Neste quadro de disseminação da desesperança, o governo recebe como um presente a notícia de revisão para cima do crescimento esperado do PIB ao fim do ano, pois analistas, públicos e privados, revelaram um viés excessivamente pessimista ao avaliar os dados do primeiro trimestre. Este presente é imerecido não por terem faltado, às autoridades econômicas, as virtudes de competência nas escolhas-chave, a serenidade diante das críticas e a paciência para aguardar os resultados de suas ações ordenadas. Mas porque o fogo amigo tem sido poderoso e cultivado dentro do próprio governo.
Incertezas empresariais são alimentadas pela contribuição de membros prestigiados do governo no esforço para desgastar a política monetária. E a luta aberta pelo aumento dos gastos públicos é fator de maior sacrifício recessivo para manter a inflação sob controle.
Três oposições aumentam o fardo da Fazenda, agora com a ajuda menos relutante do Planejamento: os parlamentares da oposição têm usado as brechas que as oscilações dos dados e a desarticulação parlamentar permitem para desgastar o governo e sua política; os opositores do PT exigem que Lula abandone o que funciona em seu governo para fazer ruído a favor nas ruas; a privilegiada oposição intramuros, alojada em ministérios, tenta compatibilizar incompetência com ambição política dos titulares, tentando desorganizar o programa fiscal, essencial para consolidar os ganhos na inflação e no crescimento.
Engolir os erros fragorosos das projeções de balança comercial, crescimento e inflação requer, cada vez mais, caradura. Talvez por isso as sondagens conjunturais e as pesquisas de opinião, que têm maior valor qualitativo do que quantitativo, revelem um quadro de atitudes pior do que a realidade econômica. A melhora inequívoca da combinação de inflação, nível de atividade, resultados fiscais e contas externas aponta para a melhoria generalizada da saúde da economia. Mas, apesar do aumento do emprego urbano, da menor probabilidade de perda do emprego, da manutenção do poder de compra com a queda da inflação, e da maior oferta de crédito, as famílias e os responsáveis pelas empresas respondem com pessimismo aos pesquisadores sobre suas visões do futuro.
O governo pode comemorar vitória. A inflação esperada converge para a meta, em plena recuperação da atividade. O processo de queda dos juros pode ser iniciado não por pressão política, recuo, clamor salvador dos analistas, ou sabedoria de visitantes ilustres. Mas porque o Banco Central fez o que é pago para fazer: aumentou os juros, apesar da inconveniência do momento político, sustentou os juros altos durante tanto tempo quanto suas projeções indicavam ser necessário para atingir a convergência que estava a caminho, mas não havia sido alcançada. A sociedade respondeu com menor inflação e maior crescimento, hoje e no futuro.
A experiência internacional dos últimos 20 anos mostra que uma política monetária bem conduzida não desorganiza a economia, mas reforça o processo de reação da economia a choques inflacionários. Isso significa que a redução de juros não interromperá a queda da inflação, pois há um bônus extra,valioso para a capacidade de recuperação dos investimentos - futuros choques exigirão menores sacrifícios da sociedade. Bendito aprendizado, em hora em que nem mesmo dados melhores animam os sentimentos dos agentes quanto à insondável conjuntura.