Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, setembro 12, 2005

Constranger a oposição vira tática de defesa FERNANDO RODRIGUES

folh de s paulo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Erraram todos os que previram a licença ou mesmo renúncia de Severino Cavalcanti,74, diante dos inúmeros indícios sobre corrupção envolvendo o presidente da Câmara dos Deputados. O pernambucano resistirá até que apareçam provas documentais -as quais ele supõe não surgirão jamais.
Desde a semana passada, Severino costurou com cuidado a estratégia de defesa. Para tal, teve o apoio de parte significativa da bancada de seu partido, o PP, na Câmara dos Deputados, articulada pelo líder pepista, José Janene (PR).

Os severinistas sabem que a queda do presidente da Câmara abriria a porteira para outras cassações de membros do partido. A ajuda é mais por instinto de preservação coletivo do que por solidariedade ao seu mentor.

A idéia é repartir o constrangimento da situação atual com os partidos que tentam tirar Severino do cargo. O pernambucano sabe que várias siglas pretendem sair do plenário -ou não registrar presença- enquanto ele presidir as sessões da Casa. Nesse caso, haverá um impasse. Nada será votado.

O problema é vai ser apreciado nesta semana o processo de cassação de Roberto Jefferson (PTB-RJ). O plenário da Câmara poderia votar esse caso na quarta-feira. A oposição quer boicotar sob o argumento de que Severino não pode presidir a sessão, pois também é acusado de corrupção.

Ao fincar o pé e presidir a Câmara em todas as sessões, Severino pretende jogar para a oposição o ônus de atrasar o julgamento dos deputados acusados de envolvimento no esquema do "mensalão" -Jefferson encabeça uma lista com 18 nomes. Esse é o caminho que ficou acertado entre o presidente da Câmara, o líder do PP, José Janene, e mais alguns dos principais deputados da sigla, como Pedro Corrêa (PE), Pedro Henry (MT), Mário Negromonte (BA) e João Pizzolatti (SC).

Dos seus atuais 54 deputados, o PP deve ter, entre 35 e 40 totalmente fiéis a Severino -até o momento. Esse grupo foi convocado para uma reunião hoje à tarde em Brasília. O tamanho da bancada que comparecer ao encontro dará uma dimensão do apoio do presidente da Câmara. Menos de 30 será demonstração de fraqueza.

A idéia de Severino é a de atacar os que lideram a divulgação das acusações. Isso quando tiver segurança absoluta de que não haverá prova material contra si.

O presidente da Câmara acredita que só há duas provas materiais possíveis. O documento original autorizando a prorrogação de uma concessão para o restaurante do empresário Sebastião Buani dentro da Câmara e a cópia de um cheque endossado por um motorista seu, atestando o "mensalinho" pago por Buani.

No caso do documento prorrogando a concessão, acredita que nunca aparecerá o original. Até agora, só surgiu uma fotocópia. Severino continuará a sustentar a versão de que se trata de uma montagem. Sobre o cheque, tem dúvidas. A correligionários, diz não acreditar na versão de Buani. Vai esperar que o documento apareça para tocar nesse assunto com mais segurança.

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