NOVA YORK. O escândalo envolvendo o governador de Illinois, Rod Blagojevich, tomou conta da cena política americana, especialmente porque envolve indiretamente o presidente eleito, Barack Obama, cuja vaga no Senado estava sendo motivo de barganha não apenas política, mas, sobretudo, financeira.
O endosso à tese de que o governador Blagojevich deve renunciar ao cargo foi uma exigência das bases políticas de Obama, que tentou, no primeiro momento, não se envolver no caso, apenas lamentando a situação por seu estado.
Ontem, ele teve que ir mais além, pois já começa um movimento entre os republicanos para tentar ligar os casos de corrupção em Illinois — vários dos últimos governadores acabaram tendo problemas na Justiça, e o antecessor de Blagojevich está na cadeia — ao partido democrata como um todo, embora Obama não faça parte do grupo político do governador, que não o apoiou quando concorreu ao Senado em 2004, nem teve o apoio do então senador Obama quando se candidatou ao governo em 2002.
Os republicanos começam a disseminar a tese de que Obama é o fruto de uma política tradicionalmente corrupta do estado, que é considerado o mais corrupto entre todos os demais estados americanos.
No entanto, foi uma conversa recente de Obama com o líder democrata na Câmara estadual, para forçar o partido a apoiar uma lei que combate a corrupção política com mais rigor, que fez as investigações federais andarem mais rapidamente.
O governador de Illinois era contra a lei e acabou sendo derrotado com a pressão de Obama.
O que os democratas temem é que, a partir desse caso, os republicanos ganhem um tema para manter o futuro presidente sob pressão, assim como esteve durante bom tempo sob pressão o ex-presidente Bill Clinton, devido à investigação do escândalo imobiliário de Whitewater na sua cidade de Arkansas.
Embora nada tenha sido provado contra o casal Clinton, enquanto as investigações se desenrolaram sempre havia insinuações contra o então presidente.
A estratégia dos republicanos ficou clara quando, ontem, eles desafiaram Obama a confirmar no posto o procurador federal Patrick Fitzgerald, que está à frente das investigações no estado.
Um outro aspecto que pode ferir os democratas é a revelação de que Jesse Jackson Jr, deputado por Illinois, seria o “candidato no5” citado nas gravações pelo governador, de quem ele teria recebido uma oferta de US$ 500 mil pela vaga.
Filho de um dos principais líderes dos direitos civis dos negros, o reverendo Jesse Jackson, o deputado comandou a campanha de Obama no estado.
Envolvido na preparação de seu programa de governo para enfrentar uma das maiores crises econômicas já surgidas desde a Grande Depressão, Obama vê-se agora em meio a uma disputa política que deverá ser dura.
Também no Congresso os republicanos mostram que não estão dispostos a facilitar a vida do futuro presidente democrata.
Enquanto a bancada democrata na Câmara chegou a um acordo com a Casa Branca para liberar uma parte dos recursos necessários para salvar as montadoras de Detroit, os republicanos no Senado anunciam a decisão de tentar obstruir qualquer tipo de acordo, sob a alegação de que não há garantias suficientes de que as três grandes — Chrysler, Ford e GM — mudarão sua gestão para se tornarem mais produtivas e produzir carros menos poluentes.
Embora também esteja empenhado em extrair das montadoras americanas compromissos que levem a indústria a patamares mais modernos de gestão e à produção de automóveis mais econômicos e adaptados a uma política de proteção ao meio ambiente, tudo o que o presidente eleito Obama não quer é enfrentar uma onda de demissões em massa no setor automotivo.
Cada vez fica mais claro que a Petrobras é uma síntese da armadilha em que se meteu o governo do PT.
Para preservar e elevar os investimentos, que, de fato, é o que mais se precisa na economia brasileira no momento, foge de ajustar o custeio e, tendo atingido o limite da capacidade de se endividar junto aos bancos estatais, secando o rarefeito mercado de crédito, agora se prepara para entrar nas reservas internacionais do país com a criação de um “fundo soberano”, que normalmente é usado por um país para investir em outro.
A tese original, do presidente do BNDES Luciano Coutinho, era usar o fundo como fonte para financiar a internacionalização das empresas brasileiras, mas a hora e o fluxo mudaram radicalmente e ninguém vai investir no exterior, quando falta investimento dentro do país.
Quem acompanha de perto a situação da Petrobras aposta que o ministro Edison Lobão, das Minas e Energia, deu a senha do que está por vir ao acenar com a possibilidade de a empresa receber parte das reservas internacionais do país para garantir a implementação de seu cronograma de investimentos, em meio às limitações de crédito impostas pela crise global.
Para sacar das reservas, o caminho já desenhado é o do fundo soberano, cujo projeto está no Senado. O governo quer votá-lo até o final deste mês.
Para convencer a oposição, está disposto a antecipar a escolha do próximo nome a ingressar no TCU, disputa em que o democrata José Jorge é hoje franco favorito.
Entrevista:O Estado inteligente
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