O Natal e Darfur
Profissão: Repórter |
O Natal ultrapassou a sua origem de festa cristã, para expandir-se também como celebração da paz, da caridade e da solidariedade entre pessoas de diferentes credos. Esses valores sofridamente moldados por séculos de civilização se fazem tão mais necessários, evidentemente, onde há conflito, ódio e indiferença. É o caso eloqüente de Darfur, região do Sudão, o maior país da África, assolada por uma bárbara guerra civil iniciada em 2003, que até agora matou 300 000 pessoas e deslocou 2,7 milhões de indivíduos para campos de refugiados. O que está ocorrendo lá é um genocídio silencioso, cujas tintas estão longe de comover e mobilizar o mundo civilizado como deveriam. Felizmente, porém, há os abnegados que mantêm vivos, dia após dia, nos mais remotos cantos do planeta, os valores celebrados no Natal. Em Darfur, eles integram a frágil missão de paz da Organização das Nações Unidas e as dezenas de entidades humanitárias encarregadas de proporcionar um mínimo de dignidade às vítimas do conflito.
Para relatar e explicar a tragédia no Sudão, VEJA destacou o editor Diogo Schelp, um jovem de 32 anos já veterano em coberturas internacionais. A serviço da revista, ele esteve nos Emirados Árabes Unidos, em Israel, no México, Uruguai e Chile e na Colômbia, Venezuela, Argentina e Noruega. O Sudão foi o lugar mais inóspito e quente já visitado por ele. Schelp permaneceu três semanas no país e sua tarefa mais árdua não foi tanto visitar os campos de refugiados, mas vencer a burocracia do governo sudanês, em busca de um visto que lhe permitisse viajar a Darfur. "A certa altura, depois de passar os dias indo de uma entrevista a outra com burocratas e engolindo poeira nas ruas de Cartum, eu me sentia como o personagem de Jack Nicholson no filme Profissão: Repórter, esperando por algo indefinido em um hotel antigo de algum país africano", diz ele. A paciência o recompensou e também aos leitores de VEJA, brindados com a reportagem primorosa que começa na página 88.