mercadante se refere assim à obra delúbia: "Ainda que ele tenha feito isso, e acredito que foi assim, foi com a intenção de ajudar o partido."

Baixando o nível, passa-se pela justificativa que o ex-presidente da Câmara dos Deputados João Paulo Cunha deu para explicar uma patranha: "Tinham me falado que não iria aparecer nada." Achando que "não iria aparecer nada", o presidente do PT, José Genoino, atestava a natureza da relação do partido com sua banda aliada: "Queremos reafirmar que a relação com o PTB e com os demais aliados sempre foi institucional, de participação no governo, nada envolvendo dinheiro, nada envolvendo esse tipo de negócio." "Institucional" seria um bom nome para uma coleção de cuecas como a do assessor de seu irmão.

Todas essas lorotas, falsidades e esses acobertamentos podem ser atribuídos a um comissariado perplexo, incapaz de refletir com frieza diante de problemas criados na cúpula do partido. Ficar na base de apoio do atual presidente da Câmara é bem outra coisa. Trata-se de se associar à turma que precisa de Severino Cavalcanti para se salvar. Do quê? Da choldra, que um dia haverá de pegá-los, nem que seja no dia da eleição.

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